Maria Rita traz o seu samba para Amsterdã
Texto: Clarissa Mattos
Fotos: Ron Beenen
Maria Rita se apresenta pela primeira vez em Amsterdã e faz o primeiro show do Rabozaal, nova sala de shows e eventos da capital holandesa.
Alguns minutos de atraso. Uma sala cheia respira a ansiedade típica de estréias. Aliás, uma sala cheia e nova. O Rabozaal, parceria da Melkweg com o Stadsschouwburg e o Toneelgroep Amsterdam, havia sido inaugurado na véspera, dia 20 de maio. Com capacidade para 1400 pessoas, sendo 550 sentadas, o novo espaço foi apresentado por Cor Schlosser, diretor da Melkweg. Este era o sinal de que a espera estava próxima do fim. A banda entra, os músicos tomam os seus lugares, mas ela não entra; apenas uma voz quente e límpida envolve o salão:
"Meu samba vai curar teu abandono,
O meu samba vai te acordar do sono,
Meu samba não quer ver você tão triste,
Meu samba vai curar a dor que existe,
Meu samba vai fazer ela dançar...".
Só então, uma exuberante Maria Rita entra e toma conta do palco, dando continuidade aos versos de Samba Meu de Rodrigo Bittencourt.
Leveza e Sensualidade
Mantendo o clima do último álbum Meu Samba, ela emenda com mais dois sambas: os versos de Arlindo Cruz em Tá Perdoado soam soltos e Maria do Socorro ganha uma divertida e graciosa interpretação. Por sinal, não dá para deixar de notar e comentar. A Maria Rita que vejo no palco é outra: uma mulher segura da sensualidade e mais leve. A densa postura e expressão presentes nos trabalhos anteriores passa ao largo. Apesar de dizer que não é boa com as palavras e se dizer nervosa com a estréia em Amsterdã, ela se comunica muito bem com a platéia. Enche o enorme palco do Rabozaal. Dança, brinca, faz trejeitos, charminho, tudo sempre acompanhado da inconfundível e poderosa voz. Nem precisava, mas ela deixou claro que a festa era de todos e fez o convite: quem quiser dançar, fique à vontade.
Samba e outros sucessos
Acompanhada no piano pelo também arranjador Jota Moraes, Sylvio Mazzuca no baixo, Camilo Mariano na bateria e Tuca Alves no violões, ela ainda garantiu um som brasileiríssimo trazendo o cavaquinho e bandolim de Márcio Hulk. Pra completar, a bem entrosada percussão de André Siqueira e Marcelinho Moreira.
O samba foi o fio condutor do repertório, mas outros estilos e sucessos tinham o seu lugar guardado. Ela emocionou com Encontros e Despedidas de Milton Nascimento, iluminou com o Caminho das Águas de Rodrigo Maranhão e relembrou Pagu de Rita Lee. Em A Festa, seu primeiro sucesso, Maria Rita deixou o palco e abriu espaço para os excelentes músicos.
Elegância de Bamba
Ela volta com um minivestido e, com elegância de bamba e um set list bem planejado, garantiu uma crescente empolgação e segurou o pique até o final. O bom-humor de Corpitcho e a irresistível levada do hit Cara Valente exaltaram ainda mais o seu evidente prazer de estar no palco.
Uma visivelmente emocionada Maria Rita ainda presenteou o público com um bis triplo e deixou a sua mensagem, cantando o clássico de Edson e Aluísio Não Deixe o Samba Morrer. Uma certeza: a lembrança desse show viverá por muito tempo na memória de quem estava lá.
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