Entrevista
com o autor do Livro "Zumbi, a história
do Brasil que não foi contada"
por: Adriana Fonseca
(de Assen)
Os
Brasileiros Holandeses
Já foi
lançado no Brasil o livro Zumbi
dos Palmares, A História
do Brasil que não foi Contada. Esse livro dará uma
sacudida na História oficial do país, é o que garante
esse renomado historiador e escritor da cultura afro, Dr. Eduardo
Fonseca Jr. Também
a paixão com que o escritor se refere a antiga colônia holandesa
neste país: “se os holandeses tivessem ficado, a escravidão
provavelmente teria acabado em 1700 e nós estaríamos bem
melhores agora”, comenta o historiador.
Com que base o sr. afirma
que a influência holandesa no Brasil foi
de extreama importânica para a região?
Dr. Eduardo: Eu
pesquiso há anos os arquivos
de dez países
europeus e africanos. De lá tirei fatos inovadores sobre a História
brasileira para o meu livro. Sobre a permanência holandesa de 24
anos na região nordeste, rica em cana-de-açúcar,
só tenho
elogios a fazer. Ao contrário dos portugueses que são seriamente
criticados. A forma portuguesa de colonização era baseada
na corrupção,
suborno, repressão etc. Os portugueses eram que tinham como objetivo
fazer as coisas pelas costas dos outros para enriquecerem o mais rápido
possível.
Ao contrário dos holandeses, eles não contribuíram
em nada para o desenvolvimento da região. O melhor exemplo disso é,
só em
1813, pouco antes da independência, o Brasil pode fabricar o seu
próprio
papel e imprimí-lo. Também foram os portugueses que inventaram
a guerra bacteriológica. Eles mandavam pessoas com doenças
infecciosas infiltrarem nas comunidades de negros fugitivos (quilombos),
como o de Palmares, de Zumbi.
De acordo com a sua pesquisa, qual é a História que não
nos foi contada?
Dr. Eduardo: Mesmo
que o comércio de cana-de-açúcar
entre a Holanda e o Brasil português date de 1587, a Holanda tomou
apenas posse do rico nordeste em 1630. Uma frota de 56 barcos sob o comando
de Hendrick Lonck, expulsou os portugueses da cidade portuária
de Olinda. Lá foi
estabelecida a Nova Holanda. Isso aconteceu porque a Companhia das Índias
Ocidentais queira assegurar o comércio. A arqui-inimiga Espanha
já havia
causado danos a frotas holandesas naquela região. Fonseca diz
que a curta dominância da Holanda, trouxe frutos que até hoje
são visíveis.
Isso em discordância aos livros atuais de História que descrevem
a ocupação holandesa como trágica. Isso é porque
a História foi escrita através do ponto de vista e interesse
português.
Os holandeses calvinistas são retratados como contrabandistas,
mesquinhos e desonestos. Além disso, os calvinistas teriam causado
uma reação
em cadeia contra os católicos brasileiros. Comprovado em março
deste ano por historiadores, quando o Papa “santificou” 30
dos brasileiros assassinados pelos holandeses (a maioria descedentes
de portugueses), na Praça
de São Pedro.
O sr. dedica um capítulo a Maurício de Nassau, “O Holandês
dos Olhos Verdes”, qual o motivo de tanta admiração?
Dr.
Eduardo: A
minha admiração pelo
governador Johan Maurits Van Nassau é,
realmente,evidente. Os holandeses,
sob a sua liderança,
obteram a posse de 1800 km de costa entre São Luis e Aracajú.
Nassau era um visionário. Já na chegada ele viu o potencial único
dessa terra. Como governante, Nassau era um sociológo de primeira
e tinha olho clínico para cultura e ciência. Por isso,
viajavam com ele: botânicos, pintores, médicos e astrônomos.
Ele tinha um respeito profundo pelo próximo e odiava a escravidão.
Sob seu governo, ele decretou um dia livre por semana para 2 milhões
de escravos e proibiu o castigo corporal.
Se a CIO não tivesse desistido da colônia da Capitania
de Pernambuco, a escravidão poderia ter acabado em 1700 e
não
apenas em 1888, 63 anos após a independência de Portugal.
Nassau também proibiu
o trabalho forçado para os indíos. Por essas, ele ficou
muito popular, seu regime era tolerante e todos viviam em harmonia:
brancos, negros, índios e os derivados, mulatas, mamelucos, cafuzos
e mestiços.
Havia também
a liberdade de religião, inclusive para os judeus que construíram
lá a primeira sinagoga das Américas.
O sr. poderia ilustrar mais os feitos de Maurício de Nassau?
Dr. Eduardo: Claro! Um dos maiores feitos de Nassau
foi o show de arquitetura que ele desenvolveu: ele contruiu pontes, aquadutos,
diques e esgotos e construiu também milhares casas e prédios
governamentais numa ilha na costa da atual cidade de Recife. A fauna
e flora foram, pela primera vez, documentadas. Dois trabalhos seminais
dos holandeses Dr. Marc Graav e Dr. Piso: Naturalis Brasiliae e De Medicina
Brasiliensi. Este segundo livro é sobre o poder medicinal
das plantas que os holandeses aprenderam com os índios e com
os negros fugitivos. Desta maneira, Nassau obteve a receita do Dendê (óleo
de palmeira). Ele, através do seu capitão-comandante
Jon Blaer, comprou esta fórmula em troca de armas para a resistência
negra de Zumbi. Jon Blaer em 1644 escreveu um “diário” de
suma importância
para os estudos sociológicos brasileiros e holandeses intitulado “Diário
das viagens ao Palmares do Pernambuco”. Blaer foi assassinado
pelos portugueses em 1650 durante de um armistício ou trégua,
em conversações
de paz para cessação das belicosidades entre as forças
antagônicas.
Isto é, os portugueses não respeitaram a “bandeira
branca” da
paz e o desarmamento com o qual os holandeses se apresentaram diante
do inimigo. Nassau
fez a história. Para começar,
em 7 de fevereiro de 1637 mandou
uma carta para a Holanda na qual
declarou que o Brasil era um país
diferentes de todos os demais e seu povo, um povo muito especial
e nacionalista. Assim, mandou médicos
e soldados para o Quilombo dos Palmares
de Zumbi para que aprendessem tudo
sobre a República Negra.
Então houve uma ligação muito importante
entre escravos e holandeses?
Dr.
Eduardo: No meu livro conto
que, os negros não éram
os ignorantes que os portugueses fizeram acreditar. Isso só era
usado para justificar a escravidão. O historiador declara
tal fato também é baseado
no jornal náutico holandês onde a cidade de Benin
na África
está descrita por Matheus Cornelizon. A cidade do rei
Obá é descrita
como altamente desenvolvida. Também o fato do nível
cultural dos holandeses ser muito mais alto do que o dos portugueses.
A filosofia colonial portuguesa era baseado em objetos. Os holandeses
tinham uma base melhor, eles sabiam que para conquistar riquezas,
o uso de sabedoria e conhecimento era essencial. Somente assim
poderiam obter lucro com o comércio.
Fonseca
também acrescenta que, os quilombos conseguiram resistir de 1620
até 1695 porque os holandeses os deram armas para eles, que eram seus
aliados. A crença de que os holandeses teriam ganho ouro com o tráfico
de escravos é errônea. Quem ganhou com essa prática foram
os espanhóis, portugueses, franceses.
O senhor, então, atribui esse discernimento ao desenvolvimento
cultural holandês...
Dr.
Eduardo: Com a benéfica
presença holandesa, apareceu
também, o papel da mulher na sociedade, que
na Holanda já tinha
importância. Naquela época, na Holanda,
já existia um diálogo
entre homem e mulher, o que gerava respeito mútuo
e como resultado a visão
humanística foi desenvolvida. O clima de emancipação
já pode
ser visto desde as pinturas do Século Dourado,
onde homens e mulhers podem ser vistos nas telas
bebendo juntos. Isto era impossível em Portugal!
Lugar das mulhers lá, era na cozinha.
O que mais o sr. afirma no seu livro não ter sido contado na História
que nós conhecemos?
Dr.
Eduardo: A História
Oficial não conta que a partida
dos holandeses foi um contrato entre cavalheiros.
A Coroa portuguesa concordou, em
1661, em pagar uma indenização
no valor de 68
toneladas de ouro puro. Esta é uma das
razões porque a História
brasileira está precisando de uma grande
correção. O passado
holandês tem que ser passado a limpo. Recentemente
esta história,
foi tema do enredo de uma Escola de Samba da
cidade do Rio de janeiro, “Caprichosos
de Pilares”, a qual enfocou toda a beleza
e galhardia holandesa, contidas na saga de Zumbi.
Ao mesmo tempo, lamento que o governo holandês
não
dê importância a esse pedaço
da História. Infelizmente,
Haia investe muito pouco nas atividades interculturais
de ambos os países.
Essa postura é lamentável. O nordeste
brasileiro, e, em especial Pernambuco considerada
a “jugular da cultura popular brasileira,
além
de apresentar em suas manifestações
culturais o violino holandês
lá chamado de “rabeca”, tem
um número de, pelo menos
um milhão de órfãos de olhos
verdes, descendentes de cerca de 80.000 holandeses
que lá estiveram no século
XVII dos quais, milhares lá ficaram para
sempre. Esses descendentes conhecem os seus ancestrais
mas são renegados pela História,
isso tem que mudar.
Estão tomando providências no Brasil para divulgar essa parte da
nossa História?
Dr.
Eduardo: Muito pouco, infelizmente,
mas há. A secretaria de
Cultura do Rio de Janeiro e o Governo de
Alagoas compraram vários exemplares
do livro para as escolas. Continuamos confiantes
que o Governo de Pernambuco e naturalmente
o Governo Holandês se interessem
mais por esses achados.
É verdade que querem fazer um filme baseado neste livro?
Dr.
Eduardo: É. Estou
muito feliz com isso, apesar de ainda
estar na fase de negociações.
Se tudo der certo o filme será lançado
em 2007, dando oportunidade a todas as
pessaos a ficarem à par da
nossa História que não
foi contada.
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