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Denise Parma é piaiuense, atualmente mora em Purmerend e representante da REBRA(Rede Brasileira de Escritoras) na Holanda. Gosta de livros, poesia e pintura. Escreve histórias infantis. Obra Publicada: O Desafio de Aileen, infanto-juvenil, Editora Scortecci, São Paulo,2004.


Quem explica? Freud ou Sade?

Denise Parma

"Em briga de marido e mulher não se mete a colher". O adágio popular alerta aos desavisados, àqueles que, com o intuito de ajudarem a resolver os problemas conjugais dos outros, acabam criando problemas para si mesmos. Viajando pela Baixada Maranhense, deparei-me com uma cena que só veio a reforçar a sabedoria de tal provérbio e colocar-me de sobreaviso para situações parecidas, no futuro.

Foi de manhã bem cedo, à hora do café, que o casal da casa ao lado começou a discutir. O que, em princípio, parecia uma simples discussão, tão comum à maioria dos casais, foi ganhando proporções cada vez maiores. Entre palavrões, capazes de causar arrepios no próprio demo, a mulher lançava acusações ao marido, alegando não cumprir o mesmo com suas responsabilidades de
chefe de família, e que, ao invés de trabalhar, passava o dia ocupado com seus passarinhos. O homem, por seu lado, alteradíssimo, replicava aos berros, não ficando atrás quanto  ao vocabulário empregado.
Tentei tomar meu café ignorando aqueles dois, mas não consegui; abreviei então o café e dirigi-me à sala,
torcendo que por lá o barulho dos brigões não me chegasse tão audível aos ouvidos. Estava, já, a meio caminho, quando ouvi um grito. A ajudante da casa veio quase correndo relatar a causa de tal grito: "O homem deu um tapa tão grande na mulher que ela foi parar lá no meio do quintal!" contou-me com uma cara onde medo
e preocupação misturavam-se, formando uma máscara lívida. Fiquei indignada ao ouvir tal coisa, mas não tive tempo de esboçar nenhuma reação, pois mais um grito juntava-se ao primeiro, sendo seguido por muitos outros. Não aguentando mais ouvir aquilo, decidi sair de casa.

Confesso que senti o sangue ferver ao passar em frente à casa daquele casal. Tive vontande de entrar lá, pegar o tal sujeito e aplicar-lhe uma boa sova, para fazê-lo sentir na própria pele a dor que estava causando; porém, não sendo dotada dos meios
necessários para tal proeza, tamanho, força e imprudência, prossegui meu caminho, um tanto abalada pelos acontecimentos.

Ouvir uma mulher adulta chorando por estar apanhando do marido, é chocante.  Quantas cenas como esta estariam acontecendo em todo o Brasil naquele momento? Algumas centenas? Milhares talvez? ... E no Mundo?... Centenas de milhares?...

Meditando sobre o assunto, perguntava-me qual a decisão mais certa a tomar num momento daquele. Procurar não intrometer-me, como os outros vizinhos? Ligar para a polícia? Ou deixar que a envolvida no caso o fizesse? já que a senhora em questão era uma mulher esclarecida, que conhecia seus direitos e, portanto, consciente do que lhe competia fazer diante da situação.

Algumas horas depois, ao voltar para casa, encontrei a tal vizinha a queixar-se para minha mãe, que mais indignada que eu, pedia-lhe que tomasse alguma providência, que não se submetesse a tamanha humilhação.

"Mas eu não consigo largar esse homem!" respondeu em tom choroso. Pasmada, fiquei a olhá-la, sem saber direito o que pensar diante de tal declaração. Só, então, percebi o perigo a que me teria exposto caso tentasse ajudar tal "vítima"... O caso ganhou nova dimensões aos meus olhos, e ainda estou na dúvida, se
esta senhora é mais um caso para os discípulos de Freud, ou quem sabe... é admiradora de Sade.

E pensar que era o dia 8 de março, Dia Internacional
da Mulher.

O problema da violência contra a mulher é um problema mundial, afetando todas as camadas da sociedade. Como combater tamanha praga? Onde está a causa do problema? Muito já foi discutido sobre este assunto ao longo dos anos. Embora a mulher tenha conquistado mais espaço dentro da sociedade, ainda continua sendo lesada, física e emocionalmente.

© Denise Parma 2004

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