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Denise Parma é piaiuense, atualmente mora em Purmerend e representante da REBRA(Rede Brasileira de Escritoras) na Holanda. Gosta de livros, poesia e pintura. Escreve histórias infantis. Obra Publicada: O Desafio de Aileen, infanto-juvenil, Editora Scortecci, São Paulo,2004. 

"Moeders Mooiste"

Denise Parma

"À medida que a menina foi crescendo e entrando em
idade de aprender, foi-lhe ela mesma ensinando a ler e
escrever." Bernardo Guimarães.


Maio, mês das Mães. Como forma de homenagear "de
Purmerenders moeders
" a Biblioteca Central de Purmerend organizou uma exposição intitulada "Moeders Mooiste", com roupas infantis confeccionadas por mães holandesas nos anos cinquenta e sessenta; além das roupas, há também, fotos de crianças trajando peças da época; retalhos, novelos de lã e alguns instrumentos utilizados na confecção de roupas, como agulhas de crochê, agulhas de tricô e máquinas de costura.

Dentre as peças expostas a que mais me chamou a atenção foi uma antiga máquina de costura movida a manivela. O avistar de tal máquina avivou-me a recordação da antiga máquina de costura de minha mãe, uma Singer, movida a pedal, herança de minha avó.

Filho de funcionário público não tem uma vida das mais abastadas, porém, como a maioria das mães de classe baixa, a minha tinha inúmeras quantidades de idéias para driblar as necessidades, a fim de proporcionar um certo conforto à prole. Quantas e quantas horas vi minha mãe sentada atrás daquela máquina, mesmo depois
de ter passado horas trabalhando fora de casa, a fim de incrementar nosso guarda-roupa... E, enquanto saiam de suas mãos mais uma de suas criações, ela cantarolava no ritmo da costura, e nossa casa enchia-se de sons de máquina e de candura... Quantos pensamentos misturaram-se a cada ponto? Quantas preocupações foram suspiradas a cada pedalada? E
soluções... Quantas não lhe vieram à mente depois de mais um arremate?

Mamãe não costura mais. "Não tenho mais paciência, saúde e nem necessidade", diz. A Singer aposentou-se com ela. Os filhos crescidos já dão conta das próprias necessidades, inclusive das roupas. As filhas, se não costuram não é por falta de talento (no caso de minha irmã), nem de necessidade (no meu caso), faltou-lhes paciência, sobrou-lhes a teimosia (e as consequências
dela) adolescentes de quererem trilhar sempre o caminho contrário àquele oferecido... Minha irmã e eu jamais conseguimos acompanhar, mais que uma semana, um dos cursos de Corte e Costura, nos quais minha mãe teimava em nos matricular. Não sei o que a levava a insistir... Talvez quisesse transformar o uso da velha Singer numa espécie de tradição familiar. Quem sabe ela se orgulharia se pudesse ouvir uma de nós falando com a filha: "Essa máquina era da bisavó de vocês, foi nela que a avó de vocês aprendeu a costurar, assim como a mãe e a tia de vocês... Daqui a pouco, vocês também aprenderão a costurar nela..."

Por sorte minhas sobrinhas nasceram numa época diferente da da escrava Isaura, não é necessário ser "prendada" para dar conta do recado, no mundo moderno.

No primeiro mundo, a mulherada menos abastada se vira com a Zeeman, no terceiro, com os camelôs... E, quanto a mim, se arrependimento matasse, morreria cada vez que preciso pagar para que me encurtem as calças nesta terra de gente caneluda. Mamãe bem que tentou evitar isso...

© Denise Parma 2005

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