Sonho e realidade
Denise Parma
Mês de março, mês no qual comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Neste dia são feitas homenagens às mulheres pelo mundo todo, fala-se das conquistas femininas, relatam-se histórias de sucesso, dão-se prêmios, organizam-se festas. Este é o lado bom da moeda. E quanto ao outro lado? Há o que se comemorar?
A sociedade caminha a passos largos ao encontro do futuro. Uma parte do mundo caminha com pressa, a outra se arrasta com passos moribundos ao encontro do nada. É a muralha humana onde marcham os fracos, os suportados, os olhados de banda da sociedade, incluindo-se entre eles milhares de mulheres, privadas do direito básico inerente a qualquer ser humano - o direito à dignidade e à cidadania.
Quantas mulheres podem-se afirmar conhecedoras de seus direitos hoje em dia? Talvez milhões. Quantas, no entanto, fazem valer esses direitos? Centenas, dezenas, algumas dúzias? Basta dar uma olhada nos jornais do dia para perceber a diferença gritante entre o respeito almejado e o resultado subtraído numa cultura judaico-paternalista como a nossa, por exemplo. E posso me dar por feliz de ter a liberdade de salientar isso.
Sabem aquele comercial de um banco muito popular no qual aparecia um rapaz moreno vestido de leão azul? Este rapaz é um humorista bastante conhecido ou "een bekende nederlander", como dizem por aqui. Mas não foi por seu humor, nem por seus comerciais, nem por seu talento que Howard Komproe ganhou espaço nos jornais de hoje, mas devido a agressão física feita à sua namorada nas proximidades do teatro de Purmaryn, em Purmerend. Segundo a testemunha que ligou para o 112, chamando a polícia, o humorista teria batido e chutado sua namorada que, por conta disso, sofreu ferimentos no rosto e precisou ser levada para o hospital.
Segundo o empresário do comediante, a namorada não registrou queixa na polícia por ser Howard Komproe um "bekende nederlander" (sic!) e também pelo fato de nunca ter havido agressão física entre os dois antes.
É difícil fazer um julgamento da situação e nem é este o meu intuito. Porém, uma coisa é certa: qualquer que seja o tipo de relacionamento, a partir do momento em que agressões, tanto físicas como psíquicas se fazem presentes, é hora de tomar providências. O difícil é acontecer a primeira vez, contudo, uma vez acontecido, para a segunda é apenas um passo.
O casal está novamente de bem. O ferimento no rosto da namorada cicatrizará com certeza. E quanto às feridas da alma?
Espera-se que a coitada não caia no mesmo erro de muitas outras: achar que foi apenas um incidente, até acordar depois de muitos outros incidentes, descobrindo um tanto tarde o quanto foi condizente com a situação por prescindir ao direito conquistado.
Os discursos são muitos, as discussões intermináveis, a teoria balançando o cetro no palácio da lábia. A prática, no entanto, é o que conta.