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Denise Parma
é piaiuense, atualmente mora em Purmerend e representante da REBRA(Rede Brasileira de Escritoras) na Holanda. Gosta de livros, poesia e pintura. Escreve histórias infantis. Obra Publicada: O Desafio de Aileen, infanto-juvenil, Editora Scortecci, São Paulo,2004.
 



Aparências enganam

Denise Parma

 

No final de semana passado, assisti a um programa, num dos canais de televisão daqui, sobre a vida de alguns imigrantes muçulmanos e a maneira como estes comemoravam o término do Ramadã. Segundo as ordenanças do Corão, neste período, os muçulmanos têm por obrigação que ajudar as pessoas menos favorecidas da comunidade em que vivem.

Uma das entrevistadas, uma senhora oriunda de um dos países dos balcãs, referindo-se à dificuldade do cumprimento desta ordenança aqui na Holanda, fez uma declaração a qual me chamou a atenção:

            - Não há pobres na Holanda!

Pus-me a meditar sobre estas palavras e me vi transportada de volta ao final dos anos noventa, quando cheguei às Terras-Baixas.

Como já comentei em outras ocasiões, a adaptação de um estrangeiro ao novo país, dá-se por fases. No meu caso, a primeira fase foi a do deslumbramento (acredito que o mesmo também se dá com muita gente por aí).

Voltando à época do deslumbramento...

Naquela época, eu, deslumbrada, também acreditava não existirem pobres na Holanda. Os holandeses, ou europeus, eram para mim, cultos, educados e, principalmente, ricos. Imagem esta, erroneamente transmitida pela televisão brasileira e assimilada por mim nas poucas vezes em que tive paciência para assistir novela.

Uma das maiores graças concedidas ao ser humano é a falta de controle à passagem do tempo. Se não fosse isso, eu estaria até hoje presa a esse equívoco. Passou  o tempo, passou também a fase do deslumbramento. Descobri ser a Holanda um país de aparências. As pessoas “aparentam” terem um elevado padrão de vida, devido às facilidades e prioridades, que, até certo ponto, são desfrutadas pelo cidadão comum, graças à economia e à infra-instrutura peculiares a um país de primeiro mundo. Porém, aí é que mora o perigo. O holandês pobre não se apresenta como um morador de favela, nem de uma casinha de sapê, pois isto não existe aqui. Ele não compra a crédito no comércio da esquina, já que estes há muito foram substituídos por grandes redes de supermercados. E assim por diante.

Nos últimos anos, graças ao Euro, a economia holandesa andou mal das pernas. Por conta disto, muitas empresas faliram, ou tranferiram-se para países de mão-de-obra mais barata, aumentando assim o número de desempregados no país, o que gerou a inadimplência ao pagamento de contas básicas, como a do aluguel, por exemplo. O custo de vida aumentou assustadoramente, muitas famílias passaram privações, algumas foram despejadas das casas onde moravam, outras, sobreviveram às custas da ajuda do governo. A situação chegou a um ponto tão crítico que foram criados bancos de distribuição de alimentos.

A senhora acima mencionada talvez ainda esteja na fase do deslumbramento, ou não disponha de meios para entender esta realidade. Talvez, dá-se com ela, o mesmo que comigo: eu não tenho muito contato com meus vizinhos. Além das saudações costumeiras de bom-dia e dos “Hallo! Alles goed met u?”, nada mais sei da vida deles, e acredito que nem eles da minha. O respeito à privacidade do outro é tanta que torna as pessoas isoladas umas das outras. Se há algum passando necessidades, isto me é totalmente desconhecido - Aparentemente, está tudo em ordem no meu prédio.   

 © Denise Parma, 2007


 

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