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Postado em 06/09/2013

Autismo e os adultos

Colunista Fatima de Kwant
Autor: Fatima de Kwant é correspondente do Projeto Autimates na Holanda e disseminadora de informação sobre autismo na Europa. Mais colunas deste autor

Autismo é uma síndrome do desenvolvimento, que afeta a comunicação, a interação social e que pode fazer com que quem o tenha, apresente um comportamento repetitivo e obsessivo.

Até pouco tempo atrás, enquanto o autismo infantil vinha sendo conhecido, o autismo na pessoa adulta ainda era relativamente desconhecido por muitos. No entanto, não raramente, pode acontecer da hipótese do autismo ser levantada quando alguém já alcançou a maioridade. A razão disso é que cada vez mais o autismo vem sendo reconhecido também no adulto com inteligência normal, ou até (bem) acima da média. Não faz muito tempo, os adultos com autismo severo eram fáceis de serem reconhecidos, devido ao comportamento atípico. Com os atuais estudos internacionais sobre o autismo, já se sabe que o autismo não se limita somente ao tipo severo – quando é mais evidente. Especialmente os portadores da síndrome de Aspergers e os autistas de inteligência mediana e acima, podem levar uma vida praticamente normal…até que acontece algo em suas vidas que funciona como estopim, trazendo à tona um autismo antes nunca diagnosticado.

Existem diferentes fatores que indicam um possível diagnóstico de autismo no adulto.
Quando uma criança é diagnosticada com autismo, as vezes o mesmo comportamento é encontrado em um dos pais (geralmente o pai). Sabendo-se que o autismo é uma condição de ordem genética, os pais são solicitados pelos profissionais que assistem a criança, a procurar saber se existe algum caso de autismo na família. Não raramente, um dos pais acaba sendo identificado como autista.

Outro fator, seria em época de mudança de fase da vida, quando muita coisa pode mudar. Por exemplo, o adolescente que esteja se tornando independente, o homem/mulher que se torna pai/mãe, um problema sério de relacionamento ou até mesmo a chegada da aposentadoria. São situações em que pode ficar evidente que uma pessoa que até então conseguia funcionar relativamente bem dentro da normalidade, passa a ter muitos problemas que não consegue resolver da maneira que a maior parte (dos neuro típicos) consegue. Neste caso, acabam por apresentar um quadro de ansiedade extrema, como burn-out ou outro distúrbio psiquiátrico, que não consegue ser solucionado com a terapia tradicional, aplicada nestes casos. O tratamento deste problema psiquiátrico não apresenta resultado ou o quadro geral não se encaixa no suposto distúrbio. Quando isso acontece, exames mais extensos, podem confirmar um diagnóstico de autismo.

Estes exames devem ser conduzidos por profissionais qualificados a fazê-los, como psicólogos e psicopedagogos. Devido ao fato do autismo ser um distúrbio do desenvolvimento, a problemática vem da infância e, portanto, é necessário obter-se informação sobre esta infância, sobre o desenvolvimento infanto-juvenil e sobre as primeiras fases da vida adulta, para chegar-se ao diagnóstico final.

Para as crianças, existem testes e formulários que facilitam o fornecimento do diagnóstico. Porém, o diagnóstico dos adultos ainda está em desenvolvimento, sendo bem mais complexo de ser alcançado. Como cada caso é um caso, o diagnóstico de um determinado adulto pode ser bem mais bem mais demorado do que de um outro. O que atrapalha o diagnóstico, muitas vezes e’ a falta de informação prévia do adulto examinado. Às vezes já existe bastante informação sobre a pessoa. Mas acontece com frequência, de alguns testes não serem passíveis de execução ou dos dados da infância serem desconhecidos. Em alguns casos, o diagnóstico é dado mesmo assim, com base num teste mais limitado. O problema de fechar-se o diagnóstico em adultos é justamente por que muita informação da sua infância não se encontra à disposição. E esta informação é essencial para a qualidade do diagnóstico. Um exame diagnóstico de qualidade, deve ser minucioso, consistindo numa pesquisa de psicodiagnóstico, uma pesquisa psiquiátrica (com médico psiquiatra) e em sessões com o adulto a ser examinado, assim como de pessoas importantes em sua vida – parceiro/a, e parentes chegados.

O autismo está em TODOS os lugares: nas ruas, nas lojas, no escritório (e, por que não?) em casa. Não possuir um diagnóstico, não significa que este não exista. No entanto, o desejo de saber se é caso de autismo, sempre deve ser espontâneo. O adulto em questão deve julgar se a obtenção do diagnóstico irá somar à sua vida (reconhecimento, alívio etc.) ou prejudicá-lo em seu dia a dia, de acordo com a maneira que preferir conduzir sua própria vida.

A experiência ensina que os adultos diagnosticados, acabam por se beneficiar do mesmo. Finalmente encontram respostas para perguntas que vinham fazendo durante todas suas vidas. Muitos deles participam de grupos virtuais, trocando experiências com outros adultos autistas; outros tornam-se ativistas, dando palestras e surpreendendo suas audiências pelo jeito extremamente intrigante de encararem o mundo. A maioria, no entanto, encontra o reconhecimento dele mesmo e da família, de que não é “louco”, nem “impossível de se conviver”. Ele ou ela tem autismo. Não são doentes, e sim criaturas extremamente forte e corajosas, por terem ‘sobrevivido’ décadas tentando entender e adaptar-se à outra forma de ser.