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Autismo…o que é mesmo, hein?
O autismo entrou na boca do povo. Agora é difícil sair. Novela das 8, Fantástico, programa da Fátima Bernardes, Revista Veja, peça de teatro (Rain Man), dr. Dráuzio Varella… todo mundo fala sobre o tema, ou pelo menos, está ouvindo alguma coisa por aí, seja num post de facebook, ou porque o filho da vizinha tem. Mas o que é mesmo, o autismo?… Na semana passada, falei das emoções por trás do autismo.
Hoje, quero falar do autismo em si, no que consiste a síndrome e nos seus principais sintomas.
O autismo é um transtorno global do desenvolvimento, que inclui três aspectos fundamentais: 1- a interação social; 2- a comunicação (verbal e não verbal); 3- a sistematização (os movimentos/comportamentos repetitivos). Em outras palavras, o autismo é uma síndrome comportamental que causa comprometimentos no relacionamento e interação com outras pessoas, na linguagem e apresenta comportamentos restritos e repetitivos.
Geralmente, o autismo se manifesta nos primeiros três anos de idade, quando os sinais ficam mais evidentes. No entanto, há crianças que são diagnosticadas bem mais tarde – muitos em idade escolar – pela dificuldade do diagnóstico, a falta de sinais suficientes para o diagnóstico, ou a falta de informação dos próprios pais e de alguns profissionais menos aptos a perceberem o distúrbio.
São vários os graus de autismo, indo do leve ao mais severo. Em maio deste ano, a AMA (American Mental Association) oficializou o novo manual de diagnósticos de doenças mentais – DSM-5 – modificando alguns conceitos até então conhecidos sobre o autismo. Assim sendo, os cinco transtornos que formavam o Espectro Autista tornaram-se parte do TEA – Transtorno do Espectro Autista. Aqui na Holanda chamado de ASS – Autisme Spectrum Stoornis. Estes transtornos ainda são largamente usados sobre os nomes de: Síndrome de Aspergers; TID-ns (transtorno invasivo do desenvolvimento – não especificado, ou Pdd-Nos, na Holanda); Autismo Severo; Transtorno de-integrativo da infância – também chamado de Síndrome de Heller – e, finalmente, a Síndrome de Rhett.
Aos poucos irei escrevendo artigos sobre cada um, separadamente.
Mas como reconhecer o autismo?…
Os sinais mais evidentes são os abaixo descritos:
- A criança não se reconhece pelo nome. Os pais a chamam e ela não responde. Como ela é capaz de identificar outros sons, não se trata de um problema de surdez.
- A criança prefere ficar sozinha. Quando deixada deitada no berço ela não reclama, parece preferir o berço ao colo dos pais.
- A criança não fala, não olha e mostra certa apatia. Têm uma fisionomia pouco expressiva e não interage com outras crianças.
- Crianças sem autismo geralmente imitam os adultos e querem todas as atenções voltadas para ela, já as crianças com sinais de autismo não acompanham os acontecimentos a sua volta.
- Quando a mãe sai para trabalhar ou volta do trabalho, a criança não mostra interesse por ela.
- Crianças de cerca de um ano com autismo vão de colo em colo e não estranham as pessoas, como seria esperado de uma criança nesta idade.
- Durante a amamentação, a criança com autismo não interage com a mãe.
- Os autistas muitas vezes separam os objetos por cor, tamanho, etc. mantendo comportamentos repetitivos e sem finalidade aparente.
- A criança fica horas fazendo o mesmo movimento, com o mesmo objeto. No início pode parecer apenas ser uma criança tranquila, mas isso pode ser um dos sinais da doença. Um dos movimentos mais comuns é ficar rodando um objeto.
- A criança pode apresentar movimentos corporais repetidos, como movimentos de balanço, às vezes, até de forma violenta.
- A criança utiliza as pessoas como instrumento. Pega na mão do adulto e o leva até o lugar onde quer que ele faça algo que ela deseja, ao invés de fazer a solicitação verbal.
- As famosas ‘birras’, ataques de birra, ou ‘driftige buien’, no holandês, também poderiam ser um indicativo, desde que não sejam confundidas com as malcriações infantis ‘normais’. São aqueles momentos em que a criança se atira no chão, ignorando o ambiente, chora e/ou grita, sendo incapaz de compreender o que lhe é dito.
No entanto, e preciso ficar bem claro que o fato de uma criança demonstrar alguns dos sinais acima, não significa que ela tenha autismo. Assim como o fato da criança não apresentar alguns dos mesmos, signifique a ausência de autismo. Por exemplo, a mãe pode acreditar ser impossível seu pequeno ter autismo, por ele ser muito carinhoso com ela, sorrir e aceitar carinhos de outras pessoas. Mas ainda assim, esta criança carinhosa pode apresentar outros sinais que poderiam levar a um diagnóstico. É importante considerar-se o quadro em sua totalidade, onde nem todos os sinais (sempre) se aplicam.
Isso porque o Autismo se manifesta diferentemente, dependendo de cada um. Não devemos esquecer a tríade básica (acima, no primeiro parágrafo) do autismo, mas o modo como esta se manifesta pode diferir em cada caso. Também é importante lembrar-se que todas as crianças/jovens/adultos com autismo são indivíduos, com personalidades e características únicas, que só a eles pertencem.
Os exemplos são um referencial que pode variar, de acordo com o caso. Por isso é imperativo que a criança seja examinada por especialistas capacitados a avaliarem seu comportamento. Aqui na Holanda, estes especialistas seriam os psicólogos do desenvolvimento (Gz-psychologen), psicopedagogos (orthopedagogen) e médicos (pediatras) psiquiatras.
Procure seu médico de família (huisarts) para uma primeira consulta. Este os indicará um profissional qualificado à uma avaliação completa, aplicando os exames que poderão levar a um diagnóstico final.
Na Holanda, existem muitos centros de autismo, assim como ‘autisme-coaches’, habilitados a assistirem famílias que necessitam de auxílio em termos de diagnóstico, tratamento e inclusão social/escolar.
O autismo é um jeito diferente de ser e perceber o mundo. Com um bom acompanhamento – de preferência, o mais cedo possível – a criança autista pode e irá se desenvolver, participando da vida em sociedade. Isto para o seu próprio bem–estar e o de sua família.