Colunas

Postado em 22/09/2016

AUTISMO: uma questão de alta sensibilidade

Colunista Fatima de Kwant
Autor: Fatima de Kwant é correspondente do Projeto Autimates na Holanda e disseminadora de informação sobre autismo na Europa. Mais colunas deste autor

Karin:

‘Quando criança,senti a vida como algo muito pesado. Senti-me por vezes marcado e inseguro em algumas situações. As pessoas, os ruídos, e todos os estímulos sensoriais entravam muito forte dentro de mim e ocasionavam um caos na minha cabeça.’

WallyWojtowicz, jr.:

‘ Agora eu olho para as pessoas porque necessito da sua ajuda para viver e aprecios sua presença. Agora eu posso ver o mundo, a realidade que temos em comum. No nosso mundo eu sou o mais feliz. No meu mundo eu era o mais solitário. No seu mundo, eu era o mais ansioso.’

Leslie Morrison, terapeuta comportamental:

‘Eles são um presente, sem problemas. Eles trazem em si a dádiva de te conscientizarem de quem realmente vocês é. O maior presente que eles podem dar é quando sentimos o amor que são capazes de dar.’

O autismo tem várias facetas. Por isso fala-se de um Espectro do Autismo. O elo entre todas as formas do autismo é a diferença no desenvolvimento social e cognitivo em relação às crianças neurotípicas. O diagnóstico só é fornecido quando fica comprovada uma deficiência no trio: interação social, comunicação e imaginação, esta incluindo a compreensão de conceitos necessários para entender nossa complexa, moderna forma de viver. 

A razão do conceito de deficiência é porque pessoas autistas possuem uma maneira diferente de processar informações em seus cérebros. Crianças autistas são, na verdade, crianças altamente sensitivas que não parecem filtrar a informação que entra em seus cérebros. Todas as informações entram e elas nem sempre sabem como discerni-las e selecioná-las. Sem ajuda eles podem ter muita dificuldade em conseguir isso, sendo, portanto, importante que eles se encontrem o mais cedo possível num espaço onde sejam estimulados a exteriorizar as informações.

Quando este processo de comunicação é colocado em funcionamento, o comportamento considerado como tipicamente autista pode desaparecer.

Frequentemente diz-se que pessoas autistas não são capazes de imaginar o que se passa na mente de outra pessoa. Eles seriam incapazes de se colocarem no lugar do outro, de deduzir seus pensamentos, sentimentos e intenções. Existem fortes sinais de que este pensamento não procede para a geração atual de autistas. Ser socialmente desajeitado não significa que não saibam se colocar no lugar de outras pessoas. Alguns têm inclusivebastante empatia, mas só exteriorizam esse talento ocasionalmente. Nos momentos cruciais podem demonstrar pena, solidariedade ou surpreender por sua capacidade de perdoar.

Crianças autistas têm, sim, problemas com planejamento, organização e controle do comportamento. Muitas vezes elas não têm uma visão global que os ajude a planejar a execução de tarefas dentro de um determinado tempo, e têm dificuldade de reagir de modo flexível às mudanças repentinas.

Principalmente no segundo grau alunos autistas podem encontrar muitos problemas porque cada vez espera-se uma participação mais independente no aprendizado. O que eles necessitam, primariamente, é um ambiente claro e previsível onde possam aprender.

Acredita-se que alunos autistas usem mais o lado cerebral direito do que o esquerdo. O lado cerebral esquerdo é responsável pela capacidade analítica, verbal, sequencial e linear, enquanto ao lado direito cerebral trabalha mais sinteticamente, holisticamente e não linear. O talento linguístico expressivo são maiores do lado esquerdo. Alem do mais, o lado esquerdo também se destaca por ser melhor em somas, redação, leitura, lógica e pensamento abstrato. O lado direito é bem melhor em desenho e tarefas complexas onde o raciocínio espacial é necessário. Nosso cérebro esquerdo forma a origem da nossa sensação de tempo, enquanto nosso cérebro direito vive no aqui e agora.

Possivelmente, nosso cérebro não linear pode explicar o talento incomum das pessoas autistas. Um pequeno numero deles também possuem um talento incomum para a matemática. São os chamados savant. Daniel Tammet diz no seu livro ‘Nascido em um dia azul’: “Números são minha primeira língua, uma línguana qual eu penso e sinto. Acho emoções muito difíceis de entender e não sei como reagir a elas. Por isso uso números para me ajudar.”

Muitos talentos autistas permanecem desconhecidos quando o ambiente à sua volta não transpõe a lacuna da comunicação. Autistas não verbais vivem em silêncio porque lhes falta a capacidade de transmitir o pensamento em palavras e voz. Os que conseguem se comunicar através da Comunicação Alternativa, nos ensinam que têm uma linga própria, rica em imagens e que seu pensamento com outros autistas muitas vezes é telepático. 

Muitos talentos autistas permanecem desconhecidos quando o ambiente à sua volta não transpõe a lacuna da comunicação. Autistas não verbais vivem em silêncio porque lhes falta a capacidade de transmitir o pensamento em palavras e voz. Os que conseguem se comunicar através da Comunicação Alternativa, nos ensinam que têm uma linga própria, rica em imagens e que seu pensamento com outros autistas muitas vezes é telepático.

São tantas as crianças autistas nascidas atualmente, que as causas tornaram-se temas de discussão, como diagnósticos aprimorados, poluição ambiental e vacinações. Partindo de um conceito espiritualizado pode-se imaginar que o autismo possa ser um passo à evolução da consciência humana. William Stillman, Asperger, considera a chegada em massa do autismo (epidemia) como uma reação espiritual a um mundo carente de correção. No seu livro ‘A alma do autismo’, diz: 

‘Necessitamos de pessoas autistas e outras diferenças para equilibrar o mundo de um modo simples, não exagerado de emoção, trazendo o foco para aquilo que, de fato, importa.’

O autor HansLemmens declara em ‘O elástico entre corpo ealma’ que as crianças autistas têm uma encarnação solta e se encontram mais no espírito do que no corpo. O lado positivo desse pensamento é que estão mais perto do mundo espiritual.

O personagem adolescente de 15 anos, Michael, diz em ‘Autismo e a Conexão Divina’, de Stillman:

‘Minha escolha foi a de liderar as pessoas de volta à Fonte. Isso exige que eu mantenha minha própria conexão, o que implica que eu tenha um corpo quebrado. Eis a beleza do mistério: uma alma completa tem um corpo quebrado, e uma alma quebrada tem um corpo inteiro.’

Para muitos indivíduos autistas no centro do seu ser tudo gira em tono do amor. Eles têm uma capacidade inesgotável de demonstrar amor. JenWojtowicz, autora do livro ‘O Garoto quefazia as flores crescerem’, fala do irmão autista: “Como poderíamos ser como somos sem pessoas como ele? Se não tivéssemos a oportunidade de sentir um amor incondicional? Foi uma experiencia notável perceber que outras pessoas têm uma maneira de viver tão preciosa quanto a de qualquer outra pessoa normal, ainda que tão diferente.”

Texto: Herbert van Erkelens
Tradução: Fatima de Kwant