Colunas
Estreando no mercado de trabalho holandês
Autora: Adriana van den Broek
Você pegou seu visto, se despediu da família, empacotou sua vida em duas malas de 32 kg e, depois disso, cá está, imigrante latino-americano na Holanda, tentando colocar seu trem – amarelinho da NS, naturalmente – nos trilhos. Se sua prioridade, como foi a minha, é trabalhar, fatalmente você se verá um dia desses sentadinho no sofá da sala, olhando para o nada através da janelona sem veneziana da sala, pensando: E agora, José?
Pois então… E agora José? Primeiro passo: buscar informações na internet. Descobri que comprador ( meu último cargo no Brasil ) é “inkoper” e que a “profissão” existe aqui. Pior seria se eu fosse médica, advogada, jornalista, ou essas profissões cujo diploma brasileiro não é reconhecido na Holanda, ou então que dependem de um profundo conhecimento do idioma local. Selecionadas as empresas que não pediam explicitamente domínio da língua holandesa, mandei dúzias de currículos com cartinhas de “motivação” tão eloqüentes que impressionariam até o Donald Trump ( ou o Roberto Justus, como queiram ).
Aí começou a saga: choviam respostas de “muito obrigada mas você não tem o perfil que buscamos e blá blá blá”. A auto-estima, já abalada, se reduziu a pó. Não desisti. Mais CV’s, formulários online, contatos em agências de recolocação profissional, até que o primeiro convite para uma entrevista chegou. Na maior empresa da região. Emprego dos sonhos. Ai meu Deus.
No dia marcado saí de casa com duas horas de antecedência. Meia fina, saia comportada, maquiagem nos trinques, lá fui eu de bicicleta para o centro da cidade. Não, você não leu errado, eu fui sim, para a “entrevistona” de bicicleta. Quem te viu ( de carrinho novo em São Paulo ) e quem te vê…pensei. Cheguei cedíssimo e sentei no Café em frente à empresa. Foi um dos piores momentos da minha vida: ali sentada, olhava para o prédio imponente, nervosíssima, insegura, ansiosa… Como é que eu, recém-chegada, diploma ainda sem validar, sem falar o idioma local, ia competir com os loirões de nariz empinado (que falam não somente o holandês, sua língua natal, mas também inglês e na maioria das vezes francês ou alemão, com seus HBO’s e WO’s?) Enquanto esperava, ia me sentindo menor a cada minuto.
Finalmente, chegou a hora; percorri aqueles corredores tremendo mais do que vara verde. A entrevista, porém, não foi aquele bicho-de-sete cabeças que eu imaginava. Conversei com a especialista do RH e com o gerente da área. Achei o procedimento mais informal do que eu estava acostumada a ver no Brasil. Saí de lá sem ter a mínima idéia se seria chamada ou não para uma próxima entrevista, mas o alívio era tão grande, tão imensamente grande, que eu não estava mais nem me importando tanto. Poucas vezes na vida me senti tão vulnerável, tão fragilizada como naquelas duas horas em que fiquei sentada no tal Café esperando. Eu já estava na Holanda há dois meses, mas foi somente nesse dia que o “encanto do recém-chegado” caiu por terra e eu entendi que as coisas não seriam tão fáceis como eu imaginava. Foi o início da minha descoberta de que a Europa do pleno emprego, das grandes oportunidades, dos euros chovendo na conta corrente não passa de um sonho, até meio infantil, da maioria de nós brasileiros.
Se consegui o emprego? Ah, isso você vai ter que esperar até uma próxima coluna para saber…