Colunas

Postado em 08/04/2014

Inclusão Educacional

Colunista Fatima de Kwant
Autor: Fatima de Kwant é correspondente do Projeto Autimates na Holanda e disseminadora de informação sobre autismo na Europa. Mais colunas deste autor

Entre todas as discussões sobre se deve ou não incluir as crianças com uma diferença neurológica em escolas regulares , é preciso refletir sobre o que realmente significa inclusão, que é muito mais do que simplesmente aceitar a presença de uma criança no local de ensino. Incluir uma criança autista é comprometer-se a entender a essência dela, fazendo uso de todas as habilidades e conhecimentos disponíveis , a fim de proporcionar um ambiente harmônico e progressivo para o autista, assim como para todos os demais alunos que irão conviver com ele.

Como sempre , a escolha deve ser feita após a colocação da criança em primeiro lugar:

  • Esta escola irá proporcionar um acompanhamento necessário para o desenvolvimento (global) do meu filho?
  • O que os professores desta escola sabem sobre o autismo em geral e o autismo especifico?
  • No caso das peculiaridades do meu filho , a escola cogitaria a mudança de protocolo para atender tais peculiaridades ?
  • O pessoal da escola será capaz de criar um plano pessoal para o meu filho (PIE – Plano Individual de Ensino),adaptando seu currículo para as possibilidades/limitações do meu filho e mesmo assim seguir motivando-o a acompanhar o grupo ?
  • Como é que a escola lida com o bullying ? Qual é o nível de tolerância ao bullying adotado pelo estabelecimento de ensino?…
  • … E muitas outras perguntas desse tipo.

A verdade é que não podemos mudar um sistema educacional estabelecido, de uma só vez. Pode levar anos de esforços e empenho – tanto das organizações educacionais quanto dos pais – para que esse trabalho em conjunto resulte na inclusão de todos os alunos, independente das suas diferenças . Nós não podemos esperar de um professor que é mal pago e sobrecarregado, transformar-se em especialista em autismo da noite para o dia. Mas nosso sistema educacional pode (e deve!) incluir condições neurológicas ( autismo , TDHA, TOC , etc ) para os professores no seu currículo acadêmico, mais amplamente do que já acontece em algumas instituições que formam profissionais do ensino.

Não podemos apenas colocar nossa criança vulnerável em uma escola despreparada só porque “são pagos pra isso…é obrigação deles”. A escola, como fonte de ensino DEVE, mas AINDA NÃO É capaz de ensinar crianças no espctro do autismo, na maioria dos casos.

Nós, pais, podemos fazer a diferença , indo a todas as reuniões na escola , fazendo parte dos grupos/comissão de pais ou mesmo organizando palestras na escola para os pais de crianças neuro típicas.
Podemos, fervorosamente, tentar convencer a direção da escola (regular) a prestar atenção às necessidades dos nossos filhos e pedir-lhes para fornecer tais recursos. É surpreendente notar a quantidade de administradores escolares que estão realmente engajados e dispostos a ouvir o que os pais têm a dizer.
Só temos o que ganharsendo fiéis ao amor que temos por nossos filhos diferentes , ao mesmo tempo inspirando a escola a sentir o desejo de inclusão.
Seja o melhor defensor de seu filho! Não fique com raiva da escola – a maioria dos servidores está fazendo seu trabalho, seguindo uma série de burocracia. Não fique com raiva, simplesmente. É um desperdício de energia positiva que você pode jogar em conversa progressiva com a própria escola, o deputado que você ajudou a eleger ou apenas outras pessoas que pensam como você.

Há muitas maneiras de promover a inclusão educacional, mas as escolas não podem fazê-lo sozinhos . Os pais devem cooperar também. Temos o conhecimento , e nós temos uma voz. Juntos, com o apoio imperdível da escola regular – a sua gestão e docentes – podemos construir uma ponte para incluir as crianças que, caso contrário permanecerão nas escolas com necessidades especiais .
Essas são ótimas, a propósito; por vezes são a única opção para uma situação em particular.

Mais uma vez, a criança em primeiro lugar! Algumas crianças podem demorar um pouco mais – e talvez nunca consigam lidar com o ambiente escolar regular. Nesse caso, uma possibilidade seria a criação de uma visita ocasional a uma escola regular para essas crianças em escolas com necessidades especiais . Por exemplo, uma vez por semana este último grupo passaria algumas horas na escola , sob a orientação do seu próprio professor. Porque não só as crianças com necessidades especiais podem beneficiar-se de tal interação, mas as neurotípicas também!

Sob uma supervisão bem dirigida, contando com a boa vontade de ambas as escolas – regular e especial – , seriam definidas as raízes para fornecer a nação tudo o que dela esperamos: uma nação voltada para a neurodiversidade. Apesar de todos os rótulos que a sociedade contemporânea optou a fim de classificar as pessoas ‘um pouco menos normais’, todos nós somos apenas o que somos: seres humanos , nem melhores ou piores do que ninguém , apenas … diferentes.