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Postado em 31/07/2014

O simbolismo de Gaza – de um Caminho de Trevas ao de Luz

Colunista Fatima de Kwant
Autor: Fatima de Kwant é correspondente do Projeto Autimates na Holanda e disseminadora de informação sobre autismo na Europa. Mais colunas deste autor

Assunto que horroriza o mundo, o conflito na Faixa de Gaza tem sido o mais discutido tópico de caráter internacional das últimas semanas. Imagens de violência extrema – crianças sangrando, seus pequenos corpos decepados, adultos gritando, desesperados – de vítimas inocentes da guerra entre Israel e Palestina, circulam o globo a cada minuto, deixando nações mesmerizadas com esse nível de crueldade humana.

Por essa razão páro, hoje, para refletir sobre um tema que foge ao autismo, minha especialidade, mas que enquadra-se em outro favorito, não menos importante: a Paz Mundial, mais do que nunca, necessária.

Usando Gaza simplesmente como exemplo, não comentarei a história desta guerra anciã, que remonta a milhares de anos, desde que os judeus saíram em busca da Terra Prometida. Entre àquela época e hoje, nada mudou e tudo mudou. Os povos inimigos seguem sendo os mesmos, mas suas intenções são outras. Vou, sim, falar sobre o simbolismo desta e de qualquer outra guerra dos Homens, que nada de bom constrói ou soma ao cosmos, se não o aprendizado, ainda que somente em teoria, de como não proceder.

No caso de Gaza, a questão religiosa transformou-se numa luta cega pelo poder, disfarçado na conquista desse amaldiçoado território. Ali, ninguém tem razão e todos têm razão. Tanto os judeus perseguidos por sua religião quanto os nômades palestinos de outrora são, hoje, homens tresloucados, usando suas religiões como escudos para justificar suas ações nada religiosas, as quais, em consequência, acarretam nas mortes dos crentes de verdade. Sim, as vítimas da guerra são os reais fiéis às suas religiões; os que acreditam, de fato, nas palavras do seu Deus (seja ESTE qual for), sabendo que ELE significa Amor e Paz, nunca guerra. Quem planeja e incita seguidores ingênuos à guerra, quem a apoia e executa não é quem crê; quem planeja e executa uma guerra, ceifando vidas inocentes no caminho – inclusive as de seu próprio povo – precisa ser retirado, imediatamente da posição de poder na qual, erroneamente, foi colocado.

O horror é geral porque é visível, ano 2014, para o mundo. Imagens verdadeiramente perturbadoras vêm tirando o sono de muitos e movimentando o debate internacional. E quase tão cruel quanto a guerra em si, é a lavagem de mãos dos Estados Unidos e da Europa, devido a interesses nacionais, econômicos ou geopolíticos. Como de costume, convicções pessoais acabam por dividir a questão em dois lados: judeus e palestinos; certo e errado; Bem x Mal.

Iludidos, todos; os que fazem a guerra e os que são testemunhas dessa loucura coletiva. Por que no âmago de nossos corações, sabemos que só a Paz resolve um conflito. Só a paz cura todos os males e esta não pode ser conseguida com sangue. No máximo, pode ser arrefecida pela fraqueza dos oponentes, até que surja outra oportunidade, como é o caso, agora, estando Hamas fortalecido. A Paz tampouco pode ser imposta pelos exércitos (armados) da ONU, em suas ‘missões de paz’. É tudo tão simples e qualquer criança de 10 anos sabe: bater não educa; desenvolve medo e (aparente) respeito da criança, mas não resolve um problema latente. É uma solução radical, aparentemente efetiva, mas nunca definitiva. E o que a humanidade quer é paz para sempre.

O universo precisa de mais profetas, os de verdade – não os falsos – destes já está cheio. Homens do Bem, religiosos ou não, que alimentem a alma dos humanos com ensinamentos de amor ao próximo e exemplos de tolerância, generosidade e de fraternidade, sem estipulação de fronteiras. O mundo já conheceu tais profetas, um deles, o grande Nelson Mandela, exaltado por todos pela sua capacidade de perdoar e unir povos. Que venham outros pacifistas. Que seja dado o pódio àquele que fale a língua de todos, fazendo com que acreditem que somos todos UM.

Religiões e nacionalismo têm destruído o mundo que o verdadeiro Deus (ELE, que deseja a paz entre os homens de boa vontade) criou, para ser apreciado por todos.

Hoje somos brasileiros, ontem fomos americanos, israelitas, palestinos…que diferença faz? Somos humanos e assim devemos permanecer – no sentido literal e figurado. Amor fraterno sem fronteiras, mãos dadas direção a um Caminho de Luz e não de Trevas. Paz na terra, sim. Pedir perdão, dar perdão. Dividir o pão e a água, dentro do possível. Curar feridas ao invés de provocá-las. Não é utopia. É possível e faz-se, mais do que nunca, necessário.

Não devemos iludir-nos pela descrença de tal possibilidade; isto é o que os líderes mundiais querem que pensemos. Eles, que foram colocados ali por meio de nós (eleitores) querem dominar nosso desejo básico de vivermos em paz. Utilizam-se de falsos princípios e de seu status privilegiado para semearem ódio, confundindo e dividindo seu próprio povo, incitando-os a matarem um irmão, um outro ser humano.

“Impossível. O mundo não tem mais salvação…”… “Ideologia insensata…” Antes de afirmá-lo, pense, ainda que por uns poucos minutos, na chance deste sonho ser realizável e qual a parte que cada um de nós poderia ter neste plano mundial de paz. Pois estamos todos acreditando naquilo que vemos. É hora de crermos no que sentimos. E tudo que se faz, baseado num sentimento nobre, é possível.