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Reconhecendo problemas físicos nas crianças, jovens e adultos autistas
O conhecimento da Síndrome do autismo vem crescendo em todo o mundo. Autismo é tema constanteem pesquisas, artigos e documentários, bastante divulgados na mídia. No entanto, os subtemas maisdiscutidos são os com referencia à socialização e à comunicação. Menos comentado são as limitaçõesde ordem sensorial que podem influenciar na identificação de problemas físicos na pessoa autista, trazendo consequências indesejáveis para seu bem estar, sem que seus pais ou os próprios médicostenham conhecimento.
Sabe-se que muitos autistas apresentam um processamento sensorial diferente das pessoasneurotípicas. Isso pode fazer com que alguns sinais não sejam percebidos:
– Dor, infecçãoeausência de febre
– Menor sensibilidade à anestesia
– Sensação de fome e sede
– Alergias alimentares
– Dieta desequilibrada e pouca resistência física
Dor, infecção e ausência de febre
Os autistas nem sempre conseguem expressar a dor que, de fato, sentem. Muitas vezes, quando a doré muito forte, eles podem reagir de modo oposto ao da maioria das pessoas, ou seja, parecendoindiferentes (sem dor). Ao contrário, existem aqueles que devido à ansiedade, choram efusivamente, levando pais e médicos a superestimarem sua dor.
Muitas crianças e adultos autistas experimentam a dor de um modo distinto das demais. Elas podemter mais ou menos dor que a maioria. Além disso, algumas não costumam apresentar febre. A ausência de febre pode comprometer a identificação de uma infecção e demais doenças.
Exemplo: Sara, uma menina autista de cinco anos diz não escutar por um dos ouvidos. Ela diz nãosentir dor e não tem febre. O otorrino, então, descarta uma infeção de ouvido. Quando faz a lavagemdo ouvido em questão, percebe que existia uma infecção já antiga, não cuidada. Infelizmente tardedemais para reparar o tímpano e Sara fica surda de um ouvido.
Menor sensibilidade à anestesia
Em alguns casos, pessoas autistas reagem menos à anestesias, precisando de uma dose maior. É importante que o anestesista saiba disso, fazendo uma análise antes de uma eventual cirurgia. Se durante uma anestesia parcial o paciente autista diz sentir dor, o fato deve ser levado a sério, ainda que o médico tenha muita experiência com o tipo de intervenção.
Já outros autistas podem preferir um tratamento ou exame sem anestesia, uma vez que a anestesia pode causar um grande transtorno sensorial.
Exemplos:
Marta –44 anos, autista, diz: “Eu tive um ataque de pânico durante uma epidural. Eu tinha escolhido essa anestesia porque sou uma controlfreake queria participar de tudo que faziam no meu joelho (menisco). Mas justamente isso me deixou nervosa: perder o controle das minhas pernas, no caso. No final me deram um sedativo e eu me acalmei.”
Mãe de um autista de 11 anos, diz: “Nosso filho já foi operado duas vezes com anestesia geral, aos 4 anos (amídala) e recentemente (retirar quatro dentes). Nas duas vezes ele acordou em pânico, chutando tudo e todos, fazendo tanto escândalo que foi preciso várias pessoas intervirem.”
Sensação de fome e sede
Há pessoas autistas que não percebem quando sentem fome ou sede. Outras sentem fome e sente demais. Isso pode levá-las a um distúrbio de peso, para mais ou para menos. Pais podem não perceber se estão doentes, porque podem seguir comendo, apesar de estarem com náuseas; outros já evitam comer quando doentes (enjoo).
Exemplo:Daniel não tem sensação de fome. Seus amigos lhe ensinam que quando sentir seu estômago “martelar”, é preciso comer.
Quanto à sede, muitas doenças são acompanhadas por sede enquanto, no autismo, isso pode não ser um sinal. No caso, esses autistas raramente sentem sede, também quando doentes.
Alergias alimentares
Existem alergias alimentares nas crianças e pessoas autistas, ainda que não sejam óbvias, como o aparecimento de alergia pelo corpo ou dores gastrointestinais.
Algumas apresentam melhoria no comportamento após uma dieta de glúten, mesmo quando não há doença celíaca. Para eles, evitar o consumo de lactose também contribui para um comportamento mais aproximado do que é considerado normal.
Na Holanda, a Associação Nacional do Autismo, juntamente com a Secretaria do Ministério da Saúde e Bem Estar, publicaram um documento no qual consta a indicação da dieta alimentar do autismo pela ordem dos médicos. Enquanto mais pesquisas são aguardadas, os médicos seguem a indicação e pedem aos pais, e aos próprios pacientes autistas, que façam a experiência.
Dieta desequilibrada e pouca resistência física
Muitos autistas têm uma dieta desiquilibrada devido a fatores de ordem sensorial. Essa sensibilidade aguçada a determinados alimentos, faz com que a falta de sua ingestão comprometa a absorção de proteínas, vitaminas e minerais que, por sua vez, contribuem para sua força física, evitando doenças.
Autistas que se alimentam unilateralmente, deveriam consultar médicos ou nutricionistas mais frequentemente. É aconselhável que tenham análises periódicas, para que incluam as vitaminas e suplementação que os ajudem a se manterem saudáveis.
Autismo é um desafio para muitos pais e para a própria pessoa autista. Muitos não conseguem explicar o que sentem e a gravidade do que sentem. Tanto a família quanto o médico devem estar atentos.
Estes não devem se iludir pela falta de emoções do autista ao falar do seu estado. Ele ou ela podem estar sentindo mais dor do que sua (aparente) falta de emoção ou dor fazem pensar.
O que pais podem fazer:
Desconfiando que seu filho sente dor ou está enfermo:
– Faça perguntas fechadas, nunca abertas, pois estas dão possibilidades a muitas respostas. O autista pode se perder em detalhes e não dar a resposta necessária. Podem dizer a primeira coisa que lhes apareça à cabeça ou responderem de acordo com o “aqui e agora”, sem generalizar situações em que sente dor
– Fique alerta a qualquer coisa que seu filho não costuma fazer; algum desconforto, mudança brusca de comportamento agressividade; introversão (ou extroversão) repentina
– Se for o caso de visitar o médico, prepare a criança para a visita dizendo que o médico vai ter que examiná-la (tocá-la) a fim de saber o que passa com ela
– Se for o caso, avise o médico que sua criança é autista e que pode apresentar dificuldade ao ser examinada ou ao responder às suas perguntas objetivamente. Peça-lhe que formule suas perguntas ao autista de forma concisa e direta (perguntas fechadas).
– Durante a consulta, usem os conhecimentos que têm das características individuais de seus filhos, para serem bons intermediários na comunicação com o médico.
Caso seja conveniente, redijam um documento constando:
– Nome do Paciente
– Data de nascimento
– Tipo de autismo
– Informação adicional para a equipe médica, contendo as peculiaridades do paciente como, por exemplo, que não demonstra sentir dor; nunca teve febre; não gosta de ser tocado etc.
O que os médicos podem fazer:
Sabendo que o paciente tem uma forma de autismo:
– Faça perguntas fechadas, não abertas, para que o autista não se perca nos detalhes
– Apesar de necessitar da informação dada pelo acompanhante do autista, inclua o autista na avaliação o máximo que puder.
– Considere que apesar da ausência de dor e febre, podem apresentar um quadro mais grave do que parece. Não descarte nada, baseado na experiência com pessoas não autistas.
– Peça permissão ao autista para tocá-lo antes de examiná-lo
– Nomeie cada procedimento para o autista (ainda que ele não seja verbal), explicando o que está fazendo, de maneira simples
– Evite linguagem figurada
– Respeite as decisões do paciente no caso de se alimentar mal devido ao autismo. Apresente sugestões, ou tente arrumar outras soluções, se for este o problema do mal-estar
– Faça exames adicionais, ainda que pareça irrelevante pela falta de dor, febre ou emoção do paciente.
O autismo é uma condição ainda não de todo compreendida por muitos.
É imprescindível que os pais e familiares observem os autistas minuciosamente, quando desconfiados de que possam estar doentes, lembrando-se que podem reagir diferentemente de crianças e adultos neurotípicos.
Fonte consultada: www.delachendepanda.nl