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e está aumentando a importação por conta do
aumento de consumo. Hoje, o Brasil vive um mo-
mento que eu nunca pensei fosse viver, com uma
economia interna forte, as pessoas estão com-
prando, digindo, voando mais e, por trás disso,
tem a logística de transporte de bens de consu-
mo. Temos uma nova refnaria em Pernambuco
fcando pronta em 2014/2015, com capacidade
de 230 mil barris por dia de produção. Se essa
refnaria estivesse pronta hoje, estariamos quase
zerando a importação em volume. Uma segunda
nova refnaria no Estado do Rio de Janeiro tem
previsão de começar a operar em 2016. E porque
não se importava gasolina antes? Devido a mistu-
ra de etanol. Hoje, vivemos um período de baixa
produção de etanol, por isso temos que importar
mais gasolina.
Seguir o preço do mercado internacional iria
atrair mais investidores?
Essa é uma decisão do governo brasileiro. Esse
ano mesmo tivemos dois ajustes de preços
(depois de seis anos sem ajustes) que, mesmo
assim, não foram sufcientes para zerar a conta.
No longo prazo, fca bem clara uma convergência
entre os preços internacionais e os preços na
bomba no Brasil, num período se praticou preços
acima do internacional e, em outro momento, o
quadro se inverte. A Petrobras defende a parida-
de de preços pois temos um plano de investimen-
to bilionário, serão 236 bilhões de dólares nos
próximos cinco anos.
E o que signifca o fato do Eike Batista fazer
um convite durante entrevista à uma TV ame-
ricana para investidores em petróleo levas-
sem o capital para o Brasil?
Sim, existe um viés de promover o conteúdo
local cada vez mais no Brasil, as oportunidades
de negócios estão aqui nos próximos anos. A
capacidade industrial instalada no Brasil é muito
grande, não se consegue grandes saltos de
conteúdo local num país que não tenha uma base
industrial forte, como, por exemplo, em alguns
países africanos. No Brasil, a Petrobras já tem
feito isso desde a década de 70, e empresas es-
trangeiras que apostaram no Brasil desde então
tem hoje uma vantagem competitiva. Conteúdo
local será um fator cada vez mais importante para
trabalhar no Brasil. E ninguém deve fcar parado,
seja Petrobras, Statoil, Chevron ou Shell, para
ser competitivo nesse mercado vamos ter que ser
capazes de comprar mais no Brasil.
Seria melhor investir apenas no onshore e
não extrair petróleo em águas profundas para
causar menor impacto ambiental?
A indústria se move para onde pode obter um
melhor retorno para o capital investido. Existem
duas grandes vertentes exploradas na indús-
tria de petróleo hoje: as águas profundas e o
chamados não convencionais, shale oil e shale
gás. Os impactos ambientais de cada atividade
são devidamente mapeados, de acordo com as
legislações de cada pais, e não devem ser com-
parados. A indústria do petróleo lida com o risco
ambiental, tomando medidas de precaução para
evitar qualquer tipo de acidente. A Petrobras tem
pouca experiência com os não convencionais em
larga escala, extraímos pouca quantidade de óleo
de xisto por décadas. Nos Estados Unidos e Ca-
nadá, existem grandes investimentos na produ-
ção dos não convencionais – o shale oil, como o
nosso xisto, é quase um processo de mineração,
enquanto que, para a produção de gás, poços
são perfurados e depois fraturados. Espera-se
um grande aumento na oferta de gás nos Estados
Unidos por isso, e o preço caiu muito. Quanto
a garantir que o processo de fraturamento não
contaminará o lençol freático, entendo que não
existem barreiras tecnológicas para isso.
Com sua experiência na Nigéria você pode
explicar um pouco da queima do gás que
tanto polui?
Entendo que as leis da Nigéria permitem que o
gás seja queimado em nome da produção do
óleo para os blocos mais antigos. Gás vem junto
com a produção de petróleo e, quanto mais leve,
mais nobre o petróleo e melhor remunerado. Na
Nigéria tem muita quantidade de gás, quando
essa atividade começou na década de 60, o gás
não tinha mercado no mundo, então, naquele
momento, o governo nigeriano tinha que autorizar
as companhias a queimar o gás. Hoje, essa reali-
dade é diferente, existe uma planta de liquefação
de gás que pode absorver grande parte do gás
produzido nos novos projetos.
Entrevista: Beatriz Bringsken
Foto: Marcia Curvo