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Com quantos padeiros se faz um pão?

Adriana van den Broek

 

Antes de vir para a Holanda eu pensava que todo europeu ia para a faculdade e, qual não foi minha supresa ao chegar aqui e ver que nem 5% da população (a média brasileira) conclui o ensino superior. Explica a professora do curso de integração: num prédio onde moram 100 pessoas, todos compram pão praticamente todos os dias. No mesmo prédio quantos precisarão no decorrer de um ano de um advogado? Ou de um engenheiro civil? Precisamos formar por ano mais padeiros ou mais advogados?

É aí que entram as escolas profissionalizantes holandesas, na maioria das cidades chamadas de ROC. Olho incrédula para o panfleto que a professora entrega, todos para cursos profissionalizantes de 1 ano: curso de garçom, de azulejista de paredes, azulejista de chão, GO – gentile organizer (aquele fulano que fica fazendo brincadeirinhas com o povo nos resorts), motorista particular, cabeleireira, manicure, e o meu favorito, auxiliar de dentista. Gente, um ano para aprender a sugar cuspe da boca dos pacientes e marcar consultinha na agenda? Só aqui mesmo!

E como a pessoa escolhe o que “quer ser”? É aí onde está o pulo-do-gato. Quando você tem 12 anos, equivalente à sexta série brasileira, ainda pensando em video-games e Barbies, a “orientadora” da sua escola vai decidir baseada nas suas notas se você vai pra universidade, faculdade, escola técnica ou escola prática. Ou seja, aos 12 anos de idade alguém vai decidir se você vai ser advogado ou padeiro. Essa foi a forma que o governo holandês escolheu para prevenir que, como no Brasil, advogados acabem vendendo sanduíche na praia. Ou seja, numa classe com 30 alunos, dois vão pra universidade, quatro pra faculdade, oito pra escola técnica e o resto para as escolas práticas.

Claro que achei muito injusto, afinal todos nós brasileiros queremos filhos advogados, engenheiros ou médicos, não é mesmo? Mas aqui a cabeça deles funciona diferente. A diferença social entre um azulejista e um engenheiro existe, mas não é uma coisa monstruosa como no Brasil. Aqui, o azulejista não é que nem o Tião, azulejista semi-analfabeto que assentou (com perfeição) os azulejos da minha mãe, orgulhoso por ser dono de uma casa de “alvenaria” na favela do DER. Aqui, um engenheiro médio ganha uns três mil euros líquidos por mês e um azulejista médio deve ganhar quase uns dois mil euros. Ambos vão aos mesmos médicos, seus filhos estudam na mesma escola e podem viajar para Turquia no verão.

Eu já me perguntei muitas vezes se isso não acaba criando uma certa “acomodação” da população, afinal para que estudar tanto para ser um economista, se o técnico em contabilidade estuda 3 anos a menos e ganha quase o mesmo? Acho que no fim, acaba sendo por vocação mesmo. Pelo menos aqui, aquele que tem vocação e vontade não deixa de estudar por não poder pagar mensalidade de faculdade, todo mundo tem direito a bolsa de estudo do governo.

Mas quer saber de uma coisa? Sou quadrada. Se um dia eu tiver um filho que quer ser ajudante de pedreiro, vai levar peteleco até fazer engenharia civil.

 

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