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Quanto custa ter um filho?

Adriana van den Broek

 

Óquei, podem me chamar de neurótica. Eu prefiro pensar que sou "prudente". Já que em dois anos eu tenho que decidir se terei um filho ou não, vamos ver se tenho como bancar o bichinho até ele ir para escola.

Parto do princípio de que continuarei trabalhando. E não quero au-pair. O bacuri deverá, portanto, ir para o daycare, aqui chamado de creche.

Existe na Holanda uma lei chamada Kinderopvang - em vigor desde janeiro de 2005 - dizendo que os pais, empregadores dos pais e governo são encarregados de pagar os custos da creche. Teoricamente, os empregadores do pai e da mãe pagam juntos um terço da "mensalidade", e os pais e o governo, o resto. Aí, como em tudo neste país, a participação do governo nesta conta vai depender do salário dos pais.

Abri a tabela da participação do governo e de cara tive uma feliz surpresa: ela começa dizendo que o governo paga 53% da mensalidade da creche. Como já estou escolada, olhei melhor e vi que esse valor era relativo a renda familiar até 20 mil euros. Fui descendo na tabelinha, crente que, considerando-se nossa renda, teríamos uma contribuição bem menor, mas ainda expressiva. Sabe quanto  receberíamos do governo? ZERO, nadica de nada, niets.

É aquela história manjada de que, em país socialista, o governo ajuda a quem precisa. Eu até entendo o princípio: quem ganha 20 mil precisa de ajuda, quem ganha 100 mil não precisa de ajuda. Há quem diga que aqui não existe tanta diferença social, e eu concordo discordando. Não existe o absurdo que vemos no Brasil, onde o arquiteto ganha 10 mil reais por mês e o pedreiro 500 reais. Mas, entre o cliente do ALDI e do AH há sim uma enorme diferença, que o governo "suaviza" assim: quem ganha pouco tem ajuda para tudo. Paga o seguro médico do governo, que é bem mais barato do que o particular; pode pedir ajuda para pagar a hipoteca ou aluguel; se comprar uma casa que custe menos de 230 mil euros, recebe parte dos juros do financiamento de volta, e ganha a ajuda do governo para pagar a creche. Pasmem, mas a apostilinha do inburgering cursus ( programa de integração ) diz que famílias de baixa renda podem, via socialedienst ( algo como assistência social ), pedir gratuitamente a carteirinha de  acesso às piscinas públicas da cidade. Então, enquanto você trabalha, seu marido trabalha, seu filho fica na cara creche, os filhos do seu vizinho estão se divertindo na piscina sem pagar um tostão!

Não adianta: nasci num país capitalista, o capitalismo me foi transmitido via DNA, e eu não consigo deixar de pensar que eu e meu marido, sem filhos, pagamos uma carga tributária altíssima ( 42% do salário retido na fonte!!!! ) e não usufruimos de nenhum desses benefícios, enquanto as familias de menor renda pagam menos impostos, têm dois ou três filhos, e esses filhos têm plano de saúde gratuito, escola gratuita, se necessário creche subsidiada... Ou seja, eu estou pagando para sustentar os filhos deles. Claro que essa é uma visão simplista, mas vejam bem, eu sempre pagarei mais impostos e nunca terei a taxa de retorno que essas famílias têm.

Às vezes eu fico tentando entender porque tantos holandeses são "cuca-fresca", profissionalmente falando.  Por que não estão muito interessados em subir na carreira, ganhar mais. Mulheres não dão tanta importância a trabalhar e complementar a renda e melhorar a vida familiar. É que,  se faltar, está lá a mãozinha do governo estendidinha para ajudar. Por que a mulher haveria de  trabalhar, ver metade do seu salário ir para a creche, se ela pode ficar em casa no bem-bom, recebendo ajuda do governo para pagar isso e aquilo? Queria ver se holandês viveria nesta vida mansa se, ao se aposentar, recebesse o que os brasileiros recebem de aposentadoria; queria ver se, assim como nós,  não teriam que "rebolar" um pouquinho mais para fazer um pezinho de meia.

Mas, no fim, o jeito holandês é que deve ser o certo. Eles vivem mais do que os brasileiros, eles têm menos problemas sociais, não têm dívida externa, baixo nível de criminalidade... Mas vamos combinar, é difícil ou não lidar como esse povo que "vive com o breque de mão puxado"?

Ah, voltando à questão-título, quanto custa ter um bebê? Olha, ainda estou somando, mas só de creche, nos primeiros quatro anos de vida do bacuri, vão-se 10 mil euros por ano. Afirmação do meu marido: só vamos pensar em ter um filho quando conseguirmos colocar na poupança, por dois anos consecutivos, 10 mil euros cada ano. Agora diga aí, quem de vocês conseguiu guardar essa quantia no ano passado?

 

 

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