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Homens: o produto importado é melhor que o nacional?

Adriana van den Broek

 

Cada vez mais vejo brasileiras escolhendo “o produto” importado em detrimento ao nacional. O comentário é sempre o mesmo, falta homem no Brasil, e os que estão disponíveis não querem um compromisso sério.

Então eu pergunto: existe mais homem disponível na Holanda do que no Brasil? O homem brasileiro é mesmo mais “mulherengo” que o holandês?

Embora eu não tenha achado nenhuma “pesquisa oficial”, nos quatro anos que eu vivo aqui, notei sim que os homens holandeses são mais fiéis, mais comprometidos com seu relacionamento, e mais dispostos a encarar uma relação mais séria. Aqui na Holanda, o verbo namorar ainda não virou palavra “non-grata”.

Mas acho também que isso tem muito a ver com a diferença que existe entre nós, mulheres brasileiras e as holandesas. Fomos criadas para casar. Eu fui, você não foi? Minha geração até foi exposta à idéia de estudar, ter uma profissão, mas a prioridade ainda era casar. Sua mãe podia até tentar dar mais ênfase aos estudos, a sua futura profissão, mas as tias mais velhas, as avós, as vizinhas, todas murmuravam em uníssono: tens que casar. E as piadinhas sobre a fulana que “ficou para titia”? E a coitada da ciclana que ficou “solteirona”? Tínhamos uma amiga da família que sempre falava: divorciada é melhor que solteirona, viúva é melhor que solteirona, ter um marido que sumiu sem dar notícia, qualquer coisa é melhor do que ser solteirona. Some-se aí a tendência natural da mulher de pensar mais em formar uma família do que o homem, os anos de contos de fadas que ouvimos enquanto os meninos ouviam histórias de bangue-bangue e piratas, e o resultado não podia ser outro: passou dos 20, estamos a perigo. E com tanta mulher “a perigo”, a homarada deita e rola, literalmente. Com uma mulher diferente a cada fim de semana.

E nossas colegas holandesas? As poucas que conheço foram muito mais direcionadas aos estudos do que ao casamento, cresceram ouvindo muito mais as histórias da peralta “Pipi das meias-compridas” do que histórias da Cinderela, Bela-adormecida e afins, e levam mais a sério mesmo o ditado de que é melhor estar sozinha do que mal acompanhada. Não sei bem explicar porque, mas elas me parecem menos “afoitas” para se casar. Faço aqui uma ressalva: as holandesas com quem tive contato são aquelas do escritório, todas estudaram, têm nível superior, não sei se as que não estudaram são mais “casamenteiras”.

Dia desses eu estava conversando ao telefone com uma amiga lá em São Paulo, e ela me contava as estripulias de um amigo que temos em comum. E as de outro amigo em comum. E como estava difícil para ela encontrar um namorado. E concluiu: você sim está vivendo um “conto-de-fadas”.

Não, não estou vivendo um conto de fadas. Simplesmente me recusei, mesmo após 4 anos de noivado, a casar com um sujeito que não me respeitava. Eu sabia que eu merecia coisa melhor, e definitivamente “nem tudo é pior que ficar solteirona”. Abrir mão dos meus princípios é muito pior do que ficar solteirona. Sim, dei uma sorte tremenda ao encontrar meu marido, ainda mais se pensarmos quão longe ele estava. Casei com um homem que faz do nosso casamento sua prioridade. Porém, não peço a ele nada a mais do que eu também não faça: que ele, assim como eu, se dedique para construir a vida que sonhamos para nós e que ele me respeite da mesma forma como eu o respeito. Muito triste pensar que o conto de fadas não é mais a fantasia de “em momentos de grandes dificuldades ser resgatada por um príncipe encantado, lindo, charmoso, rico, num cavalo branco; ser levada para um castelo encantado numa terra distante, e viver feliz para sempre”.

Que mundo é esse, onde casar com um carinha legal, fiel, sem grandes vícios, ir ao supermercado nas sextas-feiras juntinhos e reciclar papel e vidros, tenha virado uma fantasia, um conto de fadas? Antes, achávamos todas que merecíamos o príncipe perfeito, hoje temos é que dar graças a Deus se não moramos debaixo da ponte, passamos fome ou somos traídas. Temo que, assim como o príncipe nada mais era que um mito irreal, o “homem normal e descente” também esteja virando um mito inalcançável.

Já até imaginei o conto de fadas que contaremos às nossas filhas. Vai começar assim:

Era uma vez, numa empresa multinacional, um engenheiro muito gentil chamado Hanz...

 

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