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Arnild Van de Velde |
Ronaldo, Lula e outras lendas brasileiras
Arnild Van de Velde
Gordo. Lerdo. Fingido. Enfeitiçado.
Desde a última terça-feira, dia em que o Brasil estreou na Copa 2006 - em jogo contra a Croácia - Ronaldo, conhecido como "O Fenômeno", não sai da boca do povo deste planeta. No país da competição, alemães entendidos de futebol não escondem sua
Schadenfreude* diante de um Ronaldo que, literalmente, mais estava para touro sentado, do que para o goleador que, em muitas ocasiões, torna a vida do brasileiro no exterior um suplício. "Ronal-do, Ronal-do?" é a pergunta favorita do interlocutor estrangeiro, assim que acaba de me conhecer. Sim, Ronaldo é o assunto inicial de qualquer small talk** da qual eu já tenha participado, seja com o diretor de empresa, o funcionário de governo, ou o motorista de táxi. Por culpa de Ronaldo eu até me obriguei a aprender alguma coisa sobre futebol, já que até aqui eu não havia descoberto uma maneira de me livrar desta sombra futebolística que paira sobre a minha nacionalidade.
A gordura de Ronaldo já preocupava o presidente Lula da Silva antes mesmo da terça-feira 13. Em telefonema com o técnico Carlos Alberto Parreira, Lula quis saber se o jogador estava mesmo gordo. Não se sabe ao certo se por uma ingenuidade de torcedor, ou se por esperteza, uma vez que é do governo dele a invenção do programa "Fome Zero". Pegou mal. Ronaldo, tão aborrecido com Lula quanto o próprio Lula, tempos atrás, com Larry Roth - aquele jornalista americano que ousou publicar que o presidente bebe demais - teria insinuado preferir o excesso de peso, ao hábito de beber. Saia justa própria de quem disputa o primeiro lugar do tombo ao chão - a princípio, destino certo de ambos. Mas, profetizar o fim de um e outro é coisa de quem raciocina com simplicidade. Em se tratando de Ronaldo, vingança de alemão com mágoa da final Copa 2002; quanto a Lula, teimosia de quem não acredita que gato tem sete vidas.
"Ronaldo está gordo, ou é Lula que está bêbado?", perguntou a criatura em certa comunidade de brasileiros expatriados, no site de relacionamentos Orkut. "Os dois", respondeu o contraponto. A moça das emoções(segundo definição da inimitável Posh Dirndl), vaticinou: "Ronaldo está enfeitiçado. Foi vítima das mandingas de suas ex-mulheres, que juraram ele nos terreiros de macumba". Agora parem e pensem: existe coisa mais nossa do que um presidente que bebe demais, preocupado com um atacante que come demais(entendam como quiserem), e que, por culpa de sua própria gula(idem), acaba servindo de alimento para deuses que vingam mulheres traídas? Por um e por outro, pelo amorrrrrrrrrr de Deus: rezemos para Nossa Senhora dos Milagres!
Enquanto Lula reflete sobre o peso de Ronaldo, e Ronaldo pensa que é Romário, a imprensa nacional vende o peixe de que a Alemanha é o Jardim do Éden. Jornalistas brasileiros deslocados para cobrir a Copa parecem meninos diante da Legolândia. A apresentadora Ana Maria Braga(ok, não vale, mas ela está lá, não é mesmo?) encantou-se infantilmente com a quantidade de crianças loirinhas nas ruas de Munique. Uma outra me escreveu do Brasil querendo saber como fazíamos para suportar a vida sem leite condensado, aqui na Europa(!).
Só falta a Fátima Bernardes adotar o look chapéu tirolês, para que a pieguice seja coroada. Ou que a torcida brasileira apareça na porta de um hospital, em vígilia por Ronaldo, o Kaputt.
Em telefonema à chanceler Angela Merkel, Lula da Silva teria dito que aproveitará a entrega da Copa à seleção, para visitar oficialmente a Alemanha. Os alemães interpretaram a gracinha do presidente como uma arrogância. Lula-lá? Não, Lula- lallt***, diriam os mais impertinentes.
* Schadenfreude: Alegria causada pelo sofrimento/miséria/derrota alheia
** Small talk: Conversa fiada
*** Lallen: Do alemão coloquial: a fala típica de quem está sob efeito do álcool.
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