Em 31 de março próximo, as vitrines do bairro "da luz vermelha" apresentarão na capital holandesa uma novidade da cena da prostituição legalizada. Naquele sábado de primavera, serviços sexuais habitualmente prestados por mulheres serão também oferecidos por homens, que pela primeira vez se exibirão nas janelas - ao lado dos coffeshops, a maior atração turística de Amsterdã. A iniciativa é dos organizadores do "Open Dag Wallen", dia em que as portas do bairro estarão, pelo segundo ano consecutivo, abertas à visitação pública.
A campanha busca a revitalização do local e deverá incluir estrangeiros entre os 'novatos'. Brinca também com o bordão "agora as mulheres também têm seus direitos". Em novembro de 2006, a prefeitura da cidade ordenou o fechamento dos bordéis de um famoso chefão da área, Charles Geerts, acusado, entre outros crimes, de lavagem de dinheiro e do incentivo à pornografia infantil. Outros proprietários com problemas com alvarás de funcionamento então se juntaram a ele numa ação judicial que garantiu o prosseguimento das atividades, em princípio até o início deste ano.
Em janeiro, alegando a necessidade de antecipar eventuais prejuízos, Geerts, cuja fortuna é avaliada em 12,3 milhões de euros, vendeu quatro de seus estabelecimentos por 3,5 milhões. A venda, porém, não afetou os negócios dele, que é dono de 20% das vitrines de Amsterdã.
Segundo dados do Centro de Informações sobre Sexualidade Rutgers Nisso, 30 mil mulheres trabalham como prostitutas na Holanda, das quais 1.500 seriam menores de 18 anos. Legalizada no país em 2000, a atividade, ao contrário do que se imagina, divide a opinião pública. Enquanto o governo defende o direito das mulheres à profissão, desde que amplamente informadas a respeito de seus riscos e conseqüências, há quem lembre que a prostituição é uma forma de discriminação.
Membro do conselho da Prefeitura de Amsterdã, Karina Schaapman, do Partido do Trabalho (PvdA), tem acompanhado ex-prostitutas em reorientação profissional. "Quanto mais eu conheço a realidade dessas mulheres, mais convencida fico de que legalizar a prostituição não contribui para a emancipação e libertação femininas", disse ela em artigo para a publicação "Terecht" (algo como "de direito"), da Liga Pelos Direitos Humanos, entidade local.
Ao mesmo tempo em que atrai milhares de pessoas à capital holandesa, o bairro da luz vermelha é também uma preocupação para o governo e a polícia. Promulgada em 2003, a Bibob - lei para a garantia da integridade nos negócios - forneceu a base legal para que a prefeitura ordenasse o fechamento dos bordéis.
Com a Bibob, o governo quer evitar que atividades como lavagem de dinheiro sejam desenvolvidas com o aval público, a exemplo da concessão de alvará de funcionamento a empresas de fachada. Além de manter os olhos sobre os traficantes de mulheres, a polícia tenta não perder de vista as centenas de pequenos traficantes de drogas ilegais que perambulam pelo bairro, no qual é proibido fotografar sem autorização prévia. Na Holanda, apenas a maconha - principal oferta dos coffeshops - é permitida pela lei. |