Een beetje verliefd* por André Hazes
Maria Bethânia S. dos Santos
Sou apaixonada por música. Para ser mais sincera poderia dizer que sou movida à música. E sendo assim, nada mais normal do que procurar coisas novas neste país que agora me encontro. No início foi muito difícil. Como gostar de algo que você não entende!!?? Como desfrutar de uma canção sem saborear o seu texto?
Sei bem que no Brasil temos músicas com letras que não são nenhuma obra de arte, mas que são uma delícia pra gente gritar, pular, colocar toda a energia acumulada pra fora. Exemplo disso? Uma das minhas prediletas é da cantora Ivete Sangalo “E tá um empurra, empurra aqui – mas tá gostoso, melhor ainda é pular no meio do povo”. Quem é que vai querer filosofar no meio disso !!? Melhor mesmo é pular e muito.
Mas, também tem aquela hora que queremos uma música mais tranquila, mais sutil, mais doce – nestes momentos ataco de Bossa Nova, coloco um incenso gostoso e não estou mais neste mundo. Tenho músicas para tudo. E quase tudo que eu faço é com música.
Numa das minhas férias por aqui um amigo meu adorava cantarolar algo só para me atentar. E eu ficava pensando… o que será isso !?!? Algum tempo depois descobri que era “aquela” música do Frans Bauer – Heb je even voor mij**? E eu só ficava no lá lá lá lá…Conseguia guardar a melodia, mas nada da letra.
Já na Holanda, paralelamente ao estudo da língua holandesa, continuei minha busca por algum tipo de música que pudesse me fazer gostar um pouco “desta” língua. Mas, convenhamos, é humanamente impossível você entender qualquer coisa dessas letra sem ter saído do básico. E se o(a) compositor(a) dá uma caprichada no texto então, a coisa complica. É como querer que alguém entenda Caetano ainda engatinhando no português. Lembro-me de ter ouvido algo de Jan Smith mas, ainda com este moço, o ritmo era muito rápido e a letra muito acima do meu humilde vocabulário holandês.
O fato de ter visto holandeses tocando muito bem a música brasileira, mostrando um entusiasmo e uma vibração com estilos que muitos brasileiros sequer conhecem estimularam- me ainda mais na minha busca. Vi uma apresentação maravilhosa em Hellendoorn de um grupo que tocou chorinhos clássicos como Andre de Sapato Novo e Saxofone por que choras. Outro grupo chamado Gente Boa, aqui mesmo em Deventer, cantando pérolas da Bossa Nova, fez-me sentir um pouco mais orgulhosa de ser brasileira.
Mas, a pergunta continuava – será que algum dia acho alguém que cante algo que me toque, alcance a minha buitenlandse ziel***? E melhor, algo que eu possa compreender mesmo sem o domínio da língua?
Pois bem…quem tocou minha alma não foi Marco Borsato – apesar de gostar muito dele, não foi Anouk – ainda que possa entendê-la, pois canta em inglês e tem músicas muito legais, não foi Guus Meeuwis com sua voz linda. Foi André Hazes com uma música que falava sobre um menino e sua pipa. Ao assistir o dvd do seu show e ver as pessoas berrando suas músicas que – em grande maioria – falam de amor, encontrei o que buscava. A curiosidade me impulsionou a procurar suas letras que se mostraram simples, tocantes e – o mais importante – acessíveis para mim. Vi um cantor sem vergonha de se emocionar, de mostrar paixão.
Talvez minha alma seja muito mais velha que minha idade porque apesar de gostar de cantores “mais modernos” com batidas que a gente se acaba numa pista de dança (viva dj Tiesto!!), foi com André Hazes que percebi que “até” o holandês pode se mostrar romântico, apaixonado, melódico. Hoje me pego cantarolando trechos de sua música e isso deu um sentido novo para o meu estudo de holandês. A frustação é bem menor. Ouvir e entender para assim perceber mais, tentando ver além dos meus olhos essencialmente brasileiros, buscando assim alcançar um pouquinho da alma holandesa. Certamente esta alma está espelhada em outras tantas músicas, espalhada em outras letras, mas só aquelas que me emocionam é que ficam. E André Hazes ficou.
* Um pouquinho apaixonada
** Você tem tempo para mim?
*** Alma estrangeira
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