Um outono de cores

Maria Bethânia S. dos Santos

Estar na Europa no outono é um privilégio, especialmente, para olhos tropicais tão habituados ao verde quanto os meus. Sendo uma admiradora da natureza vivo essa estação com intensidade.

Não são raras as vezes que me vejo observando as folhas secas pelo chão. Adoro o barulho que fazem  quando piso nelas ainda secas, longe da chuva que já começa a cair por aqui. E as cores? Ah... essas cores! Não há dia tão escuro que impeça o laranja de “brilhar”. Árvores de cores exóticas, com folhas cor de balinha de jujuba sabor morango.

Como eu gostaria de poder colocar num texto a sensação que é poder “sentir essas cores”. Vejamos: pense num belo pôr-do-sol aí do Brasil, daqueles com tons que variam do amarelo ouro ao vermelho passando pelo laranja, o rosa, o cobre até a cor de ferrugem. Depois espalhe estas cores pelas árvores nas mais diferentes combinações e você vai ter uma idéia. Não esqueça de acrescentar o vento - mais frio que o habitual - e a chuva. Aumente a intensidade do vento e você verá folhas caindo como se fôssem neve amarela pelo chão. Ah.. o cheiro de terra molhada é muito importante.

Acho que temos muito a aprender com o outono. A principal lição – o desapego – o deixar ir daquilo que não nos serve mais, que já passou do tempo. A limpeza geral do “corpo e do espírito”, por isso a chuva tão essencial no trabalho de purificação.

O outono pra mim jamais será triste, guardo estas cores comigo até a primavera e procuro também não me esquecer de dar espaço para o novo. Então, a hora é essa, hora de deixar minhas “folhas secas” pelo chão. E que a chuva e o vento se encarreguem delas. Eu só quero ficar da janela vendo-as partir, feliz por saber que está é a melhor forma de amadurecer e/ou crescer.

As folhas se vão, mas as raízes se mantêm firmes.