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Clarissa Mattos
- Baiana de Salvador,  administradora de empresas e pós-graduada em Marketing e E-Business, nos  últimos anos tem atuado nas áreas de comunicação e marketing. Hoje mora em De Bilt e, além de música, cinema, literatura e fotografia, adora conhecer  novas pessoas, lugares e culturas.


Elas estão na berlinda

Clarissa Mattos

 


Moderna, emancipada e liberal. Antes de chegar por aqui, essa era a imagem que tinha da mulher holandesa. Bom, acho que de todos estereótipos que tinha da Holanda, nenhum estava tão erroneamente formado. Coincidentemente, nas últimas semanas tenho observado mais e mais artigos, estudos e reportagens publicadas sobre a mulher holandesa. Por que será?

A verdade é que depois de alguns maus anos, a economia está indo de vento em popa. No entanto, as velas não estão sendo suficientes e mais remadores - melhor dizendo remadoras - são necessários para fazer essa galé seguir adiante. Afinal navegar foi, é e será sempre preciso. Mas para que isso efetivamente aconteça, alguns pauzinhos têm que ser mexidos. Vejam só alguns números apresentados num artigo publicado no Volkskrant do dia 13 de outubro.

A participação das mulheres no mercado de trabalho holandês está 65% acima da média européia. Até aí, ponto para as holandesas. O queijo começa a embolorar quando comparamos a quantidade de horas trabalhadas. Enquanto que em países como Suécia, Itália e Alemanha, este número está acima das 30 horas. Aqui, no pindorama latícinio esse número fica na média de 25, 5 horas.

Outro dado interessante é que apenas 5% das mulheres com filhos trabalham dois turnos. A maioria se contenta em trabalhar 2 ou 3 dias por semana. E a relação entre filhos e horas trabalhadas, claro, é inversamente proporcional: quanto mais filhos, menos trabalho ( fora de casa, claro. Em casa só aumenta). Após o nascimento do primeiro filho, 25 % das mulheres param de trabalhar. Depois do quarto rebento, mais de 50% jogam os terninhos no lixo e se contentam com as fraldas.

De acordo com o último estudo apresentado no Prinsjesdag, a tendência é de vermos ainda mais trabalhos temporários e de meio-turno. As novas gerações já procuram um primeiro trabalho que seja de meio turno e depois de terem filhos diminuem ainda mais a labuta fora de casa. O que podemos esperar num futuro próximo? Dependência financeira. Ao mesmo tempo, as mulheres se dizem satisfeitas com os seus trabalhos de meio período e com o tempo que dedicam a sua família. Assim, muitas vezes a dependência financeira é uma questão de opção.

Pelo que tenho visto e lido existem razões de ordem prática e cultural. Primeiro, aqui não existe babá fulltime como no Brasil e as creches são caríssimas. Mas acredito que as principais razões são mesmo de ordem cultural. Numa pesquisa feita pelo Sociaal Culturel Planbureau (SCP) apareceu o seguinte resultado: 60% das mulheres e 75% dos homens acaham que uma criança é melhor criada pelos pais. Leia-se: não à creche. Resultado: menos mulheres no mercado de trabalho. Numa rápida entrevista que fiz com a Daphne Deckers no lançamento da Revista Vrouw, ela tocou justamente no impasse entre carreira e filhos em que se encontra a "cheia de culpa" mulher holandesa .

Solução? Melhorar e aumentar a oferta de alternativas para cuidar das crianças, novas formas de trabalho como horas flexíveis, por exemplo e muita criatividade. Foi aprovada uma moção no Parlamento em que as escolas terão de oferecer serviços extras para as crianças, caso seja solicitado pelos pais. Ou seja, as crianças poderão ficar mais tempo na escola e os pais - os dois!- no trabalho. Isso pode realmente significar um rompimento neste ciclo de mais filhos-menos trabalho, mas acredito que o que ainda mais vale é a opção. Se a mulher (ou o homem) prefere passar mais tempo em casa cuidando dos filhos e ter um trabalho de meio-turno que assim seja. O que não pode ocorrer é que alguém seja impedido de prosseguir com a sua carreira porque não tem com quem deixar os seus filhos. Resta saber se é isso mesmo que elas querem.

 

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