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Clarissa Mattos
- Baiana de Salvador,  administradora de empresas e pós-graduada em Marketing e E-Business, nos  últimos anos tem atuado nas áreas de comunicação e marketing. Hoje mora em De Bilt e, além de música, cinema, literatura e fotografia, adora conhecer  novas pessoas, lugares e culturas.




Olodum dá show de ritmo e cidadania em Amsterdã

Texto: Clarissa Mattos
Fotos: Ron Beenen
©2008
Reprodução proibida


O Olodum fez show na capital holandesa na última quarta-feira e trouxe ritmo com consciência social para a Holanda. Num bate-papo rápido com músicos e presidente do Grupo, além de música, foram discutidos assuntos como racismo, cidadania e ação social.

Quando comecei a ouvir no rádio a música Nossa Gente (Avisa Lá) do Olodum, não tinha menor idéia do que isso representaria para mim e para o cenário musico-social de Salvador. A canção que hoje é cantada por várias estrelas da música baiana representou o fim do isolamento da desconhecida e marginalizada porção afro-brasileira soteropolitana. De repente, o lado afro de Salvador tornou-se bacana e entrou na moda. Naquela época, bloco afro era aquele grupo de negros e mestiços que desfilava nas madrugadas do carnaval e que não interessava nem um pouco à mídia. Esse era um mundo distante da minha vida de classe média e, através da música, revelou-se como parte da minha cultura e de grande parcela da população baiana e brasileira.

Em meados nos anos 90, o Olodum tornou-se internacionalemte famoso, através de parcerias com Paul Simon e com o clipe de Michael Jackson. Quanto a mim? Jamais imaginei que, em 2008, estaria morando na Holanda, nem tampouco que teria o prazer de ver a Bahia e o Brasil representados pelo Olodum em Amsterdã.

Na última quarta-feira, 23 de julho, aconteceu na Melkweg em Amsterdã, o show do Olodum. Antes de começar, conversei rapidamente com alguns músicos da banda e com João Jorge Rodrigues, presidente do grupo, que na verdade, hoje, é muito mais do que uma banda e um bloco carnavalesco. Logo de início, João Jorge me alerta que quer falar muito mais do que sobre música e o tranquilizo dizendo que esse era também o meu objetivo. Enquanto mais e mais gente se acomodova no salão da casa noturna, eu sentava na mesa do restaurante e, durante a refeição da banda, conversamos sobre música, racismo, ações sociais, cultura e muito mais.


Ação social e igualdade racial

Em 2009, o Olodum completa 30 anos e muitos dos que estavam sentados à mesa comigo, começaram na banda, através da Escola Olodum. Este é um projeto pioneiro que visa proporcionar a crianças carentes, o desenvolvimento da cidadania e o conhecimento da cultura negra. Hoje são 300 crianças que se beneficiam da iniciativa. Lucas di Fiori, mais novo vocalista,  assim com outros membros da banda, são a prova do sucesso do empreendiomento socio-musical.

João Jorge também falou sobre um dos pilares do grupo cultural, que é a igualdade racial.  Ele ressaltou que Olodum luta pela reparação aos danos que a escravidão produziu nos afro-brasileiros e também pela inclusão de novos direitos socais, como a política de cotas nas universidades e na publicidade, na mídia em geral. Ressaltou a  ausência de afro-descendentes posições de destaque em novelas e na mídia em geral, mas reconheceu que o quadro começa a mudar.

O show: samba reggae e homenagem ao povo brasileiro

Confirmando a previsão do cantor Germano Meneghel, o show já começou em ritmo de Alegria Geral e o público retribuiu o sucesso com empolgação. E se Olodum já foi hippie, pop, reggae e rock, João Jorge, com orgulho, esclarece que o grupo cultural também criou o samba-reggae, uma mistura do reggae caribenho com o samba baiano, que tem sua origem na Angola. "O samba-reggae é uma criação do Mestre Neguinho do Samba e não tem nada a ver com axé music" esclarece. Ele explica que o samba-reggae é a música da comunidade negra,  cujo ritmo é profundamente relacionado com a causa social e com as tradições africanas como capoeira, maculelê e candomblé.


O show realizado na Holanda fez parte da turnê O Poeta Olodum, que passa por vários países Europeus, como Espanha, França, Holanda, Itália, Alemanha, Portugal e Suíça. A apresentação seguiu com diversas outras músicas. Algumas menos conhecidas e outras famosas, já incansavelmente cantadas e celebradas pelo público. Como João Jorge e Germano haviam falado, o show foi uma reunião dos vários temas já cantados pelo Olodum. O grupo cantou o amor, na composição Rosa. O reagge jamaicano em parceria com o Jimmy Cliff, a escravidão, no seu Navio negreiro e tantos outros outros temas já explorados pelo bloco e pela banda.

Germano também garantiu que homenagearia o povo latino e brasileiro. E assim o fez. Gonzaguinha foi relembrado com o hino "O que é? O que é?" e Jorge Benjor com o sucesso internacional "Mas, que nada" - que ficou famoso na versão de Sérgio Mendes. Não só os brasileiros, mas muitos outros presentes  responderam com entusiasmo à homenagem. Uma outra brasileira que foi lembrada com emoção, foi a Mãe Menininha do Gantuá.

Bis e causa social

Apesar do minguado bis com apenas um número, muitas pessoas, após o show, com muito ânimo e disposição adquiriram camisas e outros produtos do grupo. Sessenta por cento da renda adquirida com a venda dos produtos vendidos nas apresentações são revertidos para o projeto da Escola Olodum.




- 28/07/2008


 

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