Sensuàl. Jazz’n Grooves brasileiros que seduzem a Holanda
Texto: Clarissa Mattos, Fotos: Merlijn Doomernik
Cantando em português, eles levaram o Jazzism Edison Award pra casa. Com a agenda cheia, veem marcando presença nos mais importantes festivais de jazz, talk shows, capas de revista especializadas e se firmando com a nova banda queridinha da Holanda.
Com um som definido como Brazilian Jazz 'n Grooves e com convincentes 42% dos votos, a banda Sensuàl ganhou o prêmio de público da mais tradicional premiação musical da Holanda: o Edison Award. Liderada pela cantora Eva Kieboom e pelo tecladista Emiel van Rijthoven, a banda lançou o álbum Salve no ano passado e as canções em português de autoria própria, vem chamando a atenção do público, crítica e mídia holandesas.
Eva escreve as letras e Emiel, além de assinar a produção do álbum, é responsável por melodias e arranjos. Mas não espere letras falando de cenários tropicais ou de uma realidade distante do dia-a-dia dos músicos. Também não espere standards da bossa nova ou uma MPB repaginada. O Brasil entra com o idioma e com muita da linha percussiva, mas versos como “ando de bicicletas sobre pontes e canais” expressam o cotidiano, as emoções e sentimentos da compositora.
Nas melodias, a influência do jazz é clara, mas o pop tem presença forte
e a mistura dos vários estilos resulta num som próprio, que ganha mais energia em apresentações ao vivo.
Tive a oportunidade de conversar com Eva Kieboom para entender melhor o Brazilian Jazz 'n Grooves da Sensuàl e o resultado você abaixo:
Clarissa Mattos - Mais holandeses que vocês, impossível. Então, como essa semente brasileira foi plantada na Sensuàl? Por que cantar em Português?
Eva Kieboom - Fomos influenciados pela música brasileira durante nossos anos de estudo no Conservatório de Música em Utrecht. O violonista uruguaio Leonardo Amuedo, que conduziu um dos workshops de música brasileira que aconteciam na Universidade, foi um dos que nos motivaram a ampliar os nossos horizontes para esse estilo. Para mim (Eva), primeiro o português me trouxe apenas uma boa sensação, uma certa melancolia. Agora que entendo a língua, as músicas brasileiras ganharam uma outra dimensão.
CM - Eva, você compõe numa língua que não é a sua. Como você mantém o contato com a língua?
EK - Muita leitura, tradução de poesia, filmes brasileiros e claro, a música. Os meus textos são checados quanto à gramática e a minha pronúncia corrigida quando necessário. Mas é importante dizer que não pretendo me passar por brasileira. Sempre terei o meu próprio sotaque e o meu próprio jeito de cantar em português.
CM - Brazilian Jazz'n Groooves. Podemos dizer que esse é o estilo musical da Sensuàl? Você pode explicar um pouco mais?
EK - Sim, Brazilian Jazz 'n Grooves ainda é a melhor maneira de descrever a música da Sensuàl. Além de sermos influenciados pela música brasileira, todos os componentes da banda são músicos que estudaram pop e jazz. Por isso, somos uma mistura de todos esses estilos.
CM - Como acontece o processo criativo? Como são compostas as canções ?
EK - Eu escrevo todas as letras, que algumas vezes vêm acompanhadas de alguma melodia ou acordes. Emiel faz a composição final e todos os arranjos. Nos reunimos quando os dois teem algum material pronto e aí começa o nosso quebra-cabeças, corte e colagem até chegar a uma música.
CM - Você já foi o Brasil? Como foi? Deu pra se inspirar?
Sim, estive no Brasil, na Bahia. Foi muito inspirador porque o sentimento, a impressão do país que eu tinha antes de ir combinou perfeitamente com o que vi e senti lá: o povo brasileiro tem uma energia tão forte, tão positiva.
CM - Falando em inspiração, quais são as referências e fontes de inspiração da Sensuàl?
EK - A primeira cantora brasileira que me inspirou foi Elis Regina. No início, Sensual fazia muito cover de músicas brasileiras, como Upa Neguinho, Me Deixa em Paz, dentre outras. Mais tarde, conheci o trabalho de Rosa Passos, Gonzaguinha, João Gilberto...ah, são tantos.
CM - Brasileiros e Holandeses sentem a música de forma diferente. Você também sente isso?
EK - Sim, com certeza sinto isso. O holandês é muito mais analítico em relação à música. Por exemplo, se um holandês e um brasileiro ouvissem a Sensuàl tocando, o holandês iria ter mais críticas negativas do que o brasileiro. O brasileiro provavelmente iria sentir a música com uma vibração mais positiva, relacionada ao que ele sente e vivencia quando a ouve ou dança. Não estaria preocupado com qual nota ou acorde iria ficar melhor, qual ritmo seria mais apropriado ou qual palavra deveria ser melhor pronunciada.
CM - Como são as reações de brasileiros aqui na Holanda que vão aos seus shows ou visitam o site da banda?
EK - Eles são o máximo! Dão muito apoio e ficam superentusiasmados porque cantamos na língua deles, misturando a música brasileira com o nosso groove 'n jazz.
CM - Sensuàl ganhou um importante prêmio holandês, o Edison Award. E esse foi um prêmio de público. Como você vê o fato de uma banda que canta em português ser escolhida pelo público holandês?
EK - Acho que é uma grande coisa. Nunca poderia imaginar que isso poderia acontecer. Acho que tem muito a ver com a energia que a Sensuàl leva para o público. Adoramos tocar e o público sente isso. Sempre tentamos fazer com que a platéia entre na nossa energia e abraçá-la com a nossa música. A língua não é uma barreira. O melhor elogio que podemos receber é: "Poxa, dá pra notar como vocês se divertem quando tocam."
CM -
Salve é o segundo álbum da Sensuàl, lançado depois do Acústico. Qual a diferença entre os dois?
EK - O primeiro álbum (Acústico) refletiu a Sensuàl no seu início. Tocando standards como Garota de Ipanema. Já revestidos do nosso estilo, é bem verdade, mas ainda era um trabalho mais tradicional. Em Salve, todas as canções, com exceção de uma, são composições nossas. Nós crescemos, amadurecemos como compositores e produtores. Também o português tornou-se mais conectado. O som da Sensuàl floresce com Salve.
CM - Planos pro futuro? O que podemos esperar? Novos Projetos, desejos...
EK - Acabamos de chegar de uma turnê na Indonésia e voltamos muito entusiasmados com o resultado. A reação do público foi extraordinária.
O nosso álbum e um single foram lançados lá.
Já começamos a compor para o nosso terceiro álbum, que ainda deve ser lançado este ano. Dessa vez, queremos ter mais opções, mais canções para escolher. No final do ano de 2009, já temos planejada outra turnê por diversos teatros na Holanda e claro, que adoraríamos ir com toda a banda para conhecer mais do seu lindo país.
- 07/04/2009