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Clívia Caraccíolo é jornalista e advogada, nascida em Belém do Pará e cidadã do mundo. Antes de se estabelecer na Holanda, morou em Londres. Especialista em desenvolvimento sustentável, energias renováveis e mudanças climáticas, temas que atualmente está prestando consultoria, mas é apaixonada mesmo por jornalismo multimídia. Viciada em noticiários.

 

Etanol brasileiro fura bloqueio de mercado na Holanda


Clivia Caracciolo, 7 de julho de 2008


O etanol brasileiro começa a conquistar o mercado europeu através da Holanda. Nesta segunda-feira,  foi lançado o hE15 biosuper, uma mistura de 15 por cento de etanol importado de plantações de cana de açúcar do Brasil e 85 por cento de gasolina do tipo euro 95. Gradativamente este porcentual vai ser de 20 por cento de etanol com selo Verde.

O novo produto pretende ser um substituto ao Euro 95 e Superplus 98 vendidos nos postos de abastecimento europeus e é o resultado positivo de uma pesquisa feita pela HE Blends BV e Design Process Center, através de testes rigorosos em veículos na Europa.

A pesquisa comprovou que maiores quantidades de água podem ser deixadas no etanol utilizado na mistura à gasolina. As especificações atuais para o etanol prevê que menos de 1 por cento de água esteja presente na sua composição. A explicação é de que água demais na mistura etanol-gasolina causa corrosão no motor do carro.

Segundo o engenheiro mecânico René Visser, diretor da Cleanfuel B.V., esta nova opção revolucionária de combustível vai trazer uma economia enorme nos custos de energia para a produção porque evita uma das etapas finais. Atualmente, retira-se a água do etanol, transformando-o em etanol anidro (seco), de maneira que ele possa ser misturado à gasolina. O hE15 biosuper, ao contrário, utiliza o etanol hidratado, como o brasileiro, contendo água.

Apesar de o governo holandês cobrar a mais alta taxa tarifária da Europa para a importação de etanol do Brasil, Visser acredita que vale a pena investir em um produto alternativo e sustentável que beneficia o meio ambiente e o consumidor. O preço do novo produto é um centavo mais barato que o Euro 95 e tendência é que a diferença no preço passe a ser maior. Na crise atual no mercado de petróleo o preço vai ser um fator importante para conquistar os consumidores e os donos de postos de abastecimento a adotar um produto a base de água, de acordo com Visser.

O que facilita também a introdução do hE15 biosuper na Holanda e no resto da Europa é que os motores não vão precisar ser adaptados para serem abastecidos. Estudos recentes mostraram que os carros fabricados atualmente no continente, sem motor flex, suportam até 22 por cento de etanol em seus tanques.

Atualmente, para cada bomba de abastecimento 1 milhão de litros de etanol estão sendo importados. A estimativa é de dentro de dois anos 20 milhões de etanol sejam necessários para atender os locais de abastecimento.

Além da cidade de Voorburg, outras três cidades holandesas,  Barendrecht, Spijkenisse e Roosendaal também dispõem agora de postos de gasolina da rede TankService Damsigt. A previsão da HE Blends é que dentro de dois anos o país tenha 165 pontos para abastecer na Holanda. “Conforme o resultado, ainda dentro destes dois anos, a Bélgica e a Alemanha também poderão ter pontos de venda do hE15 biosuper”, acrescenta Visser.

O embaixador do Brasil na Holanda, José Artur Denot Medeiros declarou que “esta primeira iniciativa comercial usando o etanol brasileiro é uma vitória e fruto da visita de estado do presidente Lula à Holanda, em meados de abril. O presidente Lula veio com a intenção de promover o etanol brasileiro e esclarecer dúvidas e informações distorcidas como a de que o etanol ameaça a segurança alimentar e que as plantações de cana de açúcar vão se expandir até áreas da Amazônia e causar mais desmatamento.”

A ministra para Habitação e Meio Ambiente da Holanda, Jacqueline Cramer, falou que a entrada do bioetanol brasileiro no país e sua exportação para a Europa - através do porto de Roterdã - estão passando por uma série de entendimentos garantindo que a Amazônia não vai ser afetada pela plantação de cana de açúcar para a produção de etanol e que esta produção não vai comprometer a terra em que produtos para a alimentação estejam sendo plantados.


 

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