É por isso que gosto da Holanda

Cris Rodrigues

 

Há alguns dias  convidei meus sogros para  um jantar aqui em casa.
Já era relativamente tarde quando, da mesa, ouvimos um grito de  "acode!"  "acode!"  vindo da rua. Como da janela do meu apartamento dá para se observar o movimento da rua, já era possível verificar de onde vinha o berreiro.

Minha sogra, curiosa, foi rapidamente até a janela verificar o que ocorria. Era um junkie que pedia ajuda para resgatar um pato, porque este estava se afogando no canal aqui em frente. Por respirar com dificuldade, era preciso chamar a ambulância dos animais bem rapidinho. Meu marido foi até a janela e, para quem o  conhece, teve um "bate papo" com o junkie, que "exigia" dele medidas urgentes para socorrer o pato...que cena cômica!!! hahahaha...

Aí sem argumento ele teve um ataque de munhequice: para não ter que se empenhar em telefonemas do seu celular, fez um aviãozinho do papel do número de telefone da ambulância de animais  e enviou o número para o junkie da janela do apartamento. O junkie furioso rebatia rapidinho: "Eu não tenho celular  - e com todo respeito acrescentava senhor(traduzindo= idiota) quem tem é você (godverdorie!!).

De repente vem a ambulância de animais. Em torno do pato amontuou-se uma plateia de curiosos com primeiros socorros com uns apoiando o junkie, outros, o pato. Dali  a pouco rapidinho formou-se uma aglomeração. A plateia não sabia quem poderia socorrer o pobrezinho.

Vinham umas duas mulheres andando e rapidinho se agitaram para socorrer o animalzinho. O doutor da ambulância com a luva, não na mão, mas no bolso da calça do uniforme, de novo a historinha do "não tenha nojo, tudo ao natural" (alles op een natuurlijk manier!) pedia um alicate para abrir a guelinha do pato.
 
Uma outra junkie que passava ouviu o pessoal desesperado olhando para o pato sem  esperança e deu a seringa dela (ai que nobre!) de metal e sem sangue porque ela limpa sua própria sujeirinha, ela mesma!!! Para que, com a ponta o doutor conseguisse retirar o objeto que o pato havia engolido por erro.
 
Vejamos: estamos ainda no momento da operação "quaquá" quando de repente  com a desculpa de "por o lixo para fora" minha sogra sai sem me esperar e vai voando para a rua. Quando me dou conta vejo aquela senhora mal intencionada batendo o maior papão cabeça com o junkie... e os dois se entendem perfeitamente. Como eu estava chocada com a cena, o junkie sem entender o que se passava nos meus pensamentos se vira para minha sogra e lhe diz: "eu acho que ela não está entendendo nada do que a gente está falando". E eu mesmo afirmando com a cabeça, como dizendo "estou entendendo sim", ela se vira para o junkie e arremata "ela não captou sua mensagem". O junk se sentindo entendido arretou o maior papo com ela contando-nos como ele virou marinheiro.

Perguntei-lhe onde ele morava e ele disse Sri Lanka, mas não acreditei não. Mesmo assim ele foi explicando todas as possibilidades econômicas que se tem de comprar um navio(na minha opinião não era mais que uma jangadinha), e com a cabeça muito lúcida, embora o corpo contasse outra história,  ele foi nos explicando como ele transportava cocaína sei lá eu de onde para a Holanda através da Bélgica e enfim o começo do fim da vida de viciado dele.

Minha sogra acompanhou atentamente a história daquele senhor de 52 anos que possivelmente largou sua terceira esposa e seus 6 filhos por ai à solta. Eu sem acreditar na inteligência do homen mesmo após tantos percalços, tantos ups and downs lhe disse: (naquele meu tom de médicos sem fronteiras, boa moça) "mas senhor quem toma um caminho desse dizem não tem mais volta!" E ainda continuei: "Me desculpe o tom talvez moralista, mas é dificil acreditar que isso tudo tem volta." 
E vocês sabem o que ele me respondeu?"Essa gente é louca e desestabilizada! hehehe"...

"Ai ai ai", pensei eu.
"Se você for saudável você estará acima disso tudo!" remendou... oh oh.

Moral da história, não importa  o que aconteça na sua vida, não se deixe levar pelos problemas que ela lhe traz. Você está acima disso tudo.