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Daniela Stefano |
Vento forte sopra na Holanda
Daniela Stefano
Quem dera a companhia de teatro de Ilo Krugli estivesse de volta aos Países Baixos. Desta vez foi realmente um vendaval que deixou diversas cidades holandesas de pernas para o ar.
Um dia antes, li que a força do vento poderia chegar a 10, na escala de 0 a 12 pensada pelo almirante irlandês Francis Barfoud. Mas isso não impediu que, como todos os dias, eu saísse para trabalhar utilizando o meu meio de transporte favorito: a bicicleta.
E, claro, estava prevenida: com calça e capa de chuva. A hora que pus minha bici na calçada hesitei por um minuto, quase pensei em guardá-la e pegar o ônibus. Aquela chuvinha não iria parar tão cedo. No entanto, me senti desafiada a pedalar até a Estação Central de Amsterdam.
Não tem como! A constância da chuva é mais forte do que minhas proteções: cheguei ensopada no trem. Sem perder a classe, tirei meu casaco do corpo e saquei meu livro da mochila. Trinta minutos de percurso seco (dentro do trem) e lá estava eu, pedalando de novo, agora pelas ruas de Hilversum.
E é impressionante como a chuva é comum para os holandeses, que parecem não se importar com a água que não cansa de cair neste país por estes dias.
Enquanto eu, por exemplo, estava totalmente molhada e não via a hora de chegar para respirar sem gotículas de água no meu rosto, um guri estava caminhando calmamente na ciclovia, fumando seu cigarrinho. Quando percebeu que eu me aproximava, olhou para mim e cortesmente pediu-me desculpas por não andar na calçada - como se isso fosse possível, ela havia se transformado num arroio!!!
"Se uma árvore cai em um carro dentro do estacionamento da empresa, quem paga o estrago?", pergunta um colega. Outro liga para a esposa e diz que uma árvore caiu em cima do carro dele, mas que ele está bem. Depois do almoço, dois ou três dizem que precisam ir embora enquanto há tempo. Outro colega diz morrer de medo de vendavais, que em outra tempestade viu mulheres voando na rua...
Até o momento que um dos chefes diz para mim: "antes das quatro ou depois das sete". Estas eram as possibilidades de ir para casa. Olho para a televisão e percebo a gravidade da situação. Árvores caídas atrapalham a circulação do transporte público e privado. Dois mortos. Passava das três da tarde e decidi que melhor seria jantar em casa. Na saída, uma colega me alerta que depois das quatro é perigoso andar por Amsterdã, outro colega me deseja muita sorte. "Será que este vendaval é tão bravo assim?", me perguntei.
E lá vou eu, de bici, para a estação de trem. Já sabia que a Estação Central de Amsterdã tinha sido evacuada, mas queria chegar a algum lugar. Tento ouvir o que os microfones anunciam. Mas o vento não permite. Conversando com uma e com outra passageira descubro que os trens já não estão mais circulando. Sorte do meu chefe, voltei ao trabalho! Desta vez, por via das dúvidas, deixei a bici e fui a pé: antes cair só do que acompanhada.
Todo solícito, meu namorado me liga e sugere me buscar. Recusei por achar a oferta um pouco suicida. No mínimo a Holanda inteira teve a mesma idéia e o trânsito estaria caótico. Preferia esperar até às sete da noite e ver de que forma poderia chegar em casa. Até porque o centro nacional de crise Ministério do Interior da Holanda havia pedido para que as pessoas não saíssem para fora. Isso porque os ventos de até 130 quilômetros de velocidade destelharam prédios e derrubaram árvores. Nada seguro caminhar com objetos voadores identificados soltos por aí.
Finalmente ouço uma secretária dizer que está coordenando chamadas de táxi. Incluí meu nome em uma van que sairia às 6 da tarde rumo a Amsterdã. Outros cinco colegas me fizeram companhia na volta para casa.
Uma colega do meu departamento também percebeu que todos estavam bastante no nosso piso de trabalho. O estresse, no entanto, continuou dentro do carro. Pouco se falou durante o trajeto. Pensei em fazer piadas como fazemos no Brasil em situações difíceis. Mas ali, na companhia de dois indonésios, dois holandeses, uma surinamenha e um árabe, não me senti tão à vontade para expressar minha brasilidade. Melhor respeitar as diferentes culturas. E foi assim que permanecemos quase em silêncio. E após duas horas rodando, desviando de caminhos interditados por árvores e acidentes de trânsito, cheguei em casa.
Veja fotos dos estragos causados pelo vendaval
-18/01/2007
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