Mundo Globalizado - Esperança ou Pesadelo?
Ieda de Paula
Se é verdade que a humanidade pode ser destruída pela ação dos homens, também é verdade que o homem é capaz de transformar a si próprio e o meio em que vive. O mesmo ocorre com o fenômeno da globalização, onde a produção e o trabalho ganham novas formas de organização tendendo ao aproveitamento da potencialidade dos indivíduos em seus postos, após longo período de embrutecimento de suas faculdades, com o adestramento da mão-de-obra e a acirrada especialização.
Ainda que decorrente de mecanismos transnacionalizados, cujo objetivo imediato é a produção e o lucro, garantindo dividendos e espaços cada vez mais restritos nos mercados de bens e serviços, hoje disputados com unhas e dentes, as empresas, para atenderem a esse novo apelo econômico, aos poucos acenam com mudanças estruturais, que se de um lado focalizam a produtividade e a qualidade dos produtos, de outro, fomentam a participação das pessoas desencadeando processos de desenvolvimento humano, onde o talento e a criatividade, antes à margem dos meios de produção, começam a ganhar espaço nesse modelo participativo.
Se a globalizaçào acena para a subordinação dos interesses políticos e sociais, como muitos temem, vale lembrar a falência dos Estados na garantia dos direitos dos cidadãos, sobretudo no que se refere ao ônus do aparato governamental, sem falar da omissão por parte dos seus representantes para o desempenho da democracia, cujas vigas deveriam ser o bem-estar e a justiça social.
Quando o homem é posto à margem do bem mais sagrado – o trabalho - , e quando o desemprego ronda países pobres e ricos, a humanidade, tal como agora acontece, estremece em suas bases, fragilizada nos seus anseios de futuro, destituída de seu projeto original de evolução. Sem a geração de empregos, sem um novo padrão de riquezas aportando com oportunidades para as diferentes classes, sem o enxugamento das estruturas burocráticas devorando as fontes de arrecadação, cairemos no engodo ideológico ou na fantasia mercantilista dos manipuladores, sejam eles capitalistas assumidos, socialistas empedernidos, neoliberais convictos ou qualquer categopria que o valha.
Afastada a criatura do direito e do acesso às condições de crescimento e desenvolvimento, o homem se transvia, se embrutece, e a sociedade sofre o assédio da violência, atingindo níveis incompatíveis com a sobrevivência, onde os ricos perderão a liberdade de ir-e-vir, confinando-se em gaiolas de ouro, e os miseráveis, enjaulando-se em gaiolas de ferro. Qual das prisões é a pior para o gênero humano depende apenas da ótica do observador, atento aos desvios da modernidade.
Tal como sugerido no aspecto acima, também as empresas, com o acesso dificultado ao desenvolvimento tecnológico, sem uma carga tributária menos esfomeada, sem a capacidade da mão-de-obra através dos mecanismos de ensino e aprendizagem, e mesmo gerenciamento refinado de processos e pessoas, não poderão competir nessa era globalizada.
Não havendo a administração dos conflitos e a minimização da intolerância no cenário internacional, os países de terceiro, quarto ou quinto mundos – classificação grotesca – serão a grande ameaça para os países ricos, cujo poder e soberania tendem a diluír-se nas próprias entranhas, caso cruzem os braços para os antigos e novos “colonizados”, usurpados que foram de seus territórios e riquezas naturais, sem falar da violência do confisco de sua identidade cultural, conforme registra a história.
Agentes e protagonistas que somos desse período conturbado, a tentativa da globalização esconde a verdadeira crise de nosso tempo reclamando urgência na recuperação dos valores éticos, culturais e espirituais. A humanidade jamais viveu tamanho acúmulo de conhecimentos, informações, descobertas e, paradoxalmente, jamais esteve tão só e amedrontada, desesperançosa, saldo da ruptura sujeito-objeto desencadeada pelo predomínio da máquina em detrimento do homem, pela fragmentação e dissociação do ter-e-ser.
Assim sendo, pessoas, organizações e governos deverão correr contra o tempo, vivenciando princípios de qualidade – muito diferente de programas de qualidade -, contribuindo para a urgente solução dos problemas e revendo a rota do barco, quantas vezes se fizerem necessárias, já que essa economia mundial tende a revelar e a expor, de forma até dolorosa, as diferenças gritantes entre países ricos e pobres, com a brutal aceleração dos movimentos migratórios buscando melhores condições de vida e sobrevivência, fazendo das fronteiros dos países o quadro vivo da nossa era, injusta nas suas bases.
(Ieda de Paula – autora de “Do Chão de Fábrica à Presidência”– Viagem na Palha de Arroz, Uma História de Amor Diferente, Ômega)
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