VENCENDO A SI MESMO
Ieda de Paula
O trabalho de conhecer a si mesmo e vencer a si próprio é o mais difícil de ser realizado. Nossos hábitos vão formando em nossa estrutura interna, camadas justapostas que, como uma cebola, ganham peso, rigidez e densidade. Assim, nossa forma de agir diante das situações da vida, depende de como estão essas camadas, que podemos chamá-las também de experiências boas ou ruins, vivências normais ou problemáticas, entendendo-se por normal os nossos conflitos, as nossas dores, as nossas fragilidades de criatura humana, sujeitos que estamos aos temporais das fases e ciclos pelos quais passamos.
Há um certo desânimo quando percebemos que nossos planos de melhoria interna se desmoronam, enquanto as nossas perspectivas de superação parecem se dissolver como o sal na água. Contudo, essa capacidade de auto-análise merece ser celebrada porque olhar-se de perto, sem o medo da imagem distorcida, resultado da ilusão do que não somos, faz diminuir o peso de um erro, na medida em que a incidência dos acertos cresce. Nesse momento a Vida ganha um significado diferente, é quando o velho capataz que julga cede passagem ao novo ser, capaz de aceitar e entender as pessoas em seus momentos de luta.
É verdade que para alguns, não fazer o mal significa um passo enorme para a frente, enquanto que para outros, não fazer o bem é quase um retrocesso, daí o vazio existencial que provoca um certo entorpecimento quando não abrimos as janelas para o despertar dos talentos da alma, cujos suportes são a coragem, a bondade, a tolerância e a paciência. No uso desses recursos, nenhum de nós sofreria com as diferenças ou carregaria o peso do arrependimento, senhor impiedoso das frustrações, via de acesso para a depressão. Para cada dor que acrescentamos ao mundo, algo em nós perde o brilho, já que na maioria das vezes sabemos o quanto podemos ser e não somos!
O hábito da faxina mental pesada, duas vezes ao dia, jogando no lixo as emoções mais inúteis - preocupação e culpa – certamente nos fará seres menos azedos, mais mansos, com a tranqüilidade do gato que se esparrama no chão e a alegria do pardal que faz festa com grãos de arroz, sem nada esperar do momento seguinte, tal a plenitude em que vivem o agora, segredo da felicidade relativa que, absolutamente, todos nós merecemos!