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Jota Alves fundou o jornal The Brasilians, o Centro de Promoções Brasileiras e criou o Dia do Brasil em Nova York: o maior festival brasileiro no mundo. Formou-se em Moscou. Foi Secretário de Governo em Mato Grosso.

 

Cartas do Brasil
De Jota Alves, Orlando, Flórida

Saudade da Varig

 

Vendo as imagens, ouvindo as notícias e lendo grande quantidade de comentários sobre a segunda grande tragédia aérea brasileira meu deu uma saudade danada da Varig.

A Varig Brazilian Airlines, direta ou indiretamente, esteve na vida dos brasileiros no exterior. Ou foi pelos seus aviões que atravessamos mares e começamos uma nova vida, ou foi nas suas lojas que bebemos na fonte da saudade ou nos sentíamos em casa folheando um JB, um Globo, uma Veja, o Pasquim...

Da Varig eu só tinha ouvido falar. O meu primeiro vôo internacional foi do Rio para Roma. Comigo, uns cem brasileiros a promover Brasília na Europa. Voamos pela Alitália com escala em Recife e Dakar.
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Anos mais tarde voei de Moscou, capital do “comunismo”, pela Aeroflot e fui trabalhar no castelo-símbolo do capitalismo, o Rockfeller Center, na rua 50, bem no centrão de Nova York.

No térreo, bem em frente à catedral de St.Patrick, na Quinta Avenida, ficava a lojinha da Varig. E foi graças a ela e nela e por causa dela que a minha vida tomou outros rumos, levando-me a conquistas na Big Apple.

Com o Clube Brasileiro de Viagem(Brazilian Travel Club), o Brazilian American Promotion Center e dezenas de charters foram vinte anos de excelente relacionamento profissional, que acabaram levando-me a relacionamentos pessoais com funcionários, comandantes, tripulantes e diretores, entre os quais destaco Erik de Carvalho, Oswaldo Trigueiros e Helio de Souza.

A Varig primava pela pontualidade, pelo bom atendimento no check in, no check out e a bordo. Raramente havia atrasos nos seus vôos de conexão, dentro do Brasil. Nossos clientes voltavam satisfeitos. Consultado, dei palpites para a trilha sonora dos vôos internacionais e guardo vários cardápios, excelentes obras de arte. Só mesmo a Air France competia com o menu da Varig. E as nossas aeromoças eram mais bonitas.

Fiquei super contente e orgulhoso quando a Varig, finalmente, trocou o z pelo s no seu Brazilian Airlines. Uma pequena-grande batalha que travei por ter trocado o z pelo s no jornal que fundei: o The Brasilians.

È óbvio que na ortografia correta em inglês Brazilian deve ser com z. Mas, e daí? Inventamos e mudamos palavras e significados nos idiomas, nos costumes, nos comportamentos, nas gírias, no marketing, na língua escrita e falada que o atrevimento nos enchia de orgulho. Para alguns, patriotada.

Para mim, que comia, bebia, vestia, dormia, acordava, com o Brasil por todos os lados, era ponto de vista, ousadia. Marcar presença. Fazer a diferença.

E era com esse sentimento de pátria, de nação, de povo, de país que a gente via a Varig, uma companhia de bandeira, como a Air France, a Lufhthansa, a Aerolíneas Argentinas, a KLM, a Scandinavian Airlines, Aero Peru...

Como agente de viagem, como empresário e como brasileiro eu tinha orgulho da Varig. E o que fez o nosso governo com as dificuldades da companhia? Deixou-se levar por lobistas da aviação comercial, uma cambada de irresponsáveis, delirantes, corruptos, e abandonou a Varig.

Um bando de incompetentes à frente do setor de aviação não entendeu e não quis ver que deixar a Varig ao Deus-dará não era solução e sim problema. Houve um aumento acelerado de passageiros, nos vôos internos e nos internacionais. Um país-continente não pode ser atendido por duas empresas aéreas.

Foi só explodirem a Varig o buraco negro apareceu e um imenso vazio despertou o caos aéreo no Brasil. Países como o Japão, a França, a Alemanha, a Itália, o Canadá ajudam e investem em suas companhias aéreas de bandeira.

E o pessoal da Varig? Dezenas de comandantes, tripulantes, milhares de técnicos, profissionais de nível internacional, com muitos anos de experiência deveriam ser amparados pelo governo e chamados para ajudar a resolver essa imensa e duradoura crise.

Muito mais que aviões é o material humano, seu treinamento, sua eficiência operacional que determina a seriedade e a competência de uma empresa aérea. Vê se tem alguém com esse gabarito nos muitos órgãos governamentais que dirigem a aviação comercial brasileira!

O presidente Luís Inácio que acusa os brasileiros de falarem mal do Brasil no exterior, e deseja que nós fôssemos italianos ou suíços, que reclama da imprensa que só “publica coisa ruim” vai ver agora com quantos-paus-se-faz-uma canoa, ou vai entender o que significa grooving em pista de aeroporto. Vaias podem ecoar em suas viagens ao exterior.

O Brasil está sob quarentena e auditoria internacional. Os governos cuidam de seus cidadãos e por isso temem as pistas de pouso e os aeroportos do nosso país. Líderes mundiais da aviação comercial estão recomendando que as pessoas não viajem ao Brasil.

Como ninguém sabe explicar direito o que significa Con-gon-has, uns dizem cego-nhas, outros chamam o mais importante aeroporto do Brasil em espanhol de conhos brasileños  e em inglês de con-go-hell.

A imprensa não publica coisa ruim e nem o brasileiro que está no exterior fala mal do Brasil. O governo é o coisa ruim e a causa das  trágicas notícias brasileiras que estão circulando pelo mundo.

Que saudade da Varig!

 

18/07/2007

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