Governantes doentes
O mineiro só é solidário no câncer. Nelson Rodrigues
Da recente safra de líderes mundiais que governaram seus países George W. Bush foi o que obteve os melhores resultados em saúde. O check-up semestral do presidente e do vice dos Estados Unidos é de conhecimento público. Nada é negado à população. Vladimir Putin, faixa preta em judô, costumava caminhar quilômetros quando ia para o Kremlin. Diferente dos beberrões russos como Yeltsin, Putin não fuma, bebe uma taça de vinho ou de champagne em solenidades. Seu substituto, o baixinho, Dmitry Medved, é um homem fisicamente preparado para governar. Sarkozy está em plena forma.
Tony Blair, da Inglaterra, também tinha bons resultados em sua ficha médica. Hu Jintao, da China, parece ser um homem forte, saudável. José Luiz Zapatero da Espanha está em ótimas condições físicas. O setentão Silvio Berlusconi, da Itália, separou-se recentemente da esposa. Visto com belas bambinas Berlusconi faz questão de deixar explicito que ainda dá conta do recado. E o que dizer do retilíneo Barak Obama? Nunca acima do peso, passa uma imagem saudável, de governante dos novos tempos.
E no Brasil? Carregamos a tradição político/cultural de não nos interessar pela saúde de nossos governantes. O cidadão assume o comando de nossas vidas na prefeitura, na Câmara de Vereadores, no governo estadual, nas Assembléias Legislativas, no Congresso Nacional, nos altos escalões da administração federal, e nada sabemos de suas condições físicas. O que uma empresa faz quando um de seus funcionários não está em condições de administrar, de segurar a barra, de produzir o desejado? No Brasil de todas as acomodações e justificativas possíveis e inimagináveis há governantes doentes, impossibilitados por suas enfermidades de administrar os bens públicos e conduzir programas de governo. Ninguém fala a respeito. Fingimos pena e solidariedade.
Para não irmos à primeira República, fiquemos da segunda metade do século XX ate o presente: o cuiabano Eurico Gaspar Dutra, presidiu o país com uma barriga avantajada, muito além do seu peso ideal. O gaucho Getulio Vargas foi o mais sólido, saudável e vigoroso dos nossos presidentes. Chegaria tranquilamente aos cem anos se não tivesse tirado a própria vida com um balaço no peito. O mineiro Juscelino, médico, de origem checa era longevo. Tinha várias complicações físicas, mas estava apto para voltar à presidência da República. Um “acidente” na Via Dutra tirou-lhe a vida.
O mato-grossense Janio Quadros nos tirou a vida democrática. Entornava destilados com gusto. Na privacidade dos amigos, um bom whisky. Junto ao povão, cachaça pura. Os seus desvios, altos e baixos comportamentais, de humor, a caspa colocada no paletó, o sanduíche de mortadela e a vassoura como símbolo de limpeza administrativa, o falar rebuscado, já seriam suficientes para que o país ficasse de orelha-em-pé. Que nada!
Adoramos a gaiatice. A fanfarronice. O corrupto brilhante distribuidor de migalhas, de sorrisos e de promessas. Na política, doente, melhor.
Janio, com visíveis sinais de distúrbios mentais foi eleito prefeito e governador de São Paulo. Presidente do Brasil renunciou por causa das “visões” de perseguição. O vice João Goulart quando chegou à presidência já era um cardíaco assumido. Os generais da ditadura estavam todos bichados. Foram saindo de cena por mortes naturais. Tancredo Neves morreu doente, sem assumir a presidência. Sarney sempre padeceu de alergias e outros males. Collor foi o que mais passou jovialidade, energia e fez marketing político com aquelas caminhadas. Cada dia uma camiseta com uma frase, um chamamento. No primeiro mandato Fernando Henrique mostrava bom desempenho físico. Já no segundo o peso das obrigações e da idade o alquebraram.
De Lula pouco se sabe. Há sinais visíveis de cansaço, fadiga administrativa. Constantemente no ar já é o presidente que mais viaja ao exterior. O efeito sanfona (engordar/emagrecer) é o que mais deve preocupar Lula. Já o seu vice e nosso presidente várias vezes há anos na luta para vencer o câncer continua no poder quando deveria estar em casa, repousando e lutando contra a terrível doença. Assim seria em qualquer grande nação do ocidente. Dizer que o nosso vice é um guerreiro, é um herói, um batalhador que passa esperanças é repetir o obvio que o povo cordeiro do Brasil adora ouvir. Deveríamos isso sim respeitar sua luta, seu sofrimento e deixá-lo fora das obrigações oficiais. Parabenizá-lo por ser um empresário brasileiro de sucesso, um homem de valores e de princípios que melhorou a imagem do governo Lula.
E a dama de ferro? A mãe do PAC? Com o PT em frangalhos, com suas maiores figuras de fenestradas do poder central Lula virou-se para Dilma Roussef e concentrou nela todas as suas esperanças de sucesso administrativo. Centralizou nela um ambicioso programa de obras nacionais. Sua candidata a presidência do país. Vem a descoberta e a dura realidade da doença, esta sim, democrática e civilizadamente, revelada ao povo. E Dilma continua à frente do PAC com obras paralisadas, metas inalcançáveis. Continua presidenciável. Um país doente não deve ter governantes doentes.
Clamo pelo obrigatório Atestado de Saúde de candidatos fornecido por junta médica do Tribunal Eleitoral e amplamente divulgado. Já que não exigimos de candidatos a cargos públicos Atestado de Caráter o de Saúde pode nos guiar nas eleições de 2010. Continuaremos sendo o país do futuro, aético, de mentirosos, sem princípios, valores, caráter e dignidade se como o mineiro de Nelson Rodrigues só for solidário no câncer.
Jota Alves criou o Dia do Brasil nos Estados Unidos, China e Rússia. Ex-Secretário de Governo em MT.
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