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Raphael Curvo
Advogado pela PUC-RJ e pós-graduado pela Cândido Mendes-RJ

 

A história do João

Raphael Curvo

 

João, técnico aposentado, recebe R$ 1.300,00 mensais. Algumas estripulias, como cerveja com os amigos e cinema com a patroa nos finais de semana, dá para realizar sem apertar o orçamento. Afinal, os aumentos nos preços dos alimentos estão sob controle e os ganhos da aposentadoria garantem a geladeira da casa. Estou satisfeito e sobra para uns abusos de fim de ano, diz João.

Vendo um programa de TV, João se depara com anúncio, aos gritos, de que agora todos podem ter o seu carro. Como, eu ter um carro? O anúncio da revendedora lhe dispara o coração. Percebe que com menos de 30% da sua aposentadoria poderá financiar o sonho quase impossível. Ter um carro? “Miráculo”!!! E mais entusiasmado fica ao descobrir que não será necessária a entrada para a concretização do sonho de consumo. Quase desmaia quando o anunciante grita “e ainda tem troco de três mil reais”.

Sem pestanejar, em segundos estava lá. Concretizou a compra de um reluzente automóvel em 84 prestações mensais de 400 reais. Lógico, teve um gasto extra com o seguro, impostos e taxinhas, insignificantes ante as chaves do carro na mão. Mal saiu da revendedora, passou em uma loja de som e investiu os três mil recebidos como troco. Como o carro é flex, se subir o álcool enche o tanque com gasolina e vice – versa; tá resolvida a questão de combustível.

Outro programa na TV, outra surpresa ao perceber que também pode ter uma televisão de plasma de 32’ na pequena sala da casa. Apenas pouco mais de 10% do que ganha e a patroa ficará feliz em ver melhor as novelas do dia-a-dia. E João vai aos poucos se sentindo poderoso, com certo ar de vencedor. Já tem carro e TV de plasma. Daí, para a compra de um novo conjunto de sofá mais sofisticado para a sala foi um passo. É, a sala ficou apertada e carro precisa de uma garagem coberta. Decidiu: vamos às obras. É só fazer um empréstimo consignado com juros tão pequenos que não serão sentidos nas prestações. Com essa inflação controlada, dá para levar e alçar vôos baixos.

Passados alguns meses, o direito de ter carro e consumir, defendido pelo presidente e assumido pelo João, começou a sofrer turbulências das quais pensava nunca iria passar. Luz, água, telefone, remédios, combustível, alimentação e outros tantos produtos começaram a sair do controle financeiro doméstico com pequenos aumentos, mas constantes. João começou a perceber que o provento estava se tornando pequeno. Um aumento na aposentadoria se tornou uma necessidade. Enfim, o governo pode promover isso, está arrecadando como nunca. Por que não dar aumento? É uma questão de tempo, pensa. Até lá fará um novo empréstimo consignado para suprir os buracos no orçamento e diminuir os atrasos das prestações.

João hoje faz parte do cálculo feito pela Associação Comercial de São Paulo sobre a evolução da inadimplência que constata ser o dobro da oficial de 7,3%, excluído o crédito consignado. Esta situação de desconto em folha, retira do tomador do empréstimo a possibilidade de atrasos, mas, por outro lado, implica em dificuldade de atendimento de outras necessidades prioritárias que podem ser urgentes, tais como problemas de saúde.

A irresponsável política de expansão de crédito está começando a apresentar a fatura. João e muitos outros vão entrar em desespero com agravante da redução do feijão com arroz na sua mesa. Não fossem estimulados ao consumo selvagem da superficialidade, suas vidas poderiam estar com melhor qualidade naquilo que é essencial.

É preciso constatar que não é somente no bojo dos aposentados que tal situação está em evolução. Os assalariados começam a perceber, logo após a compra, que o carro também exige manutenção e esta não está incluída na prestação mensal. Terão os mesmos sintomas e sofrerão os mesmos efeitos dos aposentados. E mais, descobrirão que sem estudo e preparação qualificada não terão espaços para crescer salarialmente. Este fato coloca mais de 90% da população brasileira ativa em situação de conflito e insegurança pessoal. Mudança, só com educação responsável e de qualidade. Caso contrário, sempre terá “a história do João”.

 

18/07/2008       

 

 

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