China, certeza ou engano
Raphael Curvo
É muito difícil escrever sobre este gigante país. Suas contradições, ante os estabelecidos conceitos do mundo ocidental, sempre irá deixá-lo na linha da verdade ou mentira, certeza ou engano. Muitos não aceitarão as justificativas dos seus valores, costumes, procedimentos e ações políticas, sociais e econômicas. Da mesma forma que muitos brasileiros não aceitam os valores do carnaval carioca e suas extremadas exposições físicas e de envolvimentos, mas permitem, até passivamente, bases conceituais de orgias, prostituição, contravenção e criminosos em todos seus segmentos, como parte componente da cultura carnavalesca.
O povo chinês tem essa “performance”. Aceita de sua nova diretiva política, uma linha ideológica que atende, ainda que de forma precária ante os olhos do ocidente, uma organização estatal, de regime ditatorial, como forma de estabelecer a organização social que, por outro lado, permite, de forma controlada, a estrutura privada de mercado e desenvolvimento econômico.
É uma transformação de muito peso conceitual, teórico e prático. É difícil encaixar ideologicamente a situação de “socialismo de livre mercado”, é quebrar conceitos marxistas. Doutrinariamente, até que é possível. Saber se o caminho está correto, somente ao povo chinês caberá a resposta. Pelo que se sabe, o aceite pela nova geração é grande. Há um nacionalismo muito forte, e perigoso, na China e isto é sinal de aprovação da elite dirigente e dos rumos tomados.
Por outro lado, percebe-se um encaminhar de nuvens tenebrosas. Os dados permitem esse pensar. É sabido que há pouco mais de 50 anos, a expectativa de vida na China não passava de 35 anos. A pobreza desse fechado mundo chinês não permitia melhores resultados. Com a revolução de Mao Tse-tung, ocorreu melhora nesse índice. A ascensão da nova elite dirigente após a morte de Mao, comandada por Deng Xiaoping, deu início a um processo de melhora em seus indicadores sociais de maneira consistente e rápida. Mas, ao que parece, está em curso uma estratégia de desenvolvimento social baseada na teoria de que a China deve ser construída para as novas gerações. O desenvolvimento, econômico, social e político, não permite o acesso às gerações que hoje representam, ainda, o prosseguimento de velhas práticas e ideologias.
São mais de 100 milhões de chineses com mais de 60 anos, em sua grande maioria destituída de instrução educacional que, em poucos anos, não mais farão parte da nova China. Esses números chegarão aos 350 milhões em 2050, incluídos os mais de 100 milhões com idade superior a 80 anos, segundo demógrafos chineses (Estadão 3/08/08). Como a taxa de natalidade é baixíssima, menor que a de óbito, presume-se que o estado terá uma geração de “bens de vida” a levar a China ao padrão de superpotência e com isso influenciar, pelo seu peso político e econômico, além de militar, as decisões de efeito global.
Essa queda dos números demográficos implicará em consideráveis avanços em tecnologia na agricultura já que a grande massa dessa população senil está no campo. São, aproximadamente, mais de 700 milhões de chineses, que representam parcela, por volta, de 55% da população. Há muito a investir para que o dragão chinês encorpe. Existe muita pobreza e miséria pelo território da China. Esta disposição de investir para se desenvolver e reduzir a carência é que tem sido tábua de salvação à economia de muitos paises emergentes, incluso o Brasil em razão das commodities que reduziram em volume exportado, mas aumentaram em valores financeiros.
Apesar disso, o superávit comercial chinês com o Brasil já passa dos quatro bilhões de dólares. Com os Estados Unidos superam 270 bilhões de dólares, mas com uma anotação interessante: as empresas exportadoras, cerca de 58%, não são chinesas. As americanas superam a casa de 77 mil. De regime político considerado fechado, a China está escancarada, e com facilidades, ao capital que lá queira aportar. São tantas as variáveis da vida chinesa que me levam às conclusões várias em saber se é a China, certeza ou engano.
Em tempo, aproximadamente 1/6, e não 1/3, da população brasileira ainda está na miséria.
07/08/2008
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