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Por Daiana Vasquez


 

No tram da vida

 

 
Outro dia minha experiência na metrópole de Haia me deixou com um gostinho amargo na boca. Lá vou eu entrando no Tram (bonde ou veículo leve sobre trilhos) e me esqueci que a minha Strippenkaart (uma espécie de cartão que a gente compra com antecedência e carimba ao entrar nos meios de transportes públicos) já estava toda gasta. Quem bom que eu tenho 20 euros, pensei eu, senão iria ter que dar uma paleta até a estação de trem.

Ledo engano. O motorista não só não aceitou meus 20 euros como não teve a menor paciência de esperar eu contar os meus trocados pra saber se juntando todas as moedas espalhadas na minha bolsa enorme chegava aos 1 euro e 60 centavos que eu precisava pagar pra chegar até a estação.

Eu tinha 1 euro e 45 centavos. Ele queria que eu descesse do Tram. Meu argumento de que eu tinha que ir trabalhar não fez nem ele piscar. Ele me disse que eu tinha que tentar o próximo Tram ou ônibus pra ver se ele tinha trocado.

História boba essa, né? Eu não achei quando estava nessa situação. Ainda mais que não dá pra descrever aqui o tom utilizado pelo motorista mal-educado, somente citar que foi bastante desagradável.

E todo mundo ao redor? Essa é a melhor parte. As pessoas também não piscaram. Fingiram que não era com elas. Aliás, não era com elas mesmo, né? Eu pensei, que mundo é esse? Todo mundo vira as costas pra não ver, e de propósito. Seguem a máxima (individualista): cada um por si e nenhum Deus por todo mundo.

Bem, nem todo mundo. Uma senhora, que não parecia das mais abastadas, me ofereceu o que estava faltando pra eu não ter que ser obrigada (era bem capaz do motorista chamar a polícia) a descer do Tram.

Lição do dia: nem todo mundo ignora o próximo, ou ainda, há pessoas que ainda conseguem enxergar o próximo.

O que me intrigou mais foi que, passando a régua, eu fiquei mais irritada com o comportamento do motorista grosseiro e das pessoas indiferentes (de tão tolerantes que são) que isso abafou a minha satisfação em encontrar alguém disposta a dar - simplesmente. A pergunta é: por quê? Com certeza alguma necessidade minha não atendida... um caso mais para um terapeuta do que para um blog.

Mas e as outras pessoas? As indiferentes? Quais são as necessidades delas não atendidas que as levam a se comportar dessa maneira? Não deve ser medo de ficar 15 centavos mais pobre, né?

***

Eu fico imaginando, essa minha história não é absolutamente nada comparada com outras tantas histórias de outras tantas pessoas necessitadas de verdade, que de tanto serem ignoradas já quase não existem mais

- 10/06/2008

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