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Daniel "Daniduc" Duclos é escritor e apaixonado por conhecimento. Já trabalhou como analista de sistemas e gerente de projetos em TI, pesquisador da USP em biologia e, depois, literatura brasileira. Morou brevemente em Vitória, onde por coincidência nasceu, Porto Alegre, Floripa e, principalmente, São Paulo. Atualmente vive, escreve e fotografa na Holanda.



Orquestra do Fubá no Tropentheater

Texto e fotos por Daniel Duclós

 


Olha, eu vou confessar uma coisa: forró não é meu gênero favorito. Quando aceitei ir ao show da Orquestra do Fubá na Grote Zaal do Tropentheater naquela sexta feira a noite (16 de outubro), foi baseado na promessa de uma mistura original de forró, bossa nova e jazz. Agora, essa eu tinha de ver.

O belo salão estava lotado de sotaques diferentes reunidos para ver a banda franco-brasileira formada por Fernando Cavaco (voz e cavaquinho), Ricardo Herz (violão e voz), Natalino Neto (baixo), Wander Pio (percussão), Zé Moura (no acordeão) e Mathieu Gramoli também na percussão. Ah, então não é apenas o som que é uma combinação original: a própria banda é formada por uma mistura de paulistas, cariocas e franceses. Atualmente residindo em Paris, excursionam pela Europa pra tocar seu som, feito praticamente de composições próprias (Com CDs à venda nos shows).

Segundo a tendência holandesa de organização, meu ingresso mostrava lugar marcado, com fileira e cadeira. Todos sentaram-se obedientemente, eu inclusive, cada um em seu lugar. Parecia que seria uma noite de apreciação passiva de música. Mas a Orquestra do Fubá tinha outros planos.

Logo de cara, Fernado falou em português mesmo, que a música deles era pra ser aproveitada dançando. Com tantos holandeses na platéia, nem todo mundo entendeu o recado, devido à barreira linguística. Sem problemas. A banda iria em breve demonstrar na prática o que queriam dizer. Soltaram o som.

Timidamente, alguns casais e mulheres mais corajosas foram descendo pra perto do palco e começaram a tentar alguns passos. A empolgação foi crescendo, mas um grande “aahh” ecoou quando eles pediram um pequeno intervalo para se recompor.


Na volta, a orquestra emendava uma música na outra, com pouca interrupção pra fala (a língua deles é a música). O som ia enchendo a sala e as poltronas iam esvaziando. O apertado espaço perto do palco enchendo de pessoas dançantes. Alguns casais dançavam do jeito tradicional do forró, outras improvisavam passos, alguns dançavam sozinhos. Todos se divertiam de maneira evidente.

 

 

Agora, uma coisa sobre diversão que você aprende na prática: ela é contagiosa. Mesmo quem não sabia o que fazer, quem era tímido, quem não se imaginava sacudindo o esqueleto em muitos, muitos anos, começava a ter dificuldades para ficar sentado. Um ombro sacudindo aqui, um pé batendo ali, sorrisos em todos os rostos evidenciavam que a timidez estava perdendo a luta pelo controle dos tradicionalmente contidos holandeses.

À minha frente havia, ainda sentados, um casal formado por uma francesa e um holandês. Durante o intervalo, haviam puxado assunto, e descoberto que eu era brasileiro, o que selou ali mesmo uma amizade instantânea. Ela demonstrava crescente vontade de dançar, mas o marido não se animava. Como fazer? – ele parecia se perguntar.

Quase no fim do show, a casa já praticamente toda de pé, e ele não se arriscava, naquela luta interna entre “parece divertido” e “pagarei um micão?” Felizmente, a resposta veio do palco. Essa é a última música. Quem quer dançar, é agora ou nunca, disse Fernando. Traduzi imediatamente para o casal. O holandês olhou pra mim, como quem diz: “você vai? Se for, também vou!”

Ora, que diabos, pensei, já tenho fotos o suficiente. Quando levantei pra dançar como todo mundo, mal me lembrei de que forró não era meu gênero favorito. A última barreira caia, e ninguém mais estava sentado.
Dançaram brasileiros, dançaram franceses. Dançaram holandeses, dançaram os tímidos. Dançaram homens, dançaram mulheres. Dançou a banda, e não importava a idade, etnia, nacionalidade ou, descobri eu, preconceitos musicais: todos se viram jovens, e se divertindo.

E naquela noite, eu testemunhei algo incrível: uma banda derrubou fronteiras musicais, nacionais e principalmente, internas. A Orquestra do Fubá mostrou de forma despretensiosa que as terríveis fronteiras que nos dividem podem ser superadas pela boa e velha diversão na sexta a noite. Boa música, assim como diversão, é contagiosa.

Galeria de fotos

 


- 06/11/2009

 

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