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Elisângela
Kanacilo é formada em Ciência
da Computação pela Universidade
Federal de Uberlândia, MG,
atualmente estudando na TU
em Delft onde defenderá sua
tese de doutorado. Nesta
coluna ela registra, de maneira
divertida, um pouco de
suas experiências e como
ela tem lidado com choque
cultural pelo qual tem passado. |
Elisângela Kanacilo
Fui a uma festa aqui na Holanda e na volta, perdi a chave de casa.
Detalhes:
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era de madrugada, umas 3h da manhã;
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eu estava de bicicleta. Para quem não sabe, é normal andar de bicicleta por aqui;
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moro sozinha, ou seja, não tinha ninguém para quem eu pudesse ligar e pedir para abrir a porta;
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eu tenho uma cópia da chave de casa na minha sala da universidade. Mas como era final de semana, o prédio só abria as 10h da manhã do dia seguinte;
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mesmo que eu esperasse amanhecer, eu poderia entrar no prédio, mas não na minha sala, pois a chave da sala estava dentro de casa;
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o meu colega de sala seria a minha única salvação, pois ele é a única pessoa que poderia abrir a porta da sala para mim no final de semana, mas de qualquer forma, eu tinha que esperar até as 10h da manhã;
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o meu lado otimista me permitiu perceber que a parte boa de tudo isso, foi que esse foi o primeiro dia de tempo bom, depois de 14 dias consecutivos chovendo pesado. Caso contrário, eu teria que ficar na rua, na chuva e sem desgrudar da bicicleta, pois a chave dos dois cadeados da bicicleta estavam no mesmo molho de chaves. Portanto, não tinha como trancá-la em algum lugar.
Liguei para uma amiga para pedir abrigo até amanhecer, mas o celular estava desligado. Liguei para outra, celular desligado. Liguei para outra, celular desligado também.
Daí fiquei pensando: “mas se eu não conhecesse ninguém aqui? se não tivesse a quem pedir ajuda? não pode ser, tem que ter um jeito” Liguei então para o 112, que é o número de emergência na Holanda. Lá me informaram que eu tinha que ligar para o 118.
Descobri que 118 é uma central de “sleutel specialist” (especialista em chave) do país inteiro. Você liga e a pessoa te transfere para o “sleutel specialist” da sua cidade. Mas ao transferir a mulher já me antecipa: “olha acho que em Delft, esse serviço não funciona 24h” , mas antes de perguntar até que horas eu tinha que esperar, ela já transfere a ligação. Algo que achei eficiente, é que no momento em que está chamando, a gente já recebe um SMS com o número do especialista em Delft, para ligar depois, se precisar. E como a atendente tinha me informado, realmente, o serviço não funcionava 24h em Delft, porque ninguém atendeu.
E agora José?
Bem, não tinha jeito, tive que desistir dessa minha idéia de não querer incomodar os outros, e fui tentar ligar para outros conhecidos, e finalmente achei uma amiga. Dormi na casa dela e na manhã seguinte, liguei para para o meu colega de sala. Tcharan? Ele não atende o telefone. Liguei várias vezes, e nada. Até que desisti e liguei para o tal “sleutel specialist” de Delft.
Ligo e explico a minha situação para o rapaz. Ele diz que liguei no lugar certo, mas que esse serviço, em Delft, não funciona nos finais de semana. E eu pacientemente pergunto: “senhor, e o que as pessoas que moram em Delft e que costumam entrar nas suas casas no finais de semana, fazem quando perdem a chave de casa?”
E daí, ele caridosamente me deu números de empresas que poderiam me ajudar, e que por sinal, FUNCIONAM 24H!!
Eu já imaginando que o serviço ia ficar caro pra caramba, porque aqui na Holanda tudo que envolve mão de obra, qualificada ou não, fica um absurdo de caro. Mas, como eu não tinha outra saída, tive que ligar.
O rapaz veio, e em 15 minutos trocou a fechadura e daí vem a parte das continhas:
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€19,00 pela mão de obra – eu já estava alegrinha pensando: hum, não é tão caro assim;
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€35,00 pela fechadura nova – não tão alegrinha mais, mas €54,00 pelo total é um preço razoável;
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e eis a surpresinha: €60,00 pelo custo de ter vindo até a minha casa de carro.
Putz, quase que eu falei para o rapaz: “porque não veio de táxi? Ficaria muito mais barato. Ou então eu ia te buscar de bicicleta” ;
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quando eu já estava quase me acostumando com a idéia de pagar os €114,00, ele vem com a notinha com o total incluindo BTW, o imposto de 19% correspondente ao ICMS no Brasil. Ou seja, minha brincadeira do final de semana me deixou €135,00 mais pobre.
Esse episódio me fez aprender algumas coisas e o primeiro item deixo como conselho para vocês:
1 - espalhe cópias da sua casa em vários lugares, de preferência lugares onde você pode acessar fora do horário comercial, como por exemplo, casas de amigos, vizinhos, etc.
2 – serviços que exigem mão-de-obra na Holanda são caros, mas serviços que exigem mão-de-obra que andam de carro na Holanda, são mais caros ainda. E completando, serviços que exigem mão-de-obra que andam de carro nos finais de semana na Holanda, são absurdamente caros.
3 - Objetos pessoais só tem valor para nós mesmos. Estou querendo vender uma cópia da chave da minha casa por €135,00 euros, mas ninguém quer pagar. Maior oferta até agora foi de 10 centavos e isso é porque veio de uma grande amiga.
Por isso que sempre repito, vivendo e aprendendo!
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