A União Européia e o Abandono da Prioridade Social
Frederico Gustavo Fleischer
Os países europeus ocidentais sempre foram conhecidos por seu "protecionismo social", o qual garante a seus cidadãos um nível de dignidade. Os europeus sempre contaram com auxílios fabulosos na área da saúde, previdência, emprego, etc, auxílios estes que sempre causaram uma nítida inveja aos outros continentes, inclusive ao americano, e que acabaram por transformar a Europa em um modelo a ser seguido.
Porém, como vem ocorrendo desde o fim da Primeira Guerra, os Estados Unidos da América, nosso grande irmão do Norte, se mostram como a maior potência bélica e econômica, despertando assim a inveja de outros países, incluindo os europeus.
Poderíamos, assim, rascunhar um mundo dividido entre a Europa "Social" e a América "Potente", onde ambos continentes tentariam superar os limites alcançados pelo outro e se firmar como ícone.
A tentativa americana de valorizar o lado social, denominada welfare state acabou por se mostrar um grande fiasco, incompatível com o tão conhecido e aclamado american way of life , fazendo com que os E.U.A. percebessem que nem sempre existe compatibilidade entre o crescimento econômico avassalador de um país e a severa garantia dos direitos sociais de seus cidadãos.
A Europa inicia agora uma fase em sua união claramente destinada a ampliar seu potencial econômico frente ao poderio norte-americano, estendendo cada vez mais suas fronteiras territoriais, visando influência política, mão-de-obra e mercado consumidor, formando uma grande pirâmide de difícil manutenção.
Após esta apresentação e um estudo superficial dos fatos podemos chegar a uma pergunta, estaria a União Européia seguindo os passos dos E.U.A. e cavando a cova das garantias sociais antes tão aclamadas? Seria possível manter tais garantias mesmo com inserção de tantos países "em desenvolvimento"?
Fica a dúvida se o continente europeu simplesmente optou por confrontar os EUA como maior economia e conscientemente sepultar seu histórico social, como vem ocorrendo com países antes tão "garantistas" como Holanda, Alemanha e França, ou se simplesmente a criatura cresceu além do poder do criador, saindo assim do controle.
Eventos históricos desde a antiga Grécia nos mostram que o fator econômico sempre sobrepõe ao social, que se mostra extremamente frágil, assim como aconteceu com o reino cretense, que após influência micênica acabou por deixar nas poucas escritas os relatos de uma sociedade tranqüila e pacífica.
Espero que o caminho escolhido esteja correto ou, ao menos, possua uma reversão, caso contrário veremos o surgimento de um grande Leviatã descontrolado e sedento por desenvolvimento econômico, sufocando e massacrando seus cidadãos sem dó ou piedade.
*Frederico G. Fleischer é
advogado e professor de Direito Internacional .
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autor.
18/07/2006
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