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Luana Ferreira é Relações Públicas formada pela Uerj. Na Holanda, faz trabalho voluntário para a "Fundação A Hora do Brasil" que produz eventos sobre arte e cultura brasileira.

 

Consumidores neo-holandeses

Luana Ferreira

 

Ando me perguntando se estou vendo o passado com óculos cor-de-rosa.

Mas eu era uma consumidora muito mais feliz no Brasil.
Consumidores conscientes, quando maltratados ou enganados, vão naturalmente trocar de marca ou procurar outro fornecedor até conseguirem ser satisfeitos integral ou parcialmente em suas expectativas. E as empresas que lidam com um mínimo de estratégia sabem que sem um cliente satisfeito, se não estão com os dias contados, estão, pelo menos, deixando de lucrar. Onde há procura, acaba surgindo a oferta. Simples assim. Então se uma empresa esta prestando maus serviços ou vendendo produtos ruins está automaticamente dando um tiro no pé. Com certeza existem excelentes empresas e serviços aqui mas faço um mea-culpa ; tenho uma visão negativa desde o processo de imigração e tudo o que sai errado em atendimentos e afins ganha uma lente de aumento pros meu olhos recém-imigrados .

Tudo bem que a política seja de dificultar a entrada de estrangeiros, mas a partir do momento em que começa-se a pagar (caro) por um visto, existe uma relação comercial, passamos de incômodo a clientes e deveríamos ter o direito a um bom servico prestado. Pelo menos, o de acompanhar o processo. Mas ainda parece que estão nos fazendo um favor! A relação continua sendo a de estorvo: teremos as respostas no tempo deles e ficaremos pelo menos 15 minutos pendurados no telefone...só com muita persistência e nervos de aço  é possível ficar a par sobre o andamento de qualquer serviço. E neste caso, não temos como procurar a concorrência.

Quão absurdo pode ser que alguém contrate um serviço (que deveria a priori, funcionar perfeitamente), tenha um problema e precise  esperar não-sei-quanto-tempo numa ligacão paga até ser atendendido para não ter seu problema resolvido. Isso quando você depositou seu dinheiro e confiança em determinada empresa.

Que tipo de relação fornecedor-consumidor é essa?
Que loucura é entrar numa loja, pedir ajuda a um vendedor e o sujeito virar as costas na sua cara e falar com a namorada por 5 minutos enquanto você espera para ser atendido?
Por que precisa-se marcar com um mês de antecedência para ter a cópia de um documento já existente quando o caso é de emergência?

O foco não está no cliente em nenhum momento mas no jantar com a namorada, nas férias dos funcionários (Deus nos proteja de urgências em julho!) e nos horários em que eles estão dispostos a trabalhar enquanto não estão bebendo café . Quando precisamos de ambtenaren* entao... Somos um detalhe. « O público que se dane »** A velha e boa burocracia brasileira em prédios high-tech, sem simpatia e sem jeitinho.

Talvez o real problema more não nos maus serviços mas na impossibilidade de se resolver as situações de uma maneira menos complicada. Talvez more nas estruturas rígidas que precisam ser seguidas e que não deixam espaço nem para a boa vontade atuar. Então, evitar expectativas e comparações pode poupar um monte de estresse. Porque atendimento ruim existe em qualquer parte do mundo e, infelizmente, enquanto se aprende a dançar conforme a música, incomoda mesmo. Mas se a situação passar de incômodo/implicância para algo mais sério, existem algumas organizações as quais consumidores que se sentem lesados podem recorrer. São elas :
www.nationaleombudsman.nl para reclamações sobre serviços públicos ; www.consumentenbond.nl para dicas e reclamações sobre serviços e produtos ; o site oferece também apoio judicial, a 10 euros para não- membros (entrevista inicial) e grátis para membros; www.npcf.nl para dicas e reclamações sobre serviços médicos e www.parlement.com para uma visão mais completa sobre todas as entidades que atuam na Holanda em defesa do consumidor.

Todos os sites são em holandês. Espero que, pelo menos nessas associações, consumidores sejam mesmo tratados como reis!

* servidores públicos
** « Frase usada pelo Comodoro Vanderbilt, industrial americano do século XIX  ao responder uma pergunta de jonalistas sobre as reclamações das comunidades que viviam a beira da estrada de ferro  construída pela sua empresa »

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