Resposta ao tempo
Luana Ferreira
Aqui quem vos escreve é uma jovem senhora de 31.4 anos, 6.4 a mais do que o registrado na minha certidão de nascimento. A Holanda me envelheceu! Quem me contou foi o site www.jeechteleeftijd.nl mais uma invenção dessa terra de gente que come duas porções de frutas e de vegetais por dia. Ao passo que eu me conformo em buscar uma vida mais saudável fazendo testes pelo computador.
Faço um mea-culpa, minha mente hiponcondríaca auto-diagnosticou o estresse que por si só já me garantiria alguns meses a mais como angina: “pressão no peito e dificuldade pra respirar” li enquanto ocupada pensando em como conciliar estatística, filosofia, casa nova imunda, trabalhos e quatro horas diárias dentro do trem...Bingo, essa aí sou eu! Angina purinha! Só essa deve ter me custado uns dois anos na escala evolutiva.
Outros fatores também foram preponderantes: mudança de casa, esporte zero, etc, etc .
Me aconselharam a entrar para uma academia e caprichar nos exercícios cardio-respiratórios, que segundo o mesmo website, preparariam melhor o meu coração para os trancos cardio-respiratórios da vida. Devia ser ao contrário!
E comecei não a pensar nos anos que ganhei de presente mas em como estou gastando o meu tempo nessa fase nova. Há exatos um ano e sete meses desembarquei em terras batavas e desde então minha vida é só correria. É um eterno “ter que”. Ter que aprender a língua, ter que conseguir um emprego, ter que viajar todo dia, ter que conseguir uma casa, ter que me integrar e ainda ter que ter tempo para a família e para não perder o contato com os amigos mais queridos. O tempo físico se sobrepondo ao tempo emocional.
E foi no quesito família e amigos que eu ainda acrescentaria mais uns 10 anos na conta do site. Duas perguntas me deixaram simplesmente arrasada: quantas pessoas importantes na sua vida moram perto de vc e quantas vezes por mês vc tem contato com elas?
Já se foi o tempo dos happy hours na sexta para espantar o estresse de uma semana de trabalho e estudo. Dos mergulhos revigoradores nas praias do Rio e arredores para uma semana cheia de energia. Dos sambinhas e chorinhos. Dos papinhos culturais e fins de tarde no CCBB. De tudo o que foi e não é mais.
Nessa conta emocional lembrei das amigas de infância, dos amigos do colégio, da faculdade, das pessoas que foram testemunhas da minha vida e que agora estão tão longe no tempo e no espaço. Dos almoços de domingo na casa da minha vó, das farras na praia, na montanha, na cidade. Da família sempre unida e da mãe que eu não vou mais encontrar quando voltar. Também das pessoas queridas daqui que mesmo mais perto ainda estão longe. Todas envolvidas nas suas próprias correrias para sobreviver nessa terra estranha.
Talvez seja a hora de encarar os fantasmas e viajar! Parar de adiar por causa das mil coisas urgentes e pendentes que TÊM QUE ser resolvidas por aqui. Enquanto lá as crianças crescem, os amigos casam, têm filhos, os avós esperam pela visita, que a cada ano pode concretamente ser a última.
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