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Raimer Rodrigues Rezende é mineiro de Belo-Horizonte estudou Antropologia – bacharelado - na Universidade de Amsterdã – UVA, e agora faz um mestrado de dois anos em Políticas Ambientais "Sustainable Development: Environmental Policy and Management" na Universidade de Utrecht.

 

Campanha holandesa sobre mudanças climáticas envia estudantes ao Brasil para aprender sobre o desmatamento

Raimer Rodrigues Rezende

 

Como os holandeses podem contribuir para diminuir o desmantamento na Amazônia e porque têm a obrigação moral de fazê-lo?

Estas foram duas das perguntas com as quais sete estudantes holandeses foram ao Brasil neste mês de agosto. A viagem foi organizada pela ICCO, organização não governamental holandesa que apóia vários projetos e instituições no Brasil, como por exemplo o Instituto Socioambiental (ISA), uma das ONGs brasileiras mais respeitadas. Os estudantes são especializados em diferentes disciplinas como desenvolvimento sustentável, hidrologia, jornalismo, relações internacionais e até teologia.

A viagem começou em Brasília, onde eles visitaram, além do ISA, o Ministério do Meio Ambiente, a Universidade de Brasília e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). Além de Brasília, o grupo também foi à Canarana (MT), à Querência (MT) e ao Parque Indígena do Xingu. Eles tiveram a oportunidades de conhecer pessoas ligadas ao governo, assim como líderes da sociedade civil, pequenos fazendeiros e os moradores de uma das aldeias indígenas dos Kinsedgi. Os últimos integrantes do grupo voltaram à Holanda no  domingo passado, munidos de muito material para estimular a discussão sobre o tema.

O que difere essa viagem de muitas outras missões estrangeiras que visitam o Brasil é que ela não tinha o propósito de apontar onde os brasileiros erram ao lidar com a Amazônia. O objetivo era ajudar os estudantes a entender a conexão entre o modo de vida na Holanda, com seu consumismo exacerbado, e o meio ambiente em outros países. Com esse projeto, a ICCO pretende formar sete embaixadores que ajudarão a divulgar a campanha FairClimate e conscientizar a população holandesa dos efeitos de seus atos em outras partes do mundo.

Mas isso não é tarefa fácil, porque o assunto é extremamente complexo, apesar de fascinante. Como a maioria das pessoas, a ICCO também acredita que as mudanças climáticas que ameaçam o mundo hoje são causadas pelo excesso de emissão de gases do efeito estufa pelo homem, sendo o principal o CO2. Sendo assim, o argumento central da sua campanha FairClimate é que os países ricos são os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas, já que são os maiores emissores desse gás. Por outro lado, os países mais pobres são os que mais sofrem com as consequências, já que são mais vulneráveis. Por essa razão, são os países ricos como a Holanda os primeiros que devem realizar esforços para reduzir a concentração de CO2 na atmosfera. Os holandeses devem, para isso, diminuir o seu consumo e mudar os seus hábitos, como, por exemplo, optar por formas de energia mais ecológicas e produtos mais ecologicamente corretos. Mas não pára por aí. Se partirmos do pressuposto que os recursos naturais do planeta devem ser divididos igualmente por todos os seus habitantes, mesmo com toda vontade política, a Holanda ainda demoraria muito para atingir níveis de emissão de CO2 per capita aceitáveis. Desta forma, não basta mudar seus hábitos. Os holandeses também devem compensar o excesso de emissão de CO2  que estão praticando.

Mas aí vem a pergunta: mesmo que a Holanda queira, como deve compensar isso? Vai pagar pra quem? E como ter certeza que o dinheiro vai ser usado de maneira correta? A melhor maneira de compensar seus excessos é investindo em desenvolvimento sustentável em países como o Brasil. Isso porque se todos os países seguissem o mesmo caminho de desenvolvimento da Holanda, precisaríamos de pelo menos 3 planetas Terra para dar conta da demanda por recursos naturais. Mas não seria ético comprometer o desenvolvimento econômico dos países emergentes exigindo que eles também reduzam suas emissões de CO2 como os países mais ricos. Por isso, a maneira mais ética de fazer com que eles não sigam o modelo de desenvolvimento insustentável, que a Europa seguiu para chegar onde está, é que a Holanda e os demais países ricos incentivem (e em parte financiem) desenvolvimento sustentável nos países emergentes.

A viagem ao Brasil mostrou ao grupo que iniciativas de desenvolvimento sustentável naquele país é o que não falta. Na verdade, o que é ainda deficiente são financiamentos e incentivos de mercado. O mercado hoje incentiva a desmatar para criar gado ou plantar soja. É para mudar essa situação que o ISA e o ICCO estão trabalhando juntos, pesquisando e promovendo, por exemplo, a agrofloresta, que permite a exploração da floresta em pé, evitando o desmate.

Eu sou um desses 7 estudantes holandeses. Apesar de ter nascido e crescido em Belo Horizonte, MG, eu moro e estudo na Holanda há quase sete anos. Mas também para mim a viagem foi uma experiência nova. Pela primeira vez fui ao Brasil para aprender o que eu posso fazer pela nossa amazônia daqui da Holanda. Espero poder passar da melhor forma possível o que eu aprendi nessa viagem. Quero começar publicando a cada semana uma pequena entrevista de uma série que fiz no Brasil de pessoas diretamente envolvidas com o combate ao desmatamento na Amazônia.

Para maiores informações sobre a campanha Fair Climate: www.fairclimate.nl


11/09/2008       

 

 

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