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Rodolfo Torres - Formado em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é jornalista e redator.  Mora em Brasília há dois anos e trabalha cobrindo a política nacional.
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Clima e fome



Brasília - E pela segunda vez, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recomenda a rejeição da prestação de contas de Lula e do PT. E vai lá entender por que razão os dois não são sinônimos nesse caso... É que parece que o candidato declara uma prestação, e o partido outra, sendo que um candidato não pode concorrer sem partido.

Entender o seu funcionamento de alguma coisa, nunca foi nem nunca será uma vocação do povo brasileiro. E isso não é lá de todo o mal. Existe uma beleza, uma harmonia toda peculiar em se viver sem compreender o que se passa. Os filósofos do cotidiano, inclusive, afirmam que esse é um dos segredos para os matrimônios mais felizes.

O fato é que o TSE rejeitou as contas de Lula por alguns problemas. Dentre eles, destaque para alguns problemas de conciliação bancária; doações de órgãos ou entidades vedadas pela lei; e recursos de origem não identificada. Na minha humilde opinião, o TSE pode chorar lágrimas de sangue, dizendo que as contas de Lula não batem, ou que ele recebeu doações de concessionárias de serviços públicos, ou o que for.

O TSE pode até mesmo dizer que Lula não venceu a eleição. Nada pode impedir que o petista assuma o cargo novamente. Do mesmo jeito que a oposição dizia que não existia clima político para que o pedido de impeachment fosse formalizado no auge do mensalão, com o mesmo raciocínio o PT pode alegar que não existe clima legal para a rejeição das contas do presidente. Ou as do PT. Ou as dos dois.

Essa conversa de ter ou não ter clima para algo é por demais sugestiva. Podem notar que as grandes decisões do Brasil são tomadas com a presença ou não do “clima”. Com os resquícios do “clima eleitoral”, foram aprovadas a recriação da Sudam, Sudene e Sudeco. Com clima foi aprovado o Fundeb. Mas para a eleição do TCU, não tinha clima que desse jeito para eleger o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

Outra coisa encantadora é a tal da “aprovação com ressalvas”. Quer dizer, a prestação de contas do candidato tem um errinho ou outro, uma irregularidadezinha ou outra, mas passa sem maiores problemas. Afinal, aqui não é a Alemanha para que tamanha rigidez seja cobrada. Como chegou a dizer o tesoureiro de Lula (ou seria o tesoureiro do PT?), se a média alcançada nessa prestação de contas ao TSE chegar a seis, está tudo certo.

Saindo do clima de prestação de contas, que nunca fecham muito bem, passemos para um caso também merece destaque: a greve de fome. O deputado João Correia (PMDB-AC) disse que fará greve de fome até que o seu processo seja julgado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Segundo o parlamentar, que é acusado de participação no esquema dos sanguessugas (aqueles deputados que apresentavam emendas ao orçamento para a compra de ambulâncias superfaturadas), ele vai ficar só na água até que a sua inocência seja provada.

O peemedebista disse que vai ficar no plenário até o bendito dia, e não está nem um pouco abalado com a possibilidade de ficar sem tomar banho até então. "Não tem problema, fico que nem gambá mesmo", profetizou. Ele já conseguiu autorização para dormir no plenário, e, segundo os seus cálculos, ficará por lá uns 11 dias.

- 12/12/2006



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