A eternidade pefelista
Rodolfo Torres
Brasília - Morei em São Paulo durante 1 ano. Um pouco menos do que isso, mas o suficiente para perceber que nasci em uma cidade litorânea por acaso. Me dou (o “certo” seria escrever dou-me) muito melhor com lugares que não são à beira-mar. Coisas de alma árida, ou algo próximo...
Tenho por São Paulo uma afeição rara. E é por conta desse carinho que me sinto suficientemente confortável para dizer que o episódio que envolveu o prefeito e um empresário num posto de Saúde da capital paulista é bastante emblemático.
Vamos ao fato. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), foi inaugurar uma unidade da saúde em um bairro qualquer da capital paulista. Ao perceber que a maior autoridade do município por lá se encontrava, um sujeito cujo primeiro nome é Kaiser, resolveu falar mal da administração municipal da maior cidade brasileira.
Kaiser estava esbravejando contra a gestão de Kassab, quando o prefeito partiu por cima dele e o enxotou da unidade de saúde como quem bota para correr um cão leproso qualquer. E para complementar, o prefeito chamou o cidadão de “vagabundo”. Não foi uma, nem duas vezes. Foram várias.
Recomposto parcialmente do susto, e após beber água com as mãos trêmulas que faziam pena, Kaiser explicou que estava naquele local em busca de tratamento odontológico. Ele estava com seu filho de sete anos e reclamava de uma lei municipal que proíbe a fixação de placas na capital paulista.
Kaiser tinha, ou tem, uma empresa de placas e, após a lei municipal paulistana, perdeu grande parte de sua renda, estando inclusive com o aluguel atrasado por três meses. Um pouco depois do ocorrido, o prefeito de São Paulo afirmou que a sua gestão é democrática e que ele não vai permitir que desrespeitem os doentes.
O grande ponto da administração de São Paulo é que Gilberto Kassab, para o cargo de prefeito da capital paulista, não recebeu um único e esquecido. Kassab era vice na chapa de José Serra, à época em que o tucano resolveu sair na disputa pela prefeitura de Sampa.
Serra, atualmente no cargo de governador do Estado de São Paulo, venceu a disputa com a então prefeita Marta Suplicy e passou apenas um ano e alguma coisa à frente do município. Kassab pegou a coisa pronta.
O mesmo aconteceu com o fabuloso Cláudio Lembo, que também é do PFL. Apenas para que fique registrado, sou fã assumido do ex-governador paulista Cláudio Lembo. Quando Geraldo Alckmin (PSDB) deixou o governo de São Paulo para concorrer ao Planalto, o pefelista tocou o barco. Só que Lembo jamais teria uma reação estúpida como a do prefeito Kassab. Lembo surpreendeu pela sua sinceridade, pela sua naturalidade e pelo seu jeitão todo particular.
No calor dos ataques do PCC à capital, e no calor das eleições presidenciais, lá estava Lembo à frente do maior Estado brasileiro. Ele, por exemplo, afirmava que Alckmin não ganharia a eleição contra o presidente Lula, quando o mínimo que se espera de um político é que ele diga que o candidato de um partido coligado ao seu seja o vencedor, independente dele achar isso ou não.
Podemos até dizer que, em São Paulo, o PSDB ganha, mas quem fica na história são os vices dos tucanos, os pefelistas, que surpreendem para o bem e para o mal.
-06/02/2007