Uma CPI inevitável
Rodolfo Torres
Brasília - Se não fosse o PFL, a vida do governo Lula seria muito mais fácil. Os pefelistas são para o governo Lula, guardando a devida proporção, tão ácidos quanto eram os petistas durante o governo FHC. Ou será que estamos esquecidos dos escândalos dos petistas diante de qualquer projeto do governo anterior? Daquela história do “Fora isso” ou “Fora aquilo”?
Destaco aqui a atuação de dois deputados do PFL no papel de oposicionistas: José Carlos Aleluia (BA) e Onix Lorenzoni (RS). O baiano é um parlamentar clássico do PFL: nordestino, cara de poucos amigos e um discurso pesado contra o PT.
Sempre que Aleluia vai à tribuna, podemos esperar palavras firmes e sensatas contra o presidente Lula. Aleluia, apesar da antipatia natural dos pefelistas nordestinos, tem o meu apreço. Na verdade é uma simpatia gratuita, porque não consigo encontrar motivos para gostar dele além do ataque pesado dele contra o governo.
Já o gaúcho é, podemos assim dizer, um fenômeno. Em seu segundo mandato na Câmara, Onix Lorenzoni já é líder do partido na Casa. E fala muito bem, e é combativo, e atua com tanta desenvoltura que mais parece que seu destino sempre foi o de ser líder do partido. Ainda acho que quando o Brasil deixar desta conversa besta de ter o PT no governo, o nome de Lorenzoni será fundamental.
Os dois deputados do PFL, juntamente com mais alguns outros - Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Júlio Redecker (PSDB-RS), etc – são heróis. Estes parlamentares são os responsáveis pelo equilíbrio democrático na Câmara. E, verdade seja dita, o PFL, o PSDB e o PTB são partidos de muito maior conteúdo na oposição (até mesmo por conta da experiência como governo) do que o PT era.
O PT no governo sempre tem aquela cara, aquele jeito, de estagiário. O PMDB, que é a muleta de todo governo, caminha, sabiamente, para onde o governo for. E qual seria o partido político capaz de desprezar cinco ministérios?
A oposição está obstruindo as votações no Congresso há quase duas semanas. Como também não é uma oposição profissional, ainda se votou um projeto sobre exploração sexual. Mas o fato é que os partidos oposicionistas querem mais do que tudo que a CPI do Apagão Aéreo seja instalada.
O governo não quer a CPI de jeito nenhum, até porque sabe que se alguém for mexer nessa história de dinheiro para aeroportos, vai aparecer coisa não muito agradável para a tal da governabilidade. Levaram a questão para o Supremo, que pede informações mais detalhadas ao Parlamento, que decidirá por meio da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) se o pedido de CPI é legítimo ou não.
A obstrução das votações, que é uma prática democrática e bastante utilizada pelo PT na época em que era oposição, seguirá até que essa questão da CPI seja decidida.
O governo até que tentou dizer que não era necessário criar uma CPI para investigar o problema. Até que outra série monstruosa de atrasos nos mais diversos aeroportos do país fez com que mais de uma centena de deputados não conseguissem chegar à Brasília a tempo de participar da sessão de hoje.
Agora, parece que a CPI vai sair. Viram que o atraso nos vôos também atinge as votações. E o governo precisa votar. Várias medidas provisórias trancam a pauta e precisam ser analisadas. E a oposição continua até que a CPI seja instalada, heroicamente, em obstrução.
-21/03/2007