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Rodolfo Torres - Formado em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é jornalista e redator.  Mora em Brasília há dois anos e trabalha cobrindo a política nacional.
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O mundo de sofisma

Rodolfo Torres



Brasília - Perdoem-me o trocadilho cretino do título desta coluna com aquele livro famoso, "O mundo de Sofia" que ensinou adolescentes do mundo inteiro a filosofar. Mas é que acredito nos trocadilhos cretinos. Eles são, e sempre foram, mais do que necessários para a vida em sociedade. O trocadilho desavergonhadamente ruim é a base de grande parte do nosso repertorio de risos, argumentos e crenças.

Além dos trocadilhos sem qualidade, também sou encantado com o tal do sofisma. Confesso que aprendi o significa desta palavra há apenas alguns anos. O problema é que ela me martela a consciência diariamente. Pareço criança quando identifico um sofisma. Olho para ele, aponto o dedo indicador, e digo: "É um sofisma". Para quem não sabe o significado desta palavra, aí vai ele: "Argumento que serve ao propósito de induzir alguém ao erro".

Talvez seja de uma antipatia "bushiana" o que vou dizer agora, mas essa conversa de "despertar a consciência" das pessoas por meio de diversos shows musicais ao redor do mundo, com a intenção de salvar o planeta, é equivocada. A consciência não pode ser tratada como um homem ocioso, que deve ser despertado para conseguir o dinheiro do seu sustento. A consciência, principalmente a coletiva, deve ser tratada como uma criança cheia mimada e estúpida.

Portanto, "despertar a consciência não seria o caso". Tanger a consciência me parece um termo mais apropriado para o caso. Mas chega de Live Earth e vamos tratar de outros sofismas mais brasileiros.  
O que falar a respeito do voto obrigatório no Brasil? Por que existem pessoas que sabem ler, que conhecem o significado de palavras como liberdade individual, cidadania e democracia; e ainda assim argumentam que o voto facultativo é algo ruim?

Por que existe essa imposição cruel de tornar todo um país cúmplice de atos reprováveis, como os que estamos cansados de assistir durante o noticiário? O Parlamento brasileiro, para variar, por uma profunda crise. Frases como "o Congresso não serve para nada" são mantras no pensamento do brasileiro. Para amenizar a situação, tentaram, sem sucesso, promover uma reforma política. Queriam convencer os eleitores de que eles deveriam votar nas eleições proporcionais (deputados e vereadores) em uma lista selecionada previamente pelos partidos. A proposta caiu. Depois, propuseram uma lista mista (apelidada de "lista flex"), na qual parte dos candidatos seria pela lista, parte candidaturas individuais. Caiu também.

E tudo isso por conta de uma proposta besta chamada financiamento público de campanha. Ora, nada mais antidemocrático, nada mais castrador de liberdades individuais do que impedir que o cidadão possa contribuir financeiramente com a campanha do candidato. Deixar que apenas o dinheiro público financie as campanhas eleitorais é ser cruel demais para com um povo que enxerga nas campanhas uma das poucas chances de trocar de dentadura.

Outro sofisma bem promissor é aquele "o sujeito, que fez o diabo, foi absolvido pelas urnas". Eleitor não é juiz, até porque o Poder Judiciário no Brasil é algo um tanto quanto restrito, reservado e, por que não dizer, inatingível. Prova disso é aquela máxima que tanta gente repete por aqui, e que também é um sofisma: "Lei não se discute, se cumpre". Então, partindo deste princípio, vamos acabar com o Legislativo...

Mas antes de encerrar esta superficial análise político-filosófica, quero também defender o sofisma. Como disse no início da coluna, sou encantado com argumentos cretinos que, por conseqüência, nos conduzem a um caminho de raciocínio mais cretino ainda. Contudo, morreríamos como sociedade sem idéias como "liberdade", "democracia", "família", "dinheiro", "trabalho", 
"felicidade", etc.

Afinal, como disse um dos mais importantes filósofos brasileiros, Nelson Rodrigues, escritor homenageado na edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip): "Toda coerência é, no mínimol suspeita".   

-11/07/2007


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