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Rodolfo Torres - Formado em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é jornalista e redator.  Mora em Brasília há dois anos e trabalha cobrindo a política nacional.
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A resistência de uma crise

Rodolfo Torres

 
         Brasília - Confesso que os Jogos Pan-Americanos me conquistaram. Também confesso que nos primeiros dias, antes do acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, torcia o nariz ao maior evento esportivo das Américas. Achava que as duas semanas seguintes não teriam notícia alguma, que nós jornalistas seríamos refém de notas de assessorias de imprensa, e que teríamos que apenas e tão somente olhar um monte de competições na TV.
 
         Daí veio a tragédia e pegou as editoriais de política de Brasília preparadas para um relaxamento merecido. E é claro que isto interfere na qualidade do trabalho, porque houve uma preparação para o marasmo que duraria mais de 15 dias.
 
         Creio que nenhuma profissão no Brasil tem a capacidade de ser tão maltratada quanto a de jornalista. Mas já que a classe é tão estupidamente desunida, e já que os patrões são tão exemplarmente covardes, vamos continuar a tecer nosso comentário tacanho sobre o vazio existencial que é a política brasileira.
 
         Após refletir alguma coisa sobre esta crise aérea - nada de muito profundo porque pensar não paga aluguel, e já há algumas décadas esta é uma atividade por demais desvalorizada - que completará o seu primeiro aniversário em setembro, teimo em dizer que o acidente em Congonhas está perdendo o seu fôlego como potencial de notícia. Quando setembro chegar, mês do acidente da Gol com o jato Legacy, seremos lembrados do acidente que desencadeou a crise.
 
         Lendo isto desta forma, no calor dos acontecimentos, alguém poderá dizer que este é um palpite suicida. Talvez até por conta disso eu esteja dizendo que a crise aérea será logo esquecida, tendo em vista que a credibilidade de um analista político é medida por sua capacidade de errar.
 
         Mas não é para fazer graça que digo que vamos esquecer muito em breve o acidente em Congonhas. Vamos esquecer rapidamente da tragédia maior de nossa aviação porque ressentimento coletivo útil requer um mínimo de instrução.
 
         Somos bons em alimentar rivalidade com os argentinos por questões esportivas. Mas apanhamos dos bolivianos nas questões energéticas. Somos doutrinados a odiar os americanos, mas permitimos sem qualquer esboço de resistência que o baixo clero da Europa inunde nossas garotas litorâneas com toda a sorte de doenças venéreas.
 
         Para a tranqüilidade de muitos religiosos, somos bons em oferecer a outra face aos que nos esbofeteiam. E cá entre nós, na situação em que nos encontramos, esquecer mais um desastre talvez seja a solução mais sábia. As chefias de reportagem conhecem muito bem a resistência do brasileiro para as notícias ruins em cascata.
 
         Não agüentaremos mais de quatro semanas de análises de especialistas a respeito da nossa crise aérea. Até porque muitos outros interesses se manifestam depois do calor dos acontecimentos. Esta é mais uma de nossas inúmeras crises que não têm pulmão para prosseguir muito adiante.  

 

-25/07/2007


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