Um mundo ainda mais triste sem Bergman
Rodolfo Torres
Brasília - Ingmar Bergman morreu. Assim como muita coisa boa nesta vida, o cineasta sueco também não está mais entre nós. E agora, seremos obrigados a conviver com os nossos dias sem a certeza de que um dos mestres da sétima arte poderá nos salvar.
Duvido que alguém tenha coragem de assistir a um filme de Bergman num domingo à noite, momento em que costumamos refletir a respeito de nossa existência com uma obstinação maior do que a de costume.
A verdade é que não há ser humano que assista a um filme de Bergman num domingo a noite sem sair dilacerado emocionalmente. A mesma coisa se aplica para os livros de Dostoievski.
Meu último contato com o diretor foi no site Youtube. Na pequena tela do computador, ele conversava com atores sobre como deveriam proceder para que determinada cena fosse feita. E ele, gênio que era, sorria. Certa vez, também vi uma entrevista em preto e branco. Nela, dois jovens cineastas que rasgavam elogios um ao outro: Ingmar Bergman e Federico Fellini.
Atualmente, me identifico mais ainda com a obra de Bergman pela melancolia, pela tristeza cuidadosamente construída de se saber ser humano. Não posso dizer que o meu trabalho tem alguma relação com Bergman no sentido da profundidade. Na tristeza, tudo bem. Afinal, o que é a cobertura política se não uma superficial sucessão sem fim de mais e mais tristezas.
Aliás, acho que a tristeza traz consigo uma enorme capacidade redentora. Somente quem consegue conviver com a tristeza é capaz de pensar em alçar vôos maiores. Seja enquanto indivíduo, seja enquanto povo.
O brasileiro, por razões das mais variadas, não cultua a tristeza. Ou a cultua de uma forma equivocada. A cobertura política, por exemplo, deveria ter clima de velório. Um funeral constante, um luto contínuo.
A política brasileira é triste e superficial. E tentam torná-la alegre e profunda. Sim, a cobertura política merece ser tratada com pelo menos um pouco mais de sinceridade. E, caso seja desta forma, será triste ler o noticiário de Brasília.
O mundo perdeu um dos seus grandes homens nessa segunda. E obras com o conflito psicológico de uma “Sonata de Outono” (se não me engano, o filme foi gravado inteiramente em uma sala, com uma marcação de personagens bem próximo ao do teatro); “Morangos Silvestres” (onde a atmosfera de sonho produz relógios sem ponteiros e visitas saudosas aos amores juvenis); e Fanny & Alexander (a rigidez na educação de um garoto que, mais tarde, encantaria o mundo com uma tal de lanterna mágica); encontrarão na posteridade seu devido lugar.
Só espero que as novas gerações tenham paciência de digerir os filmes de Bergman. Para o bem de toda a humanidade, isso é mais do que fundamental. É imperativo.