Brasil recebe inédito “investment grade” de agência internacional
Rodolfo Torres
Brasília - Pela primeira vez na história, o Brasil recebeu de uma agência internacional de classificação de risco o investment grade (grau de investimento, em português). Nessa quarta-feira (30), véspera do Dia do Trabalho, a Standard & Poor's elevou a classificação do Brasil para os investidores internacionais. Com o novo grau de investimento, a tendência é que mais instituições e investidores estrangeiros apliquem seus recursos em papéis da dívida brasileira.
O governo brasileiro comemorou a notícia. Para o presidente Lula, o grau de investimento concedido é um sinal de que o Brasil “foi declarado um país sério”.
“Se formos traduzir para uma linguagem que todos os brasileiros entendam, poderia dizer que o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que por isso passamos a ser merecedores de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava", afirmou o petista
De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o anúncio é ainda mais importante porque o mundo passa atualmente por um momento de tensão, devido a crise no setor imobiliário americano.
Para Mantega, é difícil encontrar um país que reúna as condições que o Brasil apresenta, como solidez do mercado, inflação controlada e economia saudável. “O Brasil tem tudo a comemorar”, declarou. “O Brasil entra no grupo de países mais respeitados e com economia mais sólida”, complementou.
Ele também afirmou que o anúncio deve ajudar o país a reduzir a taxa de juros, além do chamado "risco-país" - índice que mede o grau de confiança do investidor estrangeiro no país. "O efeito do grau de investimento é reduzir as taxas de juros, reduzir o custo de captação para o Brasil."
O ministro da Fazenda aproveitou a oportunidade para confirmar o aumento do diesel nos postos brasileiros em 8,8% a partir da próxima sexta-feira (2). Isso se deve porque a Petrobras reajustou, na refinaria, em 10% o preço da gasolina e 15% do diesel. Contudo, Mantega garantiu que o custo para o consumidor não irá subir, no caso da gasolina, pois o governo irá reduzir o tributo sobre combustíveis, a Cide. Entretanto, o diesel terá uma variação no preço da bomba em torno de 8,8%.
Sobre a elevação do preço dos alimentos no mercado mundial, Guido Mantega destacou que o governo prepara um pacote para estimular o consumo interno e as exportações de alimentos.
Para ele, esse cenário de aumento nos preços dos alimentos é uma oportunidade para o país. “O governo vai tirar proveito da crise. O Brasil é o país que mais pode aumentar a oferta de alimentos”, disse Mantega. A intenção de aumentar a produção de alimentos é compartilhada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Em audiência na Comissão Mista de Orçamento nessa semana, Bernardo afirmou que o Brasil pode assumir papel de protagonista numa eventual crise mundial, ampliando a oferta de alimentos. “Talvez o Brasil tenha as melhores condições para expandir a produção de alimentos. Precisamos aumentar a produção”, disse. A declaração foi uma resposta a um recente comentário do relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler.
Segundo Ziegler, os biocombustíveis (um dos pilares do governo brasileiro na questão energética) representam um "crime contra a humanidade", tendo em vista que, em seu ponto de vista, as áreas destinadas ao plantio poderiam ser usadas na agricultura.