PRIMEIRO INVERNO, PRIMEIRO VERÃO
Sérgio Godoy
Ao trocar Londres por Amsterdã senti-me bastante inseguro por diversas razões: nova cultura, nova língua e novo relacionamento. Meu parceiro prometia auxiliar-me com a adaptação, e como não existe outra saída: adapta-se ou perde-se, aos poucos adaptei-me.
Cheguei em alto verão, que por grande sorte, estava sendo o melhor nos últimos cinco anos. A cidade repleta de turistas, flores, músicos nas ruas, bares e parques lotados com diferentes nacionalidades e, principalmente Holandeses, felizes pelo sol brilhar tão quente no país das tulipas.
O inverno mostrou-me um outro lado da cidade; às vezes escuro e úmido. Outras vezes absolutamente romântico, com as águas dos canais congelados e uma paisagem quase que intocável.
O comportamento do Holandês já não refletia a mesma amabilidade exposta no verão. Simpáticos, mas distantes.
Aos poucos fui desenvolvendo meu interesse pelos grandes mestres da pintura Holandesa; Rembrandt, Vermeer, Jan Steen. Aprendi a história do país e absorvi com entusiasmo a mentalidade progressista, liberal, onde a justiça é para um e para todos, igualmente.
Agora, depois de tantos verões e invernos passados, encontro-me mais confiante para discutir "minha" posição dentro do país em que vivo. Posso analisar melhor as situações e comportamentos, sem esquecer minhas raízes, meu lugar de origem, minha própria história.
Obviamente há falhas na sociedade Holandesa; pessoais e política. No momento o governo é composto por políticos mais conservadores. Existe um grande problema junto à imigração, a criminalidade cresceu nos últimos anos etc.
Mas o importante é manter a mente aberta para dar e receber. Acredito também que caminhar pelo mundo tem me feito uma pessoa melhor, mais solidária e crente no ser humano.