O BRASIL DAS LETRAS
Sérgio Godoy
Parati
ou Paraty? Não importa, escreva como desejar. É um
dos meus preferidos lugares nesse planeta. Julho passado
essa histórica cidade recebeu grandes nomes da literatura
internacional para sua primeira Festa Internacional de Literatura.
Foram
cinco dias onde celebrados autores não só discutiram
seus trabalhos mas também participaram de leituras
de poemas, deliciaram-se com a música brasileira e
degustaram a gastronomia da região. Ali estiveram,
entre outros, Paul Auster, Siri Hustvedt, Margaret Atwood,
Martins Amis, Colm Tóbín e o novelista angolano,
José Eduardo Agualusa. Brasil, que sem dúvida
possui uma grande tradição literária
apresentou com orgulho os dois autores mais lidos no território
nacional; Moacyr Scliar e Luis Fernando Verissimo. Levou
ainda a grande dama da nossa literatura, Lygia Fagundes Telles.
Sérgio Sant’Anna e Luiz Vilela também
participaram. Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso marcaram
presença não só com suas músicas
mas também com seus textos.
O festival
foi organizado por Liz Calder, uma britânica
que foi a fundadora da famosa Bloomsbury e que ajudou na
carreira literária de Julian Barnes and Salman Rushdie.
Liz viveu em São Paulo durante os anos de 1960 e por
mais de dez anos visitou Parati constantemente, e em suas
próprias palavras define o Brasil sem o mesmo clichê usado
por muitos estrangeiros; “A verdadeira sensualidade
do Brasil está em sua literatura!”.
Brasil
que é o quinto maior país do mundo
em tamanho e população traz uma riqueza literária
maior que qualquer outro país da America Latina, mesmo
assim nunca conseguiu um reconhecimento mundial como o colombiano
Gabriel Garcia Márquez ou o peruano Mario Vargas Llosa.
Ainda assim o Brasil produziu um de seus melhores modernistas
como Joaquim Maria Machado de Assis. Depois veio João
Guimarães Rosa e o grande popular Jorge Amado. Provavelmente
o único autor que cruzou tantas fronteiras foi Paulo
Coelho. Mas Paulo é considerado um fenômeno
de mercado e por isso mesmo chega a ser listado como uma “literatura
vagante”.
Infelizmente,
no Brasil o analfabetismo ainda é um
dos grandes problemas; entre seus 180 milhões de habitantes,
treze por cento são iliteratos. O preço de
um livro varia entre $10 e $15 dólares, representando
uma quinta parte de um salário mínimo. Na Argentina,
com um número menor de população possui
um mercado editorial duas vezes maior que o nosso. Com tantas
dificuldades o Brasil vai passando por cima de barreiras
e expandindo-se, aos poucos, dentro do mercado literário.
Novos
livros estangeiros estão sendo traduzidos
e publicados em curto prazo de tempo. Recentemente a biografia
de Churchill, por Roy Jenkins vendeu 18.00 exemplares e até mesmo
o péssimo Dan Brown com O código de Da Vinci,
vendeu 50.00. O resultado positivo de tudo isso é que
editores estrangeiros agora começam a investir no
mercado brasileiro.
E sobre
um dos mais populares gênero da literatura
brasileira, João Ubaldo Ribeiro diz : “ Quando
se é necessário descobrir a realidade que a
maioria dos brasileiros confrontam no dia a dia, não
existe nada melhor que ler crônicas. Crônica
que fica entre o jornalismo e o confessional pode ser sobre
qualquer assunto.” FLIP
foi um sucesso e Liz Calder diz que no próximo
ano fará uma grande homenagem à brilhante Clarice
Lispector. Houve também algumas reclamações
por parte dos “poderosos ricos de São Paulo” que
não gostaram de ver Paraty invadida por tão
excessivo número de pessoas… Estando
aqui em Amsterdã não foi fácil
engolir a vontade de estar lá. Como foi que eu soube
do evento? Através da internet e de um artigo publicado
no Financial Times que um amigo me enviou. Nada foi mencionado
no mais importante jornal Holandês, o NRC, provando
mais uma vez que a imprensa Holandesa mantém olhos
obscuros aos acontecimentos culturais do Brasil; país
que ainda é representado em vários artigos
como violento e inculto.
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