O
Chá das Lembranças
Sérgio Godoy
Muitas
vezes discutimos a vida e conseqüentemente
todas as suas glórias. Raramente
mencionamos a morte: “A vida está aí para
ser vivida!” Mas todos nós
somos conscientes do término de
nossa existência. Somos livres
para crer ou não em uma continuidade
do espírito, na imensidão
do universo. Somos livres para agir de
acordo com nossos padrões sociais
e religiosos. Aprendemos que viver no
presente, corrigindo nossas falhas, é o
caminho para um futuro melhor. Obviamente
não há razão para
pensarmos no término da vida,
mas para vivermos intensamente, fazendo
planos e direcionando nossas conquistas.
A
morte é repleta de misticismo
porque sabemos tão pouco a seu
respeito. Mas como disse Mário
Quintana: “Morrer, que me importa?
O diabo é deixar de viver. A vida é tão
boa! Não quero ir embora...”
Na
semana passada eu estava com minha
bicicleta numa pequena reserva natural,
próxima a Amsterdã, quando
descobri um bonito cemitério rodeado
de árvores frondosas. Era um cemitério
católico e o que me chamou a atenção
foram os nomes inscritos nas lápides,
em sua maioria estrangeiros. Deparei-me
com o túmulo de um brasileiro,
onde li seu nome, data e local de nascimento.
Gravado em letras douradas, a seguinte
frase: “Com eterna saudades de
sua mãe e irmãos.” Senti-me
bastante sensibilizado por essa imediata
relação com um compatriota
que provavelmente vivera aqui. Caminhei
por outras alamedas até chegar
ao portão principal e ir-me embora
em busca da cidade, onde o movimento
das pessoas nas ruas faria com que eu
me esquecesse dessa estranha sensação.
Há na Holanda quatro cemitérios
onde bonitas casas de chá foram
projetadas com janelas largas, cadeiras
confortáveis e belos jardins.
A idéia surgiu depois de uma longa
pesquisa onde se constatou que muitos
visitantes tinham como opção,
depois de longas e tristes horas, somente água
da torneira para beber. Na Europa existe
o famoso “Turismo no cemitério” (em
holandês: Begraafplaatstoerism)
- as visitas aos túmulos de personalidades
famosas. Isso é um tributo à história,
a épocas passadas, no local onde
grandes nomes “dormem” ao
lado de desconhecidos. Em Paris visitei
o “Cimetière du Père
Lachaise” e obviamente as tumbas
de Oscar Wilde, Sarah Bernhardt, Honoré de
Balzac, Marcel Proust, Colette e Edith
Piaf. Tive o prazer de olhar para os
blocos de pedra e doar um sorriso de
agradecimento àqueles cuja arte é um
legado às eternas gerações.
Não! Alí, não pude
tomar chá ou comer uma torta de
maçã.
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